Politica

Indefinição sobre Lula deixa vácuo nas pesquisas e na campanha eleitoral

Estratégia do PT de manter a candidatura de ex-presidente "condenado, preso e inelegível pela Lei da Ficha Limpa" tem funcionado. Mas, com ele fora da disputa, não é Fernando Haddad quem tem herdado a maioria dos votos do petista

Gabriela Vinhal
postado em 23/08/2018 06:00

Haddad, Bolsonaro e Marina Silva

A possibilidade de Haddad ser cabeça de chapa no PT pode não afetar a candidatura de Bolsonaro, mas influencia Marina e Ciro. Alckmin aposta no horário eleitoral para crescer

As mais recentes pesquisas mostram que a campanha encabeçada por Lula, de dentro da cadeia, tem sido eficaz para ele, mas não para os aliados. O ex-presidente continua a crescer na preferência dos eleitores. Mas, caso o Tribunal Superior Eleitoral cumpra o que manda a Lei da Ficha Limpa e indefira a candidatura do petista, condenado a 12 anos de prisão e, portanto, inelegível, a situação se complica para o PT. Isso porque, até agora, o plano B do partido está estacionado: Fernando Haddad não decola nas pesquisas. Sem Lula na disputa, quem lidera as sondagens eleitorais é Jair Bolsonaro (PSL). E os principais herdeiros do espólio lulista têm sido Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). Se a eleição fosse hoje, por exemplo, a ambientalista ou o pedetista estariam no segundo turno.

Com o fim do prazo para protocolar as impugnações de candidatura de Lula no TSE, o relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, deve pedir hoje para a defesa do petista, preso na Superintendência da PF em Curitiba após ser condenado em segunda instância por corrupção, se manifestar. O grupo de advogados tem sete dias até o julgamento. Depois disso, cabe ao magistrado decidir se a decisão será monocrática ou em plenário. A data limite desejável para a análise do processo é até a próxima semana, porque, se o petista for impugnado, a defesa poderá contestar com dois recursos ; um no TSE e outro no Supremo Tribunal Federal.

Até lá, o país vive uma interrogação. Levantamento do Instituto Opinião Política produzido com exclusividade para o Correio mostra que, no cenário sem Lula, no Distrito Federal, a transferência de votos se daria para Marina Silva (Rede) ; que cresce de 11,7% para 14,7% ;, Ciro Gomes (PDT) ; que ganhou 2,3% a mais de votos ; e o tucano Geraldo Alckmin ; que foi de 6,3% para 7,1%. Fernando Haddad, substituto de Lula, agradou apenas a 5% dos entrevistados. Bolsonaro, que ocupou o primeiro lugar nos dois cenários da pesquisa, manteve a média de eleitores ; o primeiro, com 27% e o segundo, com 27,2%.

Na pesquisa nacional do Ibope, o destino dos votos de Lula ; que tem 37% das intenções ; também fica claro. Marina sai de 6% para 12%, quando o ex-presidente deixa a disputa, enquanto Ciro cresce de 5% para 9%; Alckmin vai de 5% para 7%; e Bolsonaro, de 18% para 20%. Haddad fica nos 4%. No Datafolha, o cenário de repete: Marina sobe de 8% para 16%; Ciro, de 5% para 10%; Alckmin, de 6% para 9%; e Bolsonaro, de 19% para 22%. Haddad repete os 4%, sendo que Lula alcançaria 39%.

Mesmo com comícios, debates presidenciais, palanques e intenso uso das redes sociais, as aparições na televisão e no rádio podem fazer a diferença. As pesquisas após 30 de agosto devem refletir como o eleitor absorve as campanhas. ;Mesmo com a internet em alta, os veículos de massa ainda são um diferencial nessa curta campanha. O brasileiro confia mais no que vê na tevê;, explica o cientista político Thiago Vidal. É uma vantagem que o Alckmin carrega. Após firmar aliança com o centrão, ele é o candidato que mais reúne tempo de exposição nacional, com 6 minutos e 3 segundos. Lula, por sua vez, tem 2 minutos e 7 segundos. Bolsonaro, apenas 9 segundos.

Estratégia

Para o cientista político Geraldo Tadeu, o fato de Haddad ainda não receber a maioria dos votos de Lula é ;natural;, porque ele não tem feito campanha como cabeça de chapa. A estratégia do PT é manter o ex-presidente como candidato até a reta final e aproveitar o tempo de televisão que o partido tem para lançar o apoio de Lula ao colega. ;Arriscam alto para tentar colocá-lo no segundo turno. A narrativa traçada pelo partido durante esses meses, de que Lula é um perseguido político, gera expectativa no eleitor;, complementa. ;Só poderemos analisar a campanha de Haddad quando ele aparecer na televisão;.

Tadeu afirma ainda que o PT fez uma jogada de ;alto risco; ao usar o ex-presidente como um grande trunfo para alavancar candidaturas nos estados e emplacar Haddad como presidente, assim como fez com Dilma Rousseff. Segundo o cientista político, esta é a eleição mais curta da história do país ; vai durar apenas 45 dias ; e Lula não pode fazer campanha na rua, com o povo. Para o analista político Creomar de Souza, a tendência de os votos do ex-presidente irem para Haddad se dá por causa da propaganda eleitoral. Isso porque Ciro e Marina, outros dois postulantes da esquerda, seguem na disputa com tempo menor de aparição em rede nacional e poucos palanques nos principais estados. O pedetista tem 40 segundos e a candidata pela Rede, 21.

Mesmo com a internet em alta, os veículos de massa ainda são um diferencial nessa curta campanha. O brasileiro confia mais no que vê na tevê;
Thiago Vidal, cientista político

Moro em Salvador

Com protestos em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na frente do hotel onde está hospedado em Salvador, o juiz federal Sérgio Moro participou de um jantar no 3; Simpósio Nacional de Combate à Corrupção, promovido pela Associação de Delegados da Polícia Federal. Em rápida conversa com a reportagem do Correio e jornalistas de outros veículos, na noite de hoje, Moro disse que tem evitado maiores exposições neste período eleitoral. ;É melhor evitar (entrevistas), não tem a ver neste momento.;

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