Politica

Após redução no diesel, frete vira impasse entre governo e caminhoneiros

Nas redes sociais, grupos da categoria ameaçaram uma nova paralisação a partir de segunda-feira, caso o Planalto não dê celeridade e demonstre empenho em solucionar o impasse

Rodolfo Costa , Alessandra Azevedo
postado em 09/06/2018 08:00

A greve dos caminhoneiros durou 11 dias no fim de maio: Planalto espera uma trégua durante a negociação

A greve dos caminhoneiros acabou, mas ainda dá dores de cabeça ao governo federal. Antes, o principal desafio do Palácio do Planalto era assegurar o repasse do desconto de R$ 0,46 no diesel nas bombas. A transferência do combustível subsidiado para o consumidor ainda é lenta, mas, gradativamente, vem sendo feita. O maior impasse do momento é a discussão de uma tabela mínima do preço do frete. Uma resolução estabelecendo a tarifa foi editada no dia 30, mas gerava distorções no mercado por prever apenas um tipo de carreta. Uma outra foi publicada na quinta-feira, mas acabou contestada por representantes dos transportadores e suspensa no mesmo dia. Não é à toa a preocupação do governo: nas redes sociais, grupos da categoria ameaçaram uma nova paralisação a partir de segunda-feira, caso o Planalto não dê celeridade e demonstre empenho em solucionar o impasse.

O governo entendeu o recado. Pressionado, convocou ontem uma reunião na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) com representantes da categoria para definir novamente o tabelamento. Inclusive chamou para conversar o autônomo Wallace Landim, mais conhecido como ;Chorão;. Entre interlocutores do comitê responsável por gerir a crise dos caminhoneiros, ele é avaliado como um dos mais radicais do movimento e um dos principais incentivadores da categoria nas redes sociais. O convite a ele é uma sinalização da preocupação do Planalto em evitar que os transportadores voltem às ruas.

A reunião ontem na ANTT não fechou uma nova tabela, mas deixou Chorão otimista. ;Não estava, mas agora estou. A sinalização do equilíbrio, de poder trabalhar com tranquilidade, nos deixa otimistas;, disse. O autônomo pregou por uma manutenção da trégua ao governo, em clara sinalização à categoria. ;Hoje, participamos da primeira reunião aqui da tabela mínima e o pessoal pode ficar tranquilo que a gente está caminhando e estamos vendo as negociações. E este equilíbrio para a sociedade vai acontecer;, declarou.

O tom adotado pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) também aponta para uma trégua. ;Por enquanto, digo que não podemos falar em paralisação. Até porque ocupa muito nosso tempo em dizer até para poder fechar as negociações;, disse Norival Silva, diretor da entidade. A categoria recebeu espaço, equipamentos e suporte necessário da ANTT para fazer cálculos e apresentar aos diretores da autarquia vinculada ao Ministério dos Transportes o equilíbrio que eles julgam necessário.

Mas a discussão da tabela mínima de frete não foi a única pauta que eles levaram à reunião. Nos bastidores, eles negociam outra reivindicação com o governo. Uma tabela de cobrança mínima de impostos entre os estados, que varie de acordo com o tipo de carga, o frete e a quilometragem da entrega. Há na categoria quem entenda que a medida possa ser uma contrapartida para chegar mais fácil a um ponto de equilíbrio no diálogo do frete com os setores produtivos.

Insustentável

O impasse entre governo e caminhoneiros pode ser solucionado na próxima segunda-feira, data em que os caminhoneiros pretendem apresentar a tabela ao governo. Empresários, no entanto, estão incomodados com a ideia. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou ontem que ingressará nos próximos dias com uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF).

A ideia de uma tabela mínima de preços para o frete é insustentável, rebate o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. ;O tabelamento provoca prejuízos extremamente danosos para a economia, especialmente para o setor produtivo e para a população;, criticou. A avaliação da entidade é de que estabelecer uma tarifa mínima fere o princípio da livre concorrência. ;A fixação de preços mínimos infringe o princípio da livre iniciativa e é ineficaz;, acrescentou.

;Hoje, participamos da primeira reunião aqui da tabela mínima e o pessoal pode ficar tranquilo que a gente está caminhando e estamos vendo as negociações;
Wallace Landim, o ;Chorão;, líder dos caminhoneiros

Liminar concedida

A Justiça Federal no Rio Grande do Norte concedeu uma medida liminar para suspender os efeitos da Medida Provisória 832, autorizando duas empresas do ramo de sal a não cumprirem a tabela da ANTT. As empresas alegaram que a medida é inconstitucional, por violar princípios como o da livre iniciativa e livre concorrência, argumento acolhido pelo juiz Orlan Donato Rocha, da 8; Vara Federal.

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