A decisão do PSB de optar pela neutralidade deixou o partido menor. Pior: sem identidade e totalmente rachado. Dentro da legenda o sentimento é o de que se perdeu uma grande oportunidade de busca pelo protagonismo. Duvida-se agora, até da capacidade do PSB de manter sua bancada no Congresso.
Ao ceder aos apelos de Lula e do PT para não fechar aliança com o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, o PSB terá de juntar os cacos. Em Pernambuco, a petista Marília Arraes comunicou ontem, em nota, que será candidata a deputada federal, não fazendo frente ao socialista Paulo Câmara, que concorre à reeleição ao governo do estado. Faltou os pessebistas, entretanto, fazerem a parte deles e convencerem o candidato ao governo de Minas Gerais, Márcio Lacerda, a desistir. O mineiro se manteve irredutível e negou, em nota, a hipótese de se retirar da campanha.
A postura de Lacerda pegou de surpresa a Executiva Nacional do partido. Caciques da legenda que participaram da reunião afirmam que ele mesmo havia admitido a anulação do congresso estadual do PSB, realizado no sábado, quando foi aclamado como candidato ao governo de Minas. ;Ele havia aceitado anular a convenção e delegar a nós a decisão final sobre as alianças;, criticou um membro do diretório nacional. A Executiva desqualifica e desconhece a nota. ;A candidatura dele já foi vetada pelo congresso nacional;, disse outro integrante.
O PSB, agora, corre contra o tempo para colocar panos quentes sobre a situação. O partido tem até hoje para demover Lacerda da ideia de manter a candidatura. A legislação eleitoral estabelece que o envio das atas das candidaturas deve ser feita em até 24h, após o prazo das convenções, para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso a Executiva Nacional não consiga convencê-lo ainda hoje, a luta será impedir o registro da campanha. O prazo final para isso é 15 de agosto.
A aliança firmada com o PT é considerada fundamental pelo PSB. Fortalece a candidatura do governador Paulo Câmara à reeleição. O estado é a ;menina dos olhos; dos pessebistas e o principal reduto eleitoral da legenda. Manter o controle da unidade da Federação é uma das prioridades nessas eleições. Os petistas também se comprometeram a apoiar os socialistas na Paraíba, no Amazonas e no Amapá.
O PT, evidentemente, também tem interesse no acordo. E vai exigir o cumprimento. A costura é positiva para o fortalecimento da campanha nacional do partido, pois desidrata a candidatura de Ciro Gomes, do PDT, consolida a campanha de Fernando Pimentel à reeleição em Minas ; que terá Jô Moraes (PCdoB) como vice ; e garante palanques nos estados, ainda que sob apoio às chapas do PSB a governadores.
O candidato ao governo em Minas tinha dado o tom de que não aceitaria abrir mão da candidatura. Após a convenção nacional, analisou que conta com enorme capital político no estado. ;Principalmente depois dessa intervenção, pois houve revolta grande. O eleitorado despertou. Temos uma eleição e o mineiro realmente não aceita esse tipo de intervenção nos seus assuntos;, declarou.
A relutância de Lacerda provocou a ira da Executiva. O presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, nega irritação e defende a pluralidade, mas sustenta que o apoio nacional à candidatura do PDT ; como defendem alguns, inclusive, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg ; inviabiliza a disputa do partido nos estados.