Politica

Brasileiro perdeu memória afetiva com história do país, diz Glaucia Nasser

Em entrevista ao CB.Poder, a cantora e historiadora critica o sentimento de inferioridade carregado pelo brasileiro, e ressalta que é fundamental para o Brasil recordar o que faz uma nação

Letícia Cotta*
postado em 27/06/2018 18:10
Gláucia Nasser
O brasileiro perdeu sua memória afetiva com a história do país, analisou a cantora, historiadora e cofundadora da Fundação Brasil Meu amor (FBMA), Glaucia Nasser, em entrevista, nesta quarta-feira (27/6), ao CB.Poder, uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Glaucia, que apresenta o show Juscelino Kubitscheck, tem o intuito de restaurar alma do brasileiro. "O espetáculo busca dizer que, em muitos momentos do Brasil, nós fomos grandes, e uma referência para o mundo. E nós somos capazes de fazer isso de novo. Parece que a forma com que contam a nossa história não nos dá essa sensação", lamenta.

Em um momento em que o país se encontra dividido e ainda sem cenários definidos para as eleições, é fundamental, de acordo com Glaucia, recordar o que faz do Brasil uma nação. "Para um país se tornar uma nação, ele precisa ter uma glória no passado, precisa que pessoas tenham feito coisas grandes juntas, numa vontade comum, e quando se descobre essa vontade comum, a gente pode repetir essa vontade no presente, e isso vai construindo a nação", explica.

Leia trechos da entrevista:


Glaucia, você falou que o espetáculo JK é uma forma de tentar conectar novamente o brasileiro com a autêntica alma do país. O que exatamente você está querendo dizer?
A gente pode não acreditar e talvez não saiba ou não se lembre, mas nós fomos melhores do mundo muitas vezes, e parece que a forma com que contam a nossa história não nos dá essa sensação, e esse sentimento de que houve essa grandeza. Então, tanto o espetáculo, como a exposição e o lançamento do livro, têm intuito de dizer que em muitos momentos do Brasil nós fomos grandes, e referência para o mundo. E precisamos mudar essa consciência que tomou conta do país. Esse espetáculo mostra, então, as nossas belezas, e não só as belezas naturais, mas a beleza que é o brasileiro. Somos um povo único.

Esse espetáculo vem num momento em que o país se mostra dividido, descrente, em que 50% vota nulo ou simplesmente se abstém de votar. O que pode ser feito no sentido de dar alguma esperança, no sentido de que vale a pena votar, acreditar um pouco na política?
Existe uma frase de um filósofo, que se chama Renan. Ele diz que "uma nação é uma alma, é um princípio espiritual." Para um país se tornar uma nação, ele precisa ter uma glória no passado, pessoas desse país ou dessa nação terem feito coisas grandes juntas, numa vontade comum. E quando se descobre essa vontade comum, a gente pode repetir essa vontade no presente, e isso vai construindo essa nação.

Além desse período do JK, você elenca também outros período em que as memórias afetivas do país possam surgir?
Desde a nossa concepção, com as vindas dos jesuítas e dos guaranis que, por mais maluco que pareça, nos contaram a história de uma forma que não é muito verdadeira, a Fundação Brasil Meu Amor (FBMA) tem esse intuito, de buscar a verdadeira história, o que realmente aconteceu; e o nosso presidente, Jean Obry, fez uma pesquisa que durou quarenta anos, e ele realmente foi atrás dos documentos e tudo que tinha haver com os guaranis e jesuítas. Ele dedicou a vida a estudar as estruturas do nosso país e povo, e nesse momento o que fazemos como FBMA é mostrar ao brasileiro que, desde quando começamos, só temos motivos para nos orgulhar. Agora, por algum motivo, tiraram nossa memória. E dizem que país que não tem memória, não tem condições de seguir em frente. Nosso presidente diz que "um povo sem memória é um povo que é presa fácil para as forças anti-patrióticas."

Em relação à ditadura militar, por exemplo?
A gente não lembra, por exemplo, que na época dos guaranis e jesuítas, Voltaire dizia que "foi um triunfo da humanidade". Como pode um filósofo francês achar que nós fomos um triunfo da humanidade e nós acharmos que o que houve aqui foi escravidão e catequização de guaranis? Quando, na verdade, eram cinco batizados por ano e cinco mil índios com dois pares nas reduções guaranis jesuítas. E, naquela época, nós comíamos mais carne, tomávamos banho quente, tínhamos uma sociedade que o próprio papa Francisco disse que os paraguaios viveram o melhor da civilização,. Nós sempre tivemos liberdade, igualdade e fraternidade nessa época. Isso é provado, e não sei porque invertem nossa história e nos fazem acreditar que, no lugar dessa honra que vivemos, coloquemos a vergonha.

Assista à entrevista completa:


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*Estagiária sob supervisão de Ana Letícia Leão.

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