Rodolfo Costa
postado em 23/05/2018 10:21
O MDB bateu o martelo e definiu ontem Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, como o nome do partido na disputa pela Presidência da República. A opção era dada como certa entre emedebistas como forma de unir a legenda em torno de uma opção mais viável em termos de recursos e viabilidade. Com a decisão, sai de cena o presidente Michel Temer, marcado pela alta impopularidade por ser alvo de investigações da Polícia Federal, e assume um presidenciável que possa bancar a própria campanha e que é menos reprovado internamente e pelo eleitorado.
A possibilidade de Meirelles custear a própria pré-candidatura foi um elemento decisivo para a escolha do partido. O movimento foi comandado pelo presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR), que trabalhou o nome do ex-ministro com deputados, senadores e presidentes de diretórios estaduais da legenda. A ideia é que, com o ex-ministro cobrindo a campanha, de até R$ 70 milhões, abre espaço para que os recursos do fundo partidário sejam distribuídos entre demais candidaturas.
O fortalecimento de Meirelles no partido vai além do poder financeiro. A análise é de que, se ele não conseguir trazer votos, ao menos não ;atrapalhará;. Uma visão oposta à de Temer, que é tratado como um candidato ruim de se vincular à imagem, em decorrência das investigações em andamento. A relação entre o presidente e Meirelles está sendo trabalhada pelo partido nos mínimos detalhes, mas eles permanecerão com uma sintonia bem alinhada.
Temer disse que o aliado é o ;melhor entre os melhores; e tem ;todas as condições de estar à frente não só do nosso partido, mas da campanha eleitoral;. No entanto, após o discurso de Temer, não houve um gesto simbólico da ;passada de bastão;. Sem quaisquer gestos clichês, mas tradicionais em anos eleitorais, de braços unidos e levantados entre ambos. Uma sucessão tímida, mas relevante para desassociar uma imagem da outra.
O MDB ainda esboça junto a Meirelles um discurso que faça essa desassociação. A ideia é alçá-lo não apenas como um defensor do legado governista, mas como o grande responsável por ter tirado o país da recessão. E a retórica do presidenciável está afiada para rebater as declarações de que o emprego ainda não decola. ;Nós temos que olhar os dados econômicos de uma maneira analítica. Até abril, foram criados mais de 200 mil empregos formais. Isto que é relevante, pois significa que a economia está crescendo;, argumentou o ex-ministro.
A atuação de Temer na corrida eleitoral será focada em manter o desenvolvimento do país nos próximos meses. O objetivo é que, se concentrando em manter a recuperação do país, Meirelles ganhe de bandeja os benefícios. Diferentemente do que se imaginava, ele não assumirá um papel de coordenador, explicou Jucá. ;Ele vai governar. É importante o resultado do governo. Tem que continuar mantendo (o que foi feito), mas vai colaborar da forma como puder;, disse.
Unificação
A viabilidade eleitoral de Meirelles não é um cenário impossível. Mas dependerá, sobretudo, de o partido usar os recursos, exposição pública, colocá-lo nos eventos e usar a estrutura da legenda para emplacá-lo de norte a sul junto aos diretórios estaduais, sustenta o analista político Murilo Aragão, sócio da Arko Advice. ;Vai depender muito do desempenho nas pesquisas. Se ele conseguir emplacar entre 5% a 6% da intenção de votos nos próximos dois meses, é possível se fortalecer e até unir o centro em torno dele;, avaliou.
A unificação do centro não será uma tarefa fácil, e demandará, sobretudo, o apoio de todo o partido a Meirelles. Para isso, será preciso convencer caciques do Nordeste. A solução para isso, aposta o MDB, está no documento ;Encontro para o Futuro;, uma espécie de continuidade do programa ;Ponte para o Futuro;. O partido prepara estratégias que promovam o desenvolvimento econômico na região, com mais investimentos em energias limpas, como a eólica e solar.