Bernardo Bittar
postado em 19/08/2018 08:00
Os problemas da velha política ofuscaram as poucas novidades que os candidatos à Presidência da República incluíram em seus planos de governo. Os principais postulantes ao Planalto preferiram não escorregar nas ideias e levantaram bandeiras já conhecidas, ainda que alguns derrapem na hora dos discursos. Especialistas acreditam que a falta de criatividade dos candidatos atrapalha a vida do eleitor, que ainda não tem intimidade com todos os nomes da disputa presidencial e, provavelmente, não terá acesso ; nem interesse ; à íntegra de seus planos de governo.
Os documentos com as ideias dos presidenciáveis foram protocolados na última quinta-feira, um dia depois de as candidaturas terem sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora 13 partidos estejam na disputa, pesquisas apontam que apenas cinco frentes são tratadas como ;viáveis; nas eleições de outubro. Os candidatos principais são Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).
Questionadas pelo Correio, as assessorias dos partidos informaram as bandeiras dos cinco principais candidatos. No PT, a ideia é dar ênfase aos programas sociais e à taxação das grandes fortunas (tratada como forma de redistribuição de renda). Bolsonaro investirá na simplificação da cobrança de tributos e na diminuição da maioridade penal ; que pretende baixar para 16 anos. Ciro Gomes rechaça as privatizações e trata da manutenção da Previdência.
Alckmin permanece com o discurso sobre criação de emprego e renda, além de falar sobre a promoção de ações para o desenvolvimento da economia. Marina, por fim, permanece atenta ao combate de corrupção (que pretende fazer com uma reforma política diferenciada) e aos temas ecológicos.
Avaliação
;Vejo o PT em busca de um eleitor mais à esquerda que aquele que elegeu Lula e Dilma (Rousseff). Em 2002, ele venceu o pleito indo mais para o centro e foi reeleito pelo mesmo motivo. Isso se repetiu com Dilma, que tinha o mesmo apoio social e político dele. Essa é a grande diferença a meu ver. Mas ninguém se elege no Brasil falando só de política social, muito menos atendo-se à taxação de grandes fortunas. É possível tratar o tema sem mexer com os interesses profundos dos empresários;, analisa Sérgio Praça, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ).
Para o especialista, a mudança da maioridade penal proposta por Bolsonaro é um equívoco. ;Uma coisa é as pessoas estarem preocupadas com a segurança. A outra, é você falar que mais gente será presa. Prisão não resolve a questão de falta de segurança no país;, detalha. Tirando esses dois pontos, completa Praça, ;tudo o que foi apresentado já foi visto tanto na trajetória dos candidatos quanto em outros casos nas eleições presidenciais. Nada do que foi apresentado ao TSE nos planos de governo é uma novidade extrema. E isso é ruim, porque os candidatos que estão na berlinda poderiam se destacar;.
Para enfrentar os problemas eleitorais, uma solução seria inovar. ;Num momento em que a gente tem candidato contradizendo o próprio plano de governo, infelizmente, não dá para se dizer que existe alguma novidade no que foi apresentado até agora;, pondera o cientista político Ricardo Esmael, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). ;Candidatos estão coerentes com o que oferecem ideologicamente: Lula investe em assistencialismo, Ciro critica as classes mais altas, Marina tenta se diferenciar; Mas isso tudo era o esperado. Precisamos de propostas com começo, meio e fim. E isso ainda não existe;, acredita Esmael.