A greve dos caminhoneiros, a cada dia, registra mais casos de violência. Apesar de o número de focos de protestos ter diminuído drasticamente, a intolerância ainda assombra os pontos de bloqueio pelo país. O motorista autônomo José Batistela, de 70 anos, morreu ontem com uma pedrada na cabeça durante uma manifestação em Rondônia. A greve, que causou sérias consequências nos setores de abastecimento e alimentação, elevou a tensão da população contra a categoria. Após ofuscarem a pauta com pedido de intervenção militar, o movimento dos transportadores perdeu o apoio popular e a impaciência tomou conta de uma parcela dos cidadãos, que clamam para que a normalidade seja novamente instaurada no Brasil.
Segundo levantamento do governo federal, o número de pontos de concentração de protestos diminuiu drasticamente ontem. Às 19h, foram registrados 197 focos pelo país ; uma redução de 337 em comparação com o balanço anterior, das 17h. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, atribuiu a desobstrução das estradas ao acordo firmado entre os caminhoneiros e o governo, além da ação progressiva das forças federais e estaduais. ;Agora, o movimento começa a ser infiltrado por aqueles que queriam dar redirecionamento político e esta medida, evidentemente, atingia a todos nós e à democracia;, justificou.
Apesar do enfraquecimento da paralisação, a violência com que os caminhoneiros grevistas ainda estão sendo tratados preocupa autoridades federais. José Batistela, assassinado ontem, foi atingido por uma pedra, que quebrou o para-brisa do caminhão e o atingiu na cabeça. Na região de Vilhena (RO), no momento do crime, ocorriam ao menos duas manifestações de moradores, convocadas pelas redes sociais em apoio aos transportadores. Um amigo do motorista disse ao portal G1 que o caminhoneiro não fazia parte do movimento, apesar de apoiar o protesto dos colegas. Ele estaria transportando uma carga de madeira para o município de Mirassol (MT), quando parou no ponto de manifestação dos grevistas. José aguardava no local para continuar a viagem, quando ocorreu a agressão.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o caminhoneiro chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Testemunhas afirmaram aos policiais que a pedra foi lançada de um carro de passeio, que trafegava no sentido contrário. A investigação está a cargo da Polícia Civil de Rondônia, que realizou perícia no caminhão.
Canal de denúncias
Em coletiva à imprensa, Jungmann afirmou que o principal suspeito de envolvimento no crime foi preso durante a tarde de ontem. ;O principal suspeito foi detido algumas horas após o fato. O líder do grupo de que ele participava também foi preso e está sendo ouvido pela polícia;, destacou. O ministro ressaltou ainda que a via onde ocorreu o protesto estava sendo desbloqueada pelas forças federais.
Jungmann considerou o assassinato contra o caminhoneiro como um ato ;absolutamente desumano;. Com a alta incidência de ameaças a caminhoneiros que tentam deixar a paralisação, a promessa do governo é de tratar, ainda com mais rigor, os atos de agressão. ;Nós, na forma da lei, vamos punir com rigor esses que cometem uma violência que não é só covardia contra um ser humano indefeso, mas contra toda a sociedade. Por isso, por uma questão de Justiça, temos que responsabilizá-los e puni-los;, enfatizou. Para amparar outros condutores que possam ser coagidos por manifestantes, o governo lançou ontem um canal no WhatsApp para que denúncias sejam feitas pelo número (61) 99154-4645. Os nomes dos denunciantes serão mantidos em sigilo.
Com o enfraquecimento da greve, a expectativa do governo é de que os níveis de abastecimento no mercado consumidor possam voltar ao normal em até sete dias. Para endurecer as medidas contra os grevistas, a Advocacia-Geral da União (AGU) obteve vitória ontem, no Supremo Tribunal Federal (STF), para elevar multa já fixada em R$ 100 mil por hora para R$ 5 milhões por dia às transportadoras que permanecerem com carretas nos pontos de protesto.