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Após entrevista de Temer, caciques dizem que divisão afeta pré-candidatos

Depois da entrevista de Temer ao Correio, em que defende pacto para um nome do centro, caciques partidários e especialistas concordam: divisão na campanha aumenta desidratação dos pré-candidatos. Escolha deve sair durante o mundial de futebol

Rodolfo Costa
postado em 19/05/2018 07:00
Enquanto a atenção dos brasileiros estará voltada para os jogos da seleção na Rússia, os políticos do MDB, PSDB, DEM se concentrarão nas eliminatórias para a definição de uma candidatura única. A viabilidade de uma campanha unindo os principais partidos do centro foi defendida pelo presidente Michel Temer em entrevista ao Correio, publicada na edição de ontem, e encontra respaldo na avaliação de especialistas e caciques das legendas. A expectativa dos partidos é impedir a desidratação do candidato escolhido e evitar que as pré-candidaturas de esquerda e de direita cresçam demais.

O objetivo em comandar o governo nos próximos quatro anos está para os partidos de centro assim como a meta do hexacampeonato para a Seleção Brasileira. Mas o jogo político é ainda mais complexo. Se há união entre os atletas e um único treinador para comandar o elenco canarinho nos gramados, o mesmo não se pode dizer entre as legendas do centro. Entre eles, há pelo menos seis nomes postulando o cargo de presidente. Cada um com um comando e posições internas. O debate sobre quem os liderará, no entanto, deve ficar somente para o fim da Copa do Mundo, na metade de julho.

A ideia dos partidos é aproveitar o período de quase um mês que compreende o evento esportivo para analisar minuciosamente o apelo das pré-candidaturas junto à população nos estados. Será uma espécie de termômetro para avaliar quem tem mais chance para comandar o centro. As pesquisas eleitorais terão um peso importante, mas não determinante. Líderes do DEM e do MDB, por exemplo, consideram que ainda é cedo usar as estatísticas de intenção de votos para bater o martelo, sem explorar junto à base eleitoral o potencial das pré-candidaturas.

O poder de convencimento das legendas e do respectivo presidenciável em reunir o maior número de partidos é o que determinará o jogo político do centro, avalia o analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice. Para ele, a disposição interna do partido em apoiar a pré-candidatura presidencial também será um fator importante. ;Não é barato bancar uma candidatura ao Palácio do Planalto, sobretudo após as mudanças de financiamento de campanha. Por isso, um entendimento interno em torno do presidenciável é fundamental;, pondera.

A avaliação de Noronha é que a compreensão interna no partido fortaleça o pré-candidato com apoio de palanques estaduais fortes. Dessa forma, será possível vislumbrar a composição de alianças em torno de um único presidenciável. Para o cientista político, o DEM deve canalizar os recursos em campanhas para governador, senador e deputado federal, não privilegiando, assim, a pré-candidatura de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados.

Divisão
No MDB, a divisão dentro do partido e a impopularidade de Temer comprometem uma pré-candidatura própria. Diante disso, quem mais tem espaço para crescer é Geraldo Alckmin, do PSDB, pondera Noronha. ;Se houver uma disposição do partido em canalizar parte dos recursos na pré-candidatura dele, é possível ele atrair legendas como PTB, PSD, DEM, PR, PP, PPS e o Solidariedade;, ponderou.

A principal dúvida é sobre o apoio do MDB a Alckmin. O presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR), avalia que uma candidatura se viabiliza se o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles atingir 10% das intenções de votos até julho. Mas a resistência interna a um nome próprio pode comprometer até mesmo uma possível campanha do ex-comandante da equipe econômica. Na cúpula do partido, no entanto, há quem defenda o contrário. ;O MDB terá um candidato;, sustentou o deputado federal Darcísio Perondi (RS), vice-líder do governo na Câmara.

O aliado de Temer concorda com o presidente que o centro precisa de um candidato único. Qualquer decisão de embarque ou não do MDB a uma outra pré-candidatura será feita somente em julho. Até lá, as conversas, que estão em curso, serão intensificadas. ;O Brasil não pode sofrer uma parada ou um retrocesso com candidaturas radicais. Por isso, ter um candidato com visão reformista é fundamental;, destacou.

A expectativa de evitar dar espaço para candidaturas de esquerda e de direita, tidas como radicais, é um anseio que pode unir os partidos, admite o tucano Alberto Goldman, ex-presidente do PSDB e ex-governador de São Paulo. ;É o desejável por aqueles que querem e têm responsabilidade com o país e não desejam um quadro de segundo turno polarizado entre duas candidaturas extremas;, disse. A decisão do centro em lançar Alckmin é vista por ele como o natural caminho. ;É o que melhor representa uma solução que se pode pensar de avanço do futuro sem nenhum grau de radicalização;, ponderou.

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