Jornal Correio Braziliense

Politica

Com presença de Barroso, seminário pede transparência nas contas públicas

Legislação moderna e adequada, combate à corrupção e fiscalização eficiente são instrumentos necessários para que os recursos da população sejam usados de maneira justa, apontam integrantes de órgãos de controle



Muita coisa ainda tem de ser feita para que as crises econômica e política cheguem ao fim. Mas o Brasil tem jeito, está no caminho certo e a população começa a tomar consciência de que a corrupção tem que ser banida. Foram essas as mensagens de todos os conferencistas do seminário ;Contas Públicas são da Nossa Conta;, promovido pela Associação Nacional dos Ministros e Conselheiros-Substitutos dos Tribunais de Contas (Audicon). Na palestra de abertura, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), destacou que percebe uma onda de negativismo, mas não compartilha com ela. ;Ao contrário. Acho que este é um momento de definição, uma chance real de começar um novo tempo e abandonar a velha ordem.;

Desde a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil avançou. Saiu de um regime autoritário e conquistou a estabilidade institucional, debelou a inflação e imprimiu expressiva inclusão social. Por isso, hoje, as chances de retrocesso são pequenas, embora ainda tenhamos sérios problemas nas políticas de governo, eleitoral e partidária, disse Barroso. O ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto lembrou que, quando se fala em ajuste fiscal, ;o que se quer é que não seja aberta uma torneira no jardim, na conta ou no latifúndio dos predadores do erário;. ;Esse é o primeiro ajuste: o combate à corrupção sistêmica e ao patrimonialismo. Se for feito, vai sobrar dinheiro para o financiamento daquilo que compete ao Estado;, reforçou.

Marcos Nóbrega, conselheiro substituto do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE/PE), assinalou que as mudanças que, no passado, aconteciam em 10 anos, ocorrem hoje com grande velocidade. Para acompanhar as transformações, o Brasil precisa construir novas teorias. Ele lembrou que o mundo tem 7,5 bilhões de pessoas, 3,7 bilhões têm internet e 8 bilhões, celulares. E nosso país continua discutindo metas do século 20. ;Qual será o impacto disso tudo? O setor público precisa romper com o passado e rediscutir princípios;, afirmou. Na área de licitação, um dos ralos da corrupção, ;a situação é caótica e a burocracia acaba expulsando o mais capaz;. O que tem de ser feito, segundo Nóbrega, não é o discurso da legalidade, que exige especificações absurdas, mas o da informação e da busca por dados que apontem se a empresa entregará o que prometeu.

Conhecimento

;Mas, falta ainda conhecimento. A maioria das pessoas não sabe o que são gastos tributários, fiscais ou desonerações;, reforçou Aroldo Cedraz, ministro do TCU. Ele salientou que, no Brasil, ainda se sofre do mal de ;aplicar, com atraso, as normas internacionais na avaliação de políticas públicas, embora o tribunal tenha modelo de acompanhamento eficiente que pode ser usado em todo o setor público;. Marcos Bemquerer Costa, presidente da Audicon, destacou que um dos principais objetivos do evento é estimular a ;proliferação de ideias abstratas e concretas nas relações das contas públicas;. ;Que esses tempos complicados de corrupção não sirvam de desalento para a fiscalização e o controle;, reforçou.

Fábio Nogueira, presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), afirmou que a sociedade reclama por uma melhor aplicação das verbas. ;Acreditamos que não há controle mais eficiente do que a participação do cidadão no acompanhamento dos recursos públicos. E, por isso, vamos na direção da criação de sistemas e aplicativos cada vez mais fáceis e acessíveis para quem está lá na ponta;, disse. O presidente do TCU, ministro Raimundo Carreiro, apontou que, além da fiscalização institucional, o controle social ;é mais um instrumento importante para acompanhamento das ações do Estado, favorecendo sobremaneira a transparência das políticas públicas;.

A jornalista Eliane Cantanhêde ressaltou a efervescência das ideias em qualquer fórum de debate. ;Todo mundo está discutindo o país que a gente quer;. O que é bom, disse. Mas a ansiedade e a revolta com a corrupção não podem se transformar em ódio gratuito. ;Nós temos que olhar para dentro e não só acusar os outros;, afirmou.