Os documentos estão em posse do Supremo Tribunal Federal (STF) desde o dia 23 do mês passado. O coronel Baptista é dono da Agerplan ; empresa voltada para o segmento de urbanismo e engenharia que atua há mais de 40 anos no mercado. A PF encontrou indícios de que ele teria recebido R$ 1 milhão ao participar, por meio da empresa de sua propriedade, de um contrato firmado pela Engevix para realizar obras da Eletronuclear, estatal do setor de energia.
[SAIBAMAIS]De acordo com uma manifestação enviada ao Supremo pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, um executivo da Engevix, José Antunes Sobrinho, afirmou em seu depoimento que a empresa só conseguiu contrato com a estatal por ser ligada ao presidente Temer. Antunes está negociando um acordo de colaboração com a Polícia Federal. O Correio apurou que as tratativas já estão avançadas. Ele prestou novo depoimento à PF, em Brasília, na noite de ontem.
Alguns arquivos, que foram encontrados pelos investigadores na sede da Argeplan, revelam que o coronel Lima fez negócios com o Grupo Libra, investigado por supostamente repassar propina ao presidente para ser beneficiado com as mudanças no setor portuário. O relatório do MPF também solicita investigações sobre as empresas PDA Administração e a PDA Projeto e Direção Arquitetônica, que têm Baptista como sócio e dispõem de R$ 23 milhões em suas contas. A PF investiga a origem desses recursos.
Em informações prestadas à PF, o empresário Gonçalo Torrealba, um dos sócios do Grupo Libra, afirmou que foi procurado pelo coronel Lima ;há mais de dez anos; para fornecer ajuda financeira para a campanha do presidente Temer a deputado federal. A informação, embora se refira a fatos antigos, contradiz as respostas do chefe do Executivo aos questionamentos feitos pela corporação. Ao ser indagado por escrito, Temer disse que ;João Batista Lima o auxiliou em campanhas eleitorais, mas nunca atuou como arrecadador de recursos;.
Decreto
As investigações começaram meses após Temer realizar mudanças em um decreto que normatiza regras para a concessão e uso de portos em todo o país. Os investigadores suspeitam de que as alterações na legislação beneficiaram empresas do setor portuário, como a Rodrimar, que opera o Porto de Santos, o maior do país.O artigo 19 da lei foi alterado, prevendo a ampliação de 25 anos para 35 anos os prazos dos contratos de concessões e arrendamentos, possibilitando que possam ser prorrogados até o limite de 70 anos.
O Planalto adotou o silêncio em relação ao cerco ao coronel Lima. A orientação no governo é não se manifestar. Temer manteve normalmente a agenda. Recebeu ministros que integraram até o início desta semana o comitê responsável por monitorar o abastecimento após o acordo com os caminhoneiros, como Eliseu Padilha, da Casa Civil, Carlos Marun, da Secretaria de Governo, e Sérgio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
A reportagem tentou contato com o advogado Cristiano Benzota, que defende o coronel Baptista, mas ele não estava em seu escritório, nem retornou as ligações.