Gabriela Vinhal, Rodolfo Costa
postado em 27/08/2018 16:37
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Presidente do MDB e líder do governo no Senado, o senador Romero Jucá (MDB-RR) avisou, nesta segunda-feira (27/8), ao presidente Michel Temer, que deixará a liderança da Casa. Segundo o parlamentar, a decisão foi tomada por discordar da forma como o Planalto está tratando a questão dos venezuelanos em Roraima.
"Entendo que o governo brasileiro tem posição institucional quanto à migração e recepção dos refugiados, mas este caso tem que ser analisado mediante a condição do povo de Roraima, o nosso espaço e a nossa capacidade econômica e social", disse o documento assinado por Jucá.
"Sendo assim, Excelentíssimo Presidente, entre o posicionamento em defesa de Roraima, e as ações do governo federal, não titubeio em ficar ao lado do nosso povo e do estado que represento. Tenho me manifestado cobrando e protestanto quanto à falta de uma solução que enfrente o problema", justifica o senador.
Jucá, no entanto, nega que o governo esteja de má vontade para resolver a questão. Ele ressalta, contudo, que, seria um contrasenso cobrar na função de líder no Senado. "Como líder não poderia criticar o governo. Não poderia ir contra as posições", explicou. O parlamentar garante que, para fazer as reivindicações prevalecerem, fará muito "barulho". "Cobrarei muito do governo, que terá que se mover para resolver esta questão de alguma forma. Do jeito que está é que não pode ficar", destacou.
O senador também nega que a decisão de deixar a liderança do governo tenha motivação eleitoral. Na pesquisa do Ibope sobre intenção de votos entre senadores em Roraima, ele aparece em terceiro, com 25%. Apenas os dois mais votados são eleitos para o Senado na próxima legislatura. O parlamentar desdenha da pesquisa e diz que, em outras, ele aparece em primeiro lugar. "O presidente não tira um voto de Roraima. Fui líder e ajudei a fazer muita coisa. Está aí a liberação (dos saques das contas inativas) do FGTS, do PIS-Pasep, de redução dos juros, da inflação, de crescimento econômico. O resultado do governo não está em xeque. Estamos discutindo crise venezuelana. E, neste ponto, o governo não está agindo como eu espero que aja", frisou.
Histórico
Na semana passada, Jucá propôs a Temer a suspensão temporária da fronteira com o país vizinho em Pacaraima. O senador afirmou que o presidente analisaria os aspectos operacionais e jurídicos para encontrar uma solução para a crise migratória no estado.
No último 18 de agosto, venezuelanos foram atacados por brasileiros em Pacaraima, em represália ao assalto a um comerciante local, que teria sido cometido por quatro imigrantes. Moradores da cidade destruíram e queimaram os acampamentos e os pertences de quem havia atravessado a fronteira e estava nas ruas.
Para tentar conter a violência entre os grupos, Temer decidiu, em uma reunião com um grupo de ministros, enviar 120 militares e 36 voluntários da saúde ao estado. Cerca de 60 militares já estão em Pacarima. Os médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório de hospitais chegaram nesta segunda.
O Palácio do Planalto lamentou a saída de Jucá, mas pondera que ele é substituível. É o que sustenta o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun. "Um senador que tem a capacidade de Jucá sempre faz falta. Mas ninguém é insubstituível", sustentou. O articulador político do governo até faz questão de classificar a saída como uma "questão pontual".
A negativa do governo em atender as exigências de Jucá é amparada por compromissos internacionais, explica Marun. "E em função da tradição brasileira de acolhimento. Não cabe esse tipo de atitude (de fechar temporariamente a fronteira). Era impossível esse tipo de atitude neste momento", justificou.
Para Marun, a decisão de Jucá não isola o governo no Senado. "Neste momento, existe uma questão que ele discorda, sobre a atitude tomada pelo governo. Em função disso, ele se afasta do governo e vamos fazer o convite a outro senador ou outra senadora para que exerça sua função. Mas continuaremos contando com o apoio do senador Romero Jucá e sua capacidade", assegurou.
Marun garante que, até terça-feira (28/10), Temer escolherá o sucessor do parlamentar. Por ora, no entanto, não há um sucessor definido. "Até agora não existe uma lista. Talvez hoje ainda ele faça e tenha algumas conversas. Acredito que até amanhã poderemos comunicar quem será o próximo líder do governo no Senado", afirmou Marun.