Politica

Partidos montam equipes para combater fake news nas redes sociais

Políticos e partidos se dizem preocupados com eventuais notícias falsas nas eleições à Presidência da República e montam equipes para atuar no combate a conteúdos fraudulentos

Gabriela Vinhal, Bernardo Bittar
postado em 27/05/2018 07:00
Políticos e partidos se dizem preocupados com eventuais notícias falsas nas eleições à Presidência da República e montam equipes para atuar no combate a conteúdos fraudulentos

A pouco mais de quatro meses das eleições, pré-candidatos à Presidência da República se mostram articulados no combate às fake news nas redes sociais. Apesar de a campanha oficial nem sequer ter começado, políticos e partidos se dizem preocupados com o impacto que as notícias falsas têm o poder de causar no rumo da disputa ao Palácio do Planalto. Num processo curto, em que a internet terá papel de difundir projetos dos candidatos, o conteúdo fraudulento ; produzido não só por amadores, mas por marqueteiros profissionais ; pode colocar em risco o processo democrático das últimas décadas.

A propagação de notícias falsas não é algo recente. Histórias já foram construídas à base de boatos. E o fenômeno prossegue nos tempos atuais. Em 2016, o norte-americano Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos com o apoio de agentes russos produtores de fake news. Investigações seguem em curso para analisar a influência deles também em outros países, como Inglaterra, França e Alemanha.

[SAIBAMAIS]Na tentativa de se precaver, a equipe que trabalha na campanha do tucano Geraldo Alckmin (PSDB) vai preparar a militância do país para atuar no combate ao conteúdo falso. ;Vamos cadastrar pessoas específicas para denunciar e organizar a comunicação e os canais para fazê-lo, como WhatsApp, e-mail e páginas exclusivas do candidato;, explicou Marcelo Vitorino, professor de marketing político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e responsável pela campanha do tucano na internet. O principal objetivo, segundo o especialista, é desmentir as informações através do mesmo meio em que elas forem propagadas. ;A equipe oficial só começa a atuar durante a campanha. Antes, o que se faz é um trabalho partidário;, emendou.

Por meio da assessoria de imprensa, a coordenação de comunicação do pré-candidato do MDB, Henrique Meirelles, disse que vai disponibilizar uma área no site do ex-ministro da Fazenda para responder a eventuais fake news difundidas contra ele. ;Essas respostas também serão divulgadas nas redes sociais;, informou. Na quarta-feira, o partido decidiu, oficialmente, pelo nome de Meirelles na disputa ao Planalto. Com a decisão, saiu de cena o presidente Michel Temer, afetado pela impopularidade, e assumiu um candidato que pode bancar a própria campanha e que tem menos rejeição internamente e entre o eleitorado, como mostram as últimas pesquisas de intenção de voto.

Aperfeiçoamento


Conhecido por ser uma aposta na renovação de nomes na política nacional, João Amoêdo, do Partido Novo, mantém em seu site uma seção para desmascarar conteúdos falsos. As equipes responsáveis monitoram, frequentemente, as redes sociais e recebem alertas de todas as notícias com o nome do pré-candidato. Questionada se as estratégias de combate podem mudar com a proximidade do pleito, a legenda afirmou que ;está em constante aperfeiçoamento e conta, cada vez mais, com a atuação virtual de seus apoiadores para responder a fake news;. ;A mentira é sempre uma ameaça. Por isso, precisa ser combatida, tanto no ambiente virtual como no mundo real;, pontuou.

Frequentemente envolvido em polêmicas na web, o deputado Jair Bolsonaro (PP) é um dos pré-candidatos que estão investindo na internet como território de campanha eleitoral. A assessoria de imprensa lamentou que o político enfrente fake news desde 2011 e contou que ele ;está calejado; em relação ao assunto.

Durante a Marcha dos Prefeitos, que ocorreu em Brasília na semana passada, o parlamentar disse que as redes sociais representam 99% de sua campanha. Ele afirmou ainda que os jovens são responsáveis pela maior parte do engajamento e que, infelizmente, ;como tem gente que comenta para o bem, tem gente que comenta para o mal;.

Arick Wierson, estrategista politico norte-americano que trabalhou na campanha de Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e estuda e analisa campanhas políticas no Brasil, afirma que as fake news já fazem parte da realidade do brasileiro. Para o especialista, a sociedade vive uma era pós-verdade, em que a notícia verídica, a semi verídica e a falsa convivem tranquilamente no mesmo ambiente. Por isso, em ano eleitoral, é preciso encontrar uma maneira de combatê-las, já que a legislação brasileira ;não está preparada para fazê-lo;.

;O processo de combate às notícias falsas está em andamento há bastante tempo. Uma onda veloz em termos de normalização tem se instaurado, principalmente depois das redes sociais terem ganhado tanto poder. Contudo, as leis brasileiras não estão preparadas para lidar com todo o impacto da modernidade e da tecnologia;, acrescenta Arick.

Uma missão complicada


Na quinta-feira passada, o Correio Braziliense promoveu o seminário ;Correio Debate: Fake news ; o impacto das notícias falsas na democracia; para discutir os desafios do combate aos conteúdos fraudulentos. O evento contou com a presença de especialistas e autoridades, como o ministro da Justiça, Torquato Jardim, numa tentativa de desenvolver estratégias para as eleições de 2018.

;É necessário traçar o perfil do receptor que dará credibilidade à mensagem falsa sem conferir de onde ela veio. Evitar que a má informação distorça o resultado final. É preciso definir o que é racionalidade e o que é emoção;, ressaltou Torquato Jardim. ;Quem propaga fake news tem algum resultado à vista. Raramente isso é involuntário. Ninguém manipula informação sem querer gerar consequências, apenas pelo prazer de criar confusão. Verdade e realidade são duas palavras que terão importância daqui para a frente.;

Para Frederico Meinberg, promotor de Justiça e coordenador da Comissão de Proteção de Dados Pessoas do MPDFT, esse tipo de informação é só parte de um mecanismo. Além das notícias falsas, há hackers e, principalmente, ferramentas de redes sociais, como o impulsionamento de conteúdo, que podem representar um grande risco à democracia. ;Sempre digo que fake news são só 25% do problema. Nessas eleições, hackers e impulsionamento de conteúdo vão ter mais peso;, destacou.

Atualmente, existem ao menos 14 projetos que buscam a criminalização de quem produz e difunde as fake news no país. Meinberg, contudo, afirmou não acreditar em consequências no âmbito penal, mesmo com as eleições tão próximas. ;Tenho arrepio só de pensar em criminalização de fake news. O debate precisa ser mais amplo, abranger investigações de outros tipos de crime, como injúria racial, tráfico de drogas e pedofilia;, exemplificou.

Paulo Fona, secretário de Estado de Comunicação do GDF, ponderou que o Brasil vai precisar trabalhar intensamente no combate às notícias falsas, porque ;dificilmente; conseguirá acabar com elas. Para o especialista, cada indivíduo com um smartphone tem potencial midiático nas redes sociais, por isso, é tão difícil lutar contra esses agentes de conteúdo. ;Esse universo é mutante e, além de tudo, é uma plataforma em que internautas colocam suas opiniões. A linha entre repreender as fake news e a liberdade de expressão é tênue. Não há, até agora, um instrumento concreto de defesa;, lamentou.





Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação