Politica

Empresas de comprador do tríplex têm contratos com o setor público

Em junho do ano passado, a FCG, empresa da qual Fernando Costa Gontijo é sócio, demonstrou interesse em uma licitação da Terracap para a compra de um imóvel avaliado em R$ 3,5 milhões

Renato Souza
postado em 16/05/2018 06:00
Tríplex que seria de Lula na praia do Guarujá, segundo acusação do MP: ex-presidente é suspeito de ter recebido o apartamento como propina
O imóvel que é peça central das acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter um novo dono em menos de três dias. Um empresário do ramo imobiliário do Distrito Federal arrematou o triplex do Guarujá (SP), atribuído ao petista pelo Ministério Público Federal (MPF). Fernando Costa Gontijo é dono da Guarujá Participações, uma empresa que foi criada justamente para a compra do imóvel paulista. Ele também figura como sócio na FCG Comércio, Turismo e Serviços e de outras empresas, no ramo de imóveis. Faltando quatro minutos para o fim do leilão foi vendido por R$ 2,2 milhões. A compra só será confirmada quando o valor for depositado na conta aberta pela Justiça.

O prazo para a primeira negociação terminou às 14h de ontem. Até o momento da venda, 60 mil pessoas visualizaram a proposta. O comprador tem o prazo de 72 horas para fazer o pagamento do valor definido durante a concorrência. De acordo com a Marangoni, que realiza o leilão judicial, houve uma outra oferta, horas antes do fim do prazo. Mas o participante informou que fez o lance por engano e foi retirado da concorrência pelo juiz Sérgio Moro, da 13; Vara Federal de Curitiba.

O Correio apurou que as empresas nas quais Fernando Gontijo é sócio possuem diversos contratos com o setor público, principalmente com o Governo do Distrito Federal. O montante destinado à compra do apartamento no Guarujá está longe de ser a compra mais ousada do empresário. Em junho do ano passado, a FCG demonstrou interesse em uma licitação da Terracap para a compra de um imóvel avaliado em R$ 3,5 milhões.

O ex-presidente Lula é acusado pelo MPF de ter recebido o apartamento em forma de propina da construtora OAS. Por conta disso, ele foi condenado em primeira instância a nove anos e seis meses de cadeia, pela Justiça Federal do Paraná. Na segunda instância, o petista recebeu uma pena ainda maior, de 12 anos e um mês, definida pelo Tribunal Regional Federal da 4; Região (TRF-4).

O apartamento que Lula teria recebido como propina fica no Edifício Solaris, no bairro do Guarujá, em São Paulo. Antes de ser assumido pela OAS, o imóvel era da cooperativa de crédito do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a Bancoop, que decretou falência em 2010. A defesa de Lula admitiu em audiência que a ex-primeira dama, Marisa Letícia, tinha a intenção de comprar uma cota do empreendimento. No entanto, teria desistido assim que a Bancoop faliu e a OAS assumiu a reforma do imóvel.

Após assumir o imóvel, a OAS realizou reformas no apartamento, que de acordo com o MPF custaram cerca de R$ 1 milhão. As reformas teriam ocorrido em 2014, mesmo ano em que o então presidente da empreiteira, Léo Pinheiro, foi preso pela Polícia Federal. Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, tinha pago cotas referentes ao apartamento. Ela chegou a entrar na Justiça contra a Bancoop solicitando direitos sobre o imóvel.

Preocesso

Lula foi alvo de uma condução coercitiva, a pessoa é obrigada a depor, em 2016. O juiz Sérgio Moro queria que o petista prestasse esclarecimentos sobre o suposto recebimento do imóvel. Em agosto do mesmo ano, Lula e Marisa foram indiciados, ele respondendo por corrupção, falsidade ideológica e desvio de dinheiro. A ex-primeira-dama foi retirada do caso após sua morte. Ela foi vítima de um AVC, em fevereiro do ano passado.

No processo do imóvel, o MPF sustentou que Lula recebeu R$ 3,7 milhões da OAS, de um total de R$ 87 milhões que foram repassados como propina para políticos e demais envolvidos no esquema investigado pela Operação Lava-Jato. Os repasses, de acordo com a denúncia, ocorreram entre 2006 e 2012.

Com uma vista privilegiada para a praia, o imóvel tem 12 cômodos, sendo quatro salas, quartos, espaço para empregados, saunas, um quarto com suíte e um deck com piscina. Caso o imóvel não fosse arrematado ontem, haveria uma segunda tentativa de venda. Desta vez, o valor seria menor, de R$ 1,76 milhão. No entanto, até o fim do processo do leilão poderia sair mais caro, caso ocorressem mais ofertas por parte de outros interessados.

Os recursos adquiridos com a venda serão repassados para a Petrobras. A finalidade da Justiça é ressarcir a empresa pública das perdas bilionárias que ocorreram com a realização de contratos fraudulentos, desvios e compra de outras refinarias para beneficiar envolvidos em corrupção. O comprador pode dar a destinação que achar necessária para o tríplex. A empresa que fez o leilão tem direito a uma cota de 5%, que neste caso fica em torno de R$ 110 mil. Caso o pagamento não seja realizado, um novo leilão é realizado. O preço pode ser reduzido, para atrair mais interessados. O valor inicial do leilão foi definido pela Justiça após consultar diversos corretores com experiência na venda de grandes empreendimentos.

Em entrevista a Agência Estado, Fernando Gontijo afirmou que comprou o imóvel por conta da localização e da capacidade de valorização futura do preço. "O tríplex tem mais de 200m2, uma vista privilegiada e, por trás dele, existe uma história. É uma aposta, mas acredito que pode ser um bom negócio", disse.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação