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No sétimo dia de paralisação, Planalto conta estragos da greve

Os números mostram uma dificuldade de atuação do governo e uma pulverização do movimento, já que a quantidade de locais envolvidos na paralisação aumentou entre o levantamento feito pela manhã e o da noite


O país chega ao sétimo dia de paralisação dos caminhoneiros, ainda sem grandes expectativas de que a situação volte ao normal. Os esforços dispendidos pelo Palácio do Planalto na tentativa de contenção do movimento incluem o emprego do Exército para desobstruir as vias e um decreto assinado ontem para permitir o uso de bens da população para realizar a tarefa. Apesar dos apelos dos ministros aos caminhoneiros e dos esforços do governo para desobstruir as vias, a semana deve começar com poucas mudanças em relação ao cenário de desabastecimento visto nos últimos dias.

De acordo com balanço divulgado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na noite de ontem, 586 pontos de estradas federais do país continuam bloqueados, enquanto 577 foram sendo liberados. Os números mostram uma dificuldade de atuação do governo e uma pulverização do movimento, já que a quantidade de locais envolvidos na paralisação aumentou entre o levantamento feito pela manhã e o da noite. Ao longo do dia, 33 pontos foram desobstruídos, mas outros 10 acabaram bloqueados. Uma das explicações para isso é que a liberação de locais estratégicos tem sido substituída por novas paralisações em pontos secundários.

[SAIBAMAIS]O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse ontem, após reunião com o presidente Michel Temer e outros ministros no Palácio do Planalto, que o governo atua em dois eixos para resolver a situação: do diálogo e da autoridade. ;Estamos abertos ao diálogo, ainda que o acordo firmado não tenha sido cumprido na sua integralidade. O outro eixo é, evidentemente, o da autoridade, e a estamos exercendo plenamente;, declarou. Segundo Jungmann, o foco do Planalto tem sido garantir um corredor de acesso aos aeroportos e aos principais centros de abastecimento de combustível. Em nota, a PRF afirmou que o transporte de animais, gêneros alimentícios e combustíveis tem sido mantido.



Jungmann ressaltou ainda que um dos instrumentos para desarticular o movimento dos caminhoneiros é a requisição de bens, decretada ontem pelo presidente. ;A partir de agora, havendo necessidade, bens poderão ser requisitados, a exemplo de caminhões de privados e de empresas transportadoras, para que se solucione a crise de abastecimento;, explicou. Segundo o ministro, não se trata de transferir uma propriedade privada à União, como o que acontece em uma reforma agrária, mas de ceder posse temporariamente. Se o dono tiver algum prejuízo, deve pedir indenização. ;A União, ou fará o pagamento, ressarcirá, ou contestará a solicitação na Justiça;, explicou.

Apesar dos vários instrumentos empregados, como a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em vigor até 4 de junho, e dos avanços anunciados pelo governo, a população ainda não percebe muitas melhoras. Em capitais como Porto Alegre e Belo Horizonte, por exemplo, as prefeituras já avisaram que não haverá circulação de ônibus hoje. Também persistem problemas, como falta de gasolina nos postos, escassez de itens perecíveis nos supermercados e cancelamento de voos em 25 estados. A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) afirmou que, se o abastecimento não se normalizar, prontos-socorros correm o risco de serem fechados no início da semana.

Efeitos


O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse que uma das maiores preocupações de Temer é com o desabastecimento na área de saúde. ;Em função disso, foi determinada a aplicação de multa a caminhões que estejam transportando insumos de saúde e que tenham aderido ao movimento. O presidente está muito preocupado com a questão de vidas humanas;, afirmou.



Diante das circunstâncias, a expectativa é de que o início da semana seja complicado. Mesmo que as estradas sejam completamente desbloqueadas, os efeitos não são imediatos. ;É muito difícil prever a data (de normalização). Esperamos que a gente consiga normalizar a situação e os caminhoneiros voltem a trabalhar o mais breve possível, mas não há uma previsão, não há uma curva indicativa de que isso acontecerá em um dia ou três dias;, disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, após a reunião no Planalto.

Em alguns casos, a normalização só deve ocorrer no próximo fim de semana. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), por exemplo, afirmou, na sexta-feira, que o abastecimento das lojas ainda poderia levar de cinco a 10 dias para voltar ao normal. Alguns setores afirmam que a situação deve melhorar nos próximos dias, como o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis) do Distrito Federal, que afirmou que ontem foram entregues mais de 3,325 milhões de litros de combustíveis para vários postos. ;O abastecimento funcionará de plantão com escolta de policiais durante domingo também;, disse o sindicato. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) afirmou ontem que está atuando de forma coordenada com órgãos públicos para que o abastecimento seja regularizado no país.

As entidades representativas dos caminhoneiros ainda não deram o braço a torcer e, até ontem, a maioria continuava sem reconhecer o acordo com o governo. Uma das demandas é a redução a zero do PIS-Cofins para o diesel, o que teria custo de cerca de R$ 10 bilhões aos cofres públicos. Após ter participado de duas reuniões de emergência com o presidente Temer ontem, Jungmann afirmou que ;o Brasil não será refém desse egoísmo; e reforçou que o governo está ;decidido a usar todos os instrumentos para que isso não permaneça;.


Momento dramático

Em relatos aos ministros mais próximos, o presidente Michel Temer admitiu que o governo vive um ;momento dramático;. Segundo Temer, a greve acarretou custos pesados à população, que culpa o Planalto por tudo e vê, na maioria dos casos, os caminhoneiros como heróis. Dentro do governo, há quem considere o atual momento mais dramático do que o enfrentado em maio de 2017, quando foram reveladas as delações dos irmãos Wesley e Joesley Batista, do grupo JBS. Aquele, segundo um ministro, foi um fato político. O de agora pegou a população toda, dos ricos aos pobres. ;Esse quadro é dramático para qualquer governo. Passa a sensação de descontrole, de que o país está entregue ao caos;, diz um assessor de Temer ao Blog do Vicente, hospedado no site do Correio.