Gabriela Vinhal, Bernardo Bittar
postado em 24/05/2018 15:15
Discutir o papel da informação qualificada e analisar prejuízos causados por notícias falsas são duas atividades importantes para projetar um panorama das eleições em 2018. Afinal, o fato antecede a interpretação ou a interpretação cria o fato? O questionamento é do ministro da Justiça, Torquato Jardim, que esteve nesta quinta-feira (24/5) no seminário Correio Debate: Fake News ; O Impacto das Notícias Falsas na Democracia. O ministro abriu o seminário detalhando o tema.
"Uso três ângulos para tratar deste assunto: primeiro, a informação imprecisa. ;Miss information;. É a informação falsa, compartilhada sem intenção de causar dano. Passada adiante sem crítica, sobre tema desconhecido, fora do domínio de quem fala a notícia. Segundo, a desinformação. Provém do Russo. É informação falsa, sabidamente falsa, fabricada e compartilhada com intuito de causar emoção, influência e direcionar interesse. Por fim, temos a má informação, que é genuína, compartilhada para causar dano tirando do âmbito privado uma assunto que não deveria chegar ao âmbito público".
Para o ministro, as fake news serão o grande tema de 2018. A quatro meses das eleições, pondera-se que elas são as inimigas da boa imprensa. "Você precisa definir o que é racionalidade e o que é emoção. Quem propaga fake news tem algum resultado à vista. Raramente isso é involuntário. Ninguém manipula informação sem querer gerar consequências, apenas pelo prazer de criar confusão. Verdade e realidade são duas palavras que terão importância daqui para frente."
Durante seu discurso, Torquato Jardim lembra que, historicamente, as fake news (ainda que não tivessem essa nomenclatura) já estavam presentes no mundo desde a Revolução Francesa. "Isso vem desde o século XIX, quando um capitão judeu foi acusado de trair a pátria. Décadas depois o exército reconheceu o erro mas não se desculpou. É isso que não pode acontecer. É necessário criar alguma maneira para tentar evitar os danos e a necessidade de compensações. Afinal, a compensação para um candidato em ano de eleição e a manutenção de seus votos. Se o cara perde eleitores, aí o dano já foi criado e não tem mais jeito", complementa o ministro.
No Brasil, Jardim lembrou das eleições de 1950, quando supostamente Getulio Vargas, então candidato à Presidência da República, teria espalhado boatos sobre seu adversário. "Ele disse que o concorrente não gostava dos marmiteiros, referindo-se aos pobres. Isso, claro, atrapalhou o outro candidato. Tanto que Getulio venceu."
Como a campanha eleitoral começou ano passado e há muito dinheiro envolvido, as bases ainda estão sendo criadas. A grande dificuldade, no entanto, deve ser a manipulação e a entrega das mensagens. É necessário traçar o perfil do receptor que dará credibilidade à mensagem falsa sem conferir de onde ela veio. Evitar que a má informação destorça o resultado final é um dos grandes desafios do que o ministro qualificou como "sociedade espetáculo". Onde, segundo ele, "você tem que ser agradável acima de tudo. Pois não basta ser inteligente. Tem que estar com a gravata certa e a barba arrumada. Pão e circo, como sempre".
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