Politica

Décima Cúpula do BRICS em destaque

Encontro entre líderes dos países membros do grupo marca momento de relações tensas entre Estados Unidos e China. Expectativa é de um posicionamento final defendendo o livre comércio

Gabriel Ponte*
postado em 25/07/2018 19:10
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante a abertura do encontro
Cercada de influências do exterior, a décima cúpula dos BRICS, grupo político de cooperação composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, teve início nesta quarta (25/7), em Joanesburgo, capital da África do Sul. A principal pauta do encontro deve concentrar-se na elaboração de estratégias para combater as dificuldades de comercialização de produtos impostos pelos Estados Unidos.

[SAIBAMAIS]Os EUA serão protagonistas durante o encontro. A China, segunda maior economia global, é o principal alvo de retaliações por parte dos governo de Donald Trump em relação à guerra comercial, principalmente quanto ao aço, alumínio e produtos industriais.

Calcula-se que cerca 500 bilhões de dólares em produtos chineses podem ser afetados pelas sobretaxas impostas por Trump. Dessa forma, prejudicando-se o comércio chinês, o bloco inteiro sofre com as barreiras impostas.

O presidente chinês Xi Jiping afirmou, em um fórum de negócios na abertura do evento, que deve-se perseguir uma economia aberta, além de salientar que, caso ocorra uma possível guerra comercial, ;não haverá vencedores;.

Na opinião do professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) Danilo Porfírio, as discussões decorrem, em grande parte, do novo redesenhamento mundial do comércio externo. ;Em função da mão de obra barata, e, portanto, do valor mais sedutor dos produtos chineses, há, de alguma maneira, um estrangulamento dos setores de produção dos EUA que não acompanharam a concorrência dos chineses pelo preço e também pela atualização do parque industrial;, explica.

O presidente Michel Temer, que não compareceu às primeiras sessões do evento, foi representado pelo ministro das relações exteriores Aloysio Nunes, que defendeu o respeito a regras do multilateralismo internacional. Nunes também afirmou que a Organização Mundial do Comércio (OMC), dirigida pelo brasileiro Roberto Azevedo, está ;ameaçada; diante das recentes atitudes impostas pelos EUA.

Durante a programação, Temer também deve solicitar o fim do embargo da carne brasileira para líderes de Rússia e China. De acordo com Porfírio, o governo brasileiro deve concentrar-se na confirmação de possíveis novos acordos comerciais. "As oportunidades com os BRICS se voltam para a Índia, em termos tecnológicos, e China, no intuito de consolidar-se como principal parceiro dos brasileiros", diz.

Outros assuntos, como tecnologia e saúde, também serão abordados pelos Chefes de Governo durante a programação. As discussões envolvem o acordo para utilização de imagens de satélite em conjunto pelos cinco países, além da criação de um centro de vacinas na África do Sul, que aumentaria a produção de vacinas.

A expectativa é de que o grupo, em conjunto, emita um posicionamento, ao fim do encontro, defendendo o livre comércio e alertando sobre o crescimento do protecionismo. No entanto, não se deve mencionar diretamente os EUA na declaração.

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