Politica

Marina Silva diz que não vai se esquivar de reformas caso seja eleita

A pré-candidata do partido Rede Sustentabilidade foi a segunda a ser sabatinada em evento no Correio

Alessandra Azevedo
postado em 06/06/2018 11:41
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Em sabatina realizada nesta quarta-feira (6/6) no Correio Braziliense, Marina Silva, pré-candidata à Presidência da República pelo partido Rede Sustentabilidade, garantiu que não se vai se esquivar de temas como as reformas previdenciária e tributária caso seja eleita. "O compromisso é de fazer reformas, dialogando com a sociedade. Não para que se perca direitos, mas para que se possa atualizar questões que estão sendo atualizadas no mundo inteiro", disse. Assista à entrevista completa:

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Embora não tenha detalhado como seria a proposta ideal, Marina reconheceu o deficit "dramático" nas contas da Previdência e defendeu mudanças nas regras de aposentadoria e pensão. "Estamos tendo já o envelhecimento da população, perdendo o bônus demográfico. Estamos diante de uma situação que logo, logo, daqui a uns 20 ou 25 anos, vamos ter muito mais pessoas aposentadas que pessoas economicamente ativas no mercado de trabalho, e é preciso se atentar a essas questões. Mas isso preciso ser feito num debate e de forma legítima", disse.

Nesse sentido, Marina fez críticas duras à proposta pelo governo atual, que, para ela, "não tem a menor condição" de ser tocada. "Claro que tem deficit. Mas você não pode fazer um movimento dessa magnitude dialogando com apenas um setor", disse, em referência ao empresariado. "Tem que ter diálogo com a sociedade", completou.

Presidente e fundadora da Rede, partido que conta com apenas dois deputados na Câmara, Marina contará com apenas 10 segundos de tempo de televisão e com fatia pequena do fundo eleitoral. As limitações, entretanto, são encaradas como uma luta contra "as estruturas faraônicas".

[SAIBAMAIS]Marina criticou, entre outros pontos, o que considerou "oportunismo" do governo do presidente Michel Temer em "não ter mostrado com transparência" números importantes para o debate. Do ponto de vista prático, ressaltou que a proposta "não foi capaz de enfrentar o problema dos privilégios". "Os grupos que têm poder de pressão não foram atingidos", lembrou.

Além disso, o governo deu, na opinião dela, "sinalizações que são inaceitáveis", como a exigência de 49 anos de contribuição para conseguir a aposentadoria integral e de 25 anos para aposentadoria por tempo de serviço.

Reforma tributária

Em várias oportunidade, a pré-candidata defendeu com ênfase uma reforma tributária, sem aumento de carga, mas também sem diminuição de impostos. "Na situação em que nós vivemos, dizer que vai reduzir é demagogia para um setor ou é irresponsabilidade com o conjunto da sociedade brasileira", afirmou.

As diretrizes de uma boa reforma seriam, segundo ela, simplificar a cobrança, combater a regressividade e ter critério de transparência. "Hoje temos uma centralização muito grande em relação aos tributos. Os estados, que receberam competências de saúde, educação e moradia, uma série de serviços que a Constituição lhes delegou, não contam com os recuros para fazer frente a tudo isso", argumentou.

A discussão para emplacar as propostas será "na base do diálogo", garantiu a ex-senadora. "Não tem toma lá, dá cá. A gente governa com autoridade política, ética e moral", reforçou. Segundo ela, muitos dos políticos atuais se escondem atrás do foro privilegiado e se candidatam "mais para ter salvo conduto do que para defender interesse dos cidadãos". Marina lembrou que mais de 200 parlamentares estão sendo investigados pela Justiça e que muitos querem se manter no poder ou preservar o enriquecimento ilícito pessoal. "A população está revoltada em alguns aspectos. A atitude dos candidatos deve ser, em primeiro lugar, de respeito com esse sentimento, de reconhecer que as pessoas têm razão para estar desencantadas", afirmou.

Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva disse não ser favorável à privatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, mas ressaltou não ter uma posição dogmática em relação ao assunto. "Acho que é possível e pode ter empresas que podem ser privatizadas, mas depende também de como é o plano dessa privatização."

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Transparência sobre propostas

Sobre a privatização da Eletrobras, que o governo atual tenta emplacar no Congresso Nacional, a pré-candidata afirmou que é preciso "ter transparência no que está propondo". "Fazer de forma atabalhoada, só para fechar o rombo da incapacidade, não é o melhor caminho", disse.

Em relação aos investimentos externos, Marina afirmou que "as pessoas têm desejo de poder investir no Brasil, mas têm, ao mesmo tempo, um grande receio em relação a isso". Segundo ela, as empresas têm medo de que os nomes sejam associados à Operação Lava Jato, "que é o que aparece, no caso do Brasil, nas páginas da mídia internacional", pontuou.

Já no cenário interno, ela afirmou que pretende "recuperar a capacidade de investimento do país", sem deixar de mencionar as limitações trazidas pelo deficit público, "que é enorme".

Fake news e intervenção militar

Marina reafirmou o compromisso contra as fake news. "Em 2010, me antecipei a isso, e, em 2014, fiz a mesma coisa. Os candidatos "jamais terão de mim qualquer tipo de atitude de desconstrução mentirosa. Nunca fiquei espalhando mentiras de ninguém", disse.

Na sabatina, Marina Silva se posicionou contra os discursos a favor da intervenção militar, observados em algumas manifestações durante a greve dos caminhoneiros. Para ela, essa demanda tem origem na polarização política do país, mas não há espaço para que prospere, "em hipótese alguma". "Não podemos cometer o um erro maior, que é de entregar o destino do Brasil na mão de meia dúzia, em um governo autoritário, como se esses fossem os salvadores da pátria", disse.


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