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Com foco no combate às fake news, Facebook detalha como lidará com eleições

A partir da próxima terça-feira (31/7), os anunciantes do Brasil vão poder se registrar no Facebook para marcar anúncios como eleitorais. Rede social deve monitorar perfis e notícias, cooperando com os tribunais eleitorais, para aumentar transparência durante eleições deste ano

Jacqueline Saraiva
postado em 25/07/2018 05:20
A disseminação de conteúdo de baixa qualidade é uma grande preocupação da rede social: desafio
O combate às fake news, como são conhecidas as notícias falsas divulgadas deliberadamente na internet, é o grande desafio do Facebook durante as eleições de 2018. Em evento na sua sede em São Paulo, a rede social de Mark Zuckerberg, que atingiu recentemente a marca de 127 milhões de usuários ativos mensais no país, explica que elaborou uma lista de iniciativas para colaborar e impedir a desinformação. Novos recursos visam colocar rastro aos anúncios pagos de cunho político, além de iniciativas para barrar conteúdo mal-intencionado.

O Facebook afirma que o Brasil se tornou um de seus cinco maiores mercados e, por conta desse cenário, quer tornar o ambiente mais organizado, com publicações direcionadas em um ambiente menos ;poluído;. Recentemente, a rede social aumentou o monitoramento contra perfis mal-intencionados. Sem citar números, a empresa afirma que, nos últimos meses, diversas contas não-autênticas que violam as políticas do Facebook foram removidas.

Katie Harbath, diretora global de engajamento com políticos e governos do Facebook, ressaltou "que coisas não deviam ter acontecido em 2016", ao ser questionada sobre o escândalo envolvendo o uso indevido de dados de 87 milhões de usuários do Facebook pela consultoria política Cambridge Analytica. "Isso tem sido uma prioridade para a companhia nos últimos dois anos para proteger a integridade das eleições ao mesmo tempo que damos vozes às pessoas", observou. Aqui no Brasil, a empresa divulgou que apenas candidatos, partidos, coligações e seus devidos representantes poderão impulsionar publicações na rede social.

O investimento maciço em inteligência artificial é o que tem possibilitado ao Facebook identificar violações de padrões e incitação de violência. ;Nós identificamos 98% das contas falsas antes de elas serem reportadas;, comemora Harbath.

Cooperação com tribunais eleitorais e conscientização

A disseminação de conteúdo de baixa qualidade é uma grande preocupação da rede social, que afirma trabalhar em cooperação com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil e Tribunais Regionais Eleitorais para contribuir com a integridade que estes esperam nas eleições de outubro. No início de julho, o Facebook assinou um memorando de entendimento em que reforçou o compromisso de combate à desinformação e apoio a projetos de educação digital, além de iniciativas para promover jornalismo de qualidade.

Parcerias com organizações especialistas já possibilitam ao Facebook monitorar o conteúdo divulgado e ajudar as pessoas a reconhecer fontes de notícias confiáveis. Para isso, a empresa diz financiar iniciativas que ajudam a monitorar as fake news: Vaza, Falsiane, Fátima, Lupe e Comprova.

O Vaza, Falsiane! é um curso on-line de noções de interpretação de notícias, que faz com que usuários policiem o conteúdo que circula; o Fátima é um bot (robô de internet) que auxilia no processo de identificação de fake news, conversando com as pessoas pelo Messenger; o Lupe checa se o político está mentindo ou não; já o Comprova faz o trabalho jornalístico de analisar notícias que circulam durante a campanha política, com 24 jornalistas de várias organizações de mídia. "Tudo isso vai funcionar em paralelo com os já lançados serviços de checagem de fatos, feito pela Agência Lupa, Aos Fatos e Agence France-Presse", afirma o Facebook.

Quando uma história é marcada como falsa, o Facebook passa a mostrar menos este conteúdo no Feed de Notícias, o que reduz sua distribuição. Esta verificação funciona na rede social desde maio, quando o Facebook também criou lembretes para o Registro de Eleitores na timeline dos usuários e fez uma divisão chamada de "Temas" dentro de páginas de políticos. Segundo Katie Harbath, porém, o Facebook não terá o papel de remover publicações falsas e postura semelhante será adotada com propagandas políticas usadas de maneira indevida. "Não achamos que é papel do Facebook decidir o que é verdade ou não. Nosso papel é fazer relatórios para mostrar como as propagandas serão usadas. Caberá às cortes regular sobre isso", explicou.

Novas ferramentas para as eleições

Antes de outubro, o Facebook promete lançar um produto chamado de ;Town Hall;, que faz o meio de campo entre eleitores e políticos, sejam eles presentes no Executivo ou no Legislativo. Hoje, apenas os usuários do Facebook nos Estados Unidos têm acesso à ferramenta. Também está prevista para chegar ao Brasil a ferramenta Ballot (cédula, em tradução livre), no qual a posição de diversos candidatos sobre temas específicos é disposta lado a lado. "Ferramentas como essas são importantes na hora do voto", justificou a executiva.

O facebook também lançará um atalho para autoridades eleitorais e fará um lembrete na linha do tempo para lembrar o dia e os endereços de votação. Katie Harbath reconhece que o esforço deve ser contínuo e que, dificilmente vá acabar. ;Fazemos um grande investimento neste espaço para identificar melhor esses atores à medida que eles vão se sofisticando para fazer com que eles pareçam com pessoas reais quando na verdade não são;, lamentou.

A partir de 16 agosto, os anunciantes poderão usar um rótulo de propaganda eleitoral

Anúncios de partidos no Facebook

A partir da próxima terça-feira (31/7), os anunciantes do Brasil vão poder se registrar no Facebook para marcar anúncios como eleitorais, passando por autorização prévia da rede social. A medida foi tomada para que o Facebook consiga impedir que pessoas de fora do Brasil possam impulsionar conteúdos. Partidos ou candidatos que não passarem por esse atestado do Facebook, não receberão o selo e ficam sujeitos à fiscalização do Tribunal Superior Eleitoral.

A partir de 16 agosto, os anunciantes poderão usar um rótulo de propaganda eleitoral (veja imagem). Anúncios pagos por campanhas de candidatos, por exemplo, virão com a tag "propaganda eleitoral". Os publicados por candidatos mostrarão o CPF dele, assim como a legenda a qual é filiado. Já os anúncios de partidos terão estampado o CNPJ da sigla.

Na mesma data, os usuários poderão ver todos os anúncios eleitorais em uma biblioteca que será lançada no Brasil, outra novidade anunciada pelo Facebook. Neste espaço, além da imagem e do texto do anúncio, haverá informações como valor aproximado gasto com a publicidade e público impactado com o anúncio. A ferramenta manterá no ar por sete anos as informações sobre anúncios que forem veiculados.

Biblioteca manterá no ar por sete anos as informações sobre anúncios que forem veiculados

No entanto, haverá limitações sobre o que será divulgado. Por exemplo: será possível saber o gênero e a idade dos usuários que receberam conteúdo direcionado, mas não sua faixa salarial ou localização geográfica. "São informações importantes, mas também temos a noção de que afetamos a privacidade dos nossos usuários ao abrir mais dados. Precisamos protegê-la", declarou a diretora global de engajamento com políticos e governos do Facebook, Katie Harbath.

O Brasil é o segundo país do mundo, depois dos Estados Unidos, onde o Facebook lançará marcações que informam às pessoas quem pagou pelos anúncios relacionados à política. A medida valerá para propagandas ativas ou inativas.

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