Rodolfo Costa , Letícia Cotta*
postado em 21/05/2018 06:00
Incentivados pela boa colocação nas pesquisas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência da República, pelo menos 71 oficiais da reserva e da ativa querem postular um cargo eletivo nos 26 estados e no Distrito Federal neste ano. O número ainda é inferior às 127 candidaturas registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2014. A diferença está no grau de relevância dos cargos almejados.
Dos militares que concorreram há quatro anos, 26 tentaram uma vaga na Câmara dos Deputados, um tentou o Senado Federal, e um formou chapa como vice-governador, ou seja, 20% dos candidatos tentaram um cargo de alto escalão. Em 2018, das 71 pré-candidaturas, 42 pleiteiam um posto de mais prestígio nas esferas estadual, para governador (5), e federal, entre deputados (34) e senadores (3). Logo, 59% dos candidatos nestas eleições pretendem postular cargos eletivos mais ambiciosos. O percentual elevado de militares que almejam voos mais altos na política é um fenômeno inédito desde a redemocratização.
É comum profissionais ligados à área de segurança pública participarem das eleições, como policiais militares, civis e federais, delegados civis e federais, bombeiros e guardas municipais, mas não militares. A Câmara dos Deputados conta com 22 parlamentares com origem profissional em alguma dessas categorias. A quantidade de militares no Congresso, no entanto, é pequena. Apenas dois deputados têm origem na carreira militar: o próprio Bolsonaro e Tenente Lúcio (PR-MG), ambos da reserva do Exército. Ou seja, a depender do sucesso dos militares que disputarão o cargo de deputado federal, o quadro de ex-oficiais das Forças Armadas pode aumentar consideravelmente no Congresso Nacional.
A esperança dos oficiais de vencerem as eleições está ancorada na ideia de se posicionarem como candidatos que vão combater a violência e a corrupção. A percepção de insatisfação popular com os sucessivos escândalos na vida pública, além do aumento do conservadorismo e da presença dos militares na intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro serviram como combustível para impulsionar o desejo dos membros das Forças Armadas de se aventurar na política.
O sucesso dos candidatos militares nas eleições não é uma situação improvável. Para o diretor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Calmon, eles têm possibilidades como quaisquer outros candidatos. ;Há viabilidade, mas depende das circunstâncias, da personalidade, do carisma, da competência, da história de vida de cada um. Mas eu trataria a pré-candidatura de um militar de forma semelhante à de qualquer uma vinda do setor público ou federal de maneira geral;, pondera.
Entre os postulantes, a maioria não tem carreira ou experiência política. As poucas exceções, além de Bolsonaro e de Tenente Lúcio, são: o capitão Éverton Araújo, pré-candidato a deputado federal pelo PRP do Piauí, que já foi vereador do município de Simplício Mendes; o general de brigada Girão Monteiro, que visa à Câmara dos Deputados ou o governo do Rio Grande do Norte, e foi secretário de Segurança do estado em 2014; e o general Sérgio Roberto Peternelli, pré-candidato a deputado federal pelo PSL de São Paulo, que foi secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, e indicado para presidir a Fundação Nacional do Índio (Funai).
A inexperiência na vida política, entretanto, não é avaliada por Calmon como um ponto negativo. Ele ressalta que todo político inicia o mandato em condições semelhantes. ;Muitos começaram sem qualquer experiência. Militares, por seu próprio treinamento e função, possuem determinadas habilidades que podem, eventualmente, ser muito úteis em uma campanha política e no exercício do mandato;, avalia.
Motivação
O ;efeito Bolsonaro; é notório no estímulo a candidatos originários do meio militar. A força eleitoral do presidenciável motiva direta ou indiretamente a maioria deles. Entre os pré-candidatos, pelo menos 26 são do PSL, partido do deputado federal. Outros ainda estudam embarcar na sigla. Mesmo militares filiados a outros partidos nutrem apreço e não descartam a possibilidade de estreitar alianças políticas com Bolsonaro. É o caso do general Paulo Chagas (PRP), pré-candidato ao governo do Distrito Federal (GDF).A proximidade com Bolsonaro não poderia ser diferente, pondera Chagas. ;No momento em que os militares se colocam à disposição para incursionar nessa área (política), é natural que se aproximem daquele que já está lá e tem a experiência, o conhecimento, para que mostre o norte;, avaliou.
O PRP está negociando apoio com o PSL no DF para garantir palanque a Bolsonaro e impulsionar a candidatura de Chagas. Para o pré-candidato distrital, ter o presidenciável no apoio seria algo positivo. ;É muito importante, pois mostra que temos identidades de propósitos;, pondera. Para Chagas, além disso, a candidatura ao GDF pode ser reforçada pelos valores conservadores de que ambos compartilham.
Além de convicções ideológicas em comum, Bolsonaro lidera as intenções de votos na capital federal. ;Ele é o candidato com as melhores perspectivas. A probabilidade de o eleitor que vota nele também votar em mim é grande. Acho excelente que ele me apoie;, diz Chagas.
* Estagiária sob supervisão de Odail figueiredo