Deborah Fortuna
postado em 01/07/2018 07:40
Transformar a velha política em mais voz para o povo. Essa é a principal função daqueles que pretendem erguer a bandeira do mandato coletivo. O método pode não ser inédito, mas é uma novidade para as eleições gerais, de outubro de 2018. Na urna, o sistema não muda: aparece apenas uma foto e um nome, como de costume. Mas, por trás do mandato, e daquele ;político cabeça;, a ideia é que um coletivo de pessoas decida, em conjunto, tudo o que será feito nos próximos quatro anos.
O sistema parece igual a outros mandatos, cujos políticos têm o apoio de assessores e parlamentares para ajudá-los nas decisões e estratégias. Mas, há uma série de diferenças propostas pelos grupos de mandatos coletivos. Uma delas é que, nas votações, por exemplo, o grupo faça uma roda de conversa para decidir sobre determinado assunto. Sairá vitoriosa a decisão da maioria, mesmo que seja contrária à opinião do ;candidato oficial;. Em alguns casos, os grupos podem até dividir o salário político entre os participantes.
O assunto não é novo. Em 2016, um grupo de cinco amigos ganhou uma vaga para vereador no município de Alto Paraíso (GO). João Yuji (PTN-GO) foi eleito para a Câmara Municipal, mas ele apenas representava os outros quatro nas urnas. No dia a dia, todas as decisões são tomadas em conjunto. O grupo escreveu um contrato com todas as normas do mandato coletivo e segue o modelo desde então. Já em Minas Gerais, o coletivo ;Muitas;, o qual integram duas mulheres, assumiu também o mandato de vereadoras.
Para as eleições de 2018, o Correio mapeou quatro grupos que já estão montando estratégias para as campanhas coletivas. A maioria é ligada a partidos de esquerda. O ;Cidadanista;, em São Paulo, pleiteia uma vaga de deputado federal na Câmara dos Deputados; o Feminista, em Pernambuco, para a Assembleia Legislativa do estado; o Conjunto 18, também em São Paulo, para vaga de senador; e o Mandátodos, no Distrito Federal, para deputado distrital. Esta é a primeira vez que a capital federal terá uma candidatura coletiva para um cargo. E se os outros forem eleitos, será a primeira vez de coletivos também dentro do Congresso Nacional.
O Correio conversou com dois dos quatro grupos para saber mais sobre as propostas do coletivo, e como eles irão, na prática, funcionar. O Mandátodos é formado por quatro integrantes: Airy Gavião, Eduardo Borges, Nádia Nádila e Thiago Ávila, o candidato oficial, filiado ao Psol. O nome na urna, no entanto, será do grupo, já que a Justiça Eleitoral permite nomes sociais na disputa.
Representatividade
O que os uniu foram as pautas em comum, em favor das minorias. A aliança liga interesses dos movimentos sociais, indígenas, raciais e feministas. Para eles, há uma crise de representatividade que foi exteriorizada nas manifestações de junho de 2013. Por isso, a proposta é uma ;substituição do atual desenho político; de transformar a visão do parlamentar com alto salário e cheio de privilégios. ;A pergunta é: por que não? Por que não ocupar a mesma cadeira com todos representando os interesses do povo? Queremos mostrar que é possível um deputado ganhar um salário justo e atender à demanda colocada pela população;, afirma Borges.
No caso do Conjunto 18, como o próprio nome diz, serão 18 integrantes do mandato coletivo, que disputam uma vaga no Senado Federal pela Rede. O grupo ressalta que acredita na transformação da política por meio da cocriação coletiva. Ou seja, todos juntos. A ideia principal do Conjunto é a ;despersonalização da política;. Nesse caso, será uma tríade feminina (senadora 1; e duas suplentes), com rodízio durante o mandato. As três farão campanhas juntas, mas compartilharão a gestão do mandato entre si e com mais 18 ;cossenadores;, maioria apartidários, que atuarão como assessoria de gabinete, e outros 1,1 mil, que apoiarão de outras formas. Os nomes da tríade serão decididos hoje. As três senadoras e os outros 18 colaboradores participarão igualmente das decisões estratégicas, mas as atribuições serão especificadas de acordo com as responsabilidades de cada um. ;Em comum, temos o compromisso com a agenda do desenvolvimento sustentável. É urgente renovar os quadros e as práticas políticas. Todos partilhamos dos princípios democráticos, da valorização da diversidade, da superação da desigualdade social e da construção de um país justo;, escreveram.