As eleições de 2018 não serão como outras que passaram para os clãs que há mais de duas décadas estão entre os protagonistas da política do Rio. Os motivos são, de um lado, prisões pela Lava Jato - como a do ex-governador Sergio Cabral, do ex-deputado federal Eduardo Cunha e do ex-deputado estadual Jorge Picciani, os três do MDB - e, do outro, pelo aumento recente da visibilidade das famílias de Jair Bolsonaro (PSL) e de Rodrigo e Cesar Maia (DEM).
A despeito da prisão e das acusações das quais o pai, Sérgio Cabral, é alvo - de liderar o maior esquema de corrupção já descoberto no Rio - o deputado federal Marco Antônio Cabral (MDB) tem feito uma campanha discreta, sem anunciar sua agenda. Ele aposta no capital político que deu quase 120 mil votos em 2014 - quando foi o novo deputado federal mais votado do Estado.
"Cabralzinho", como é chamado pela semelhança física com o pai, não cola mais sua imagem à dele. Prefere ressaltar sua atuação no parlamento e se vender como um "jovem que tem história", como diz seu jingle. Por outro lado, sutilmente se refere a ele quando rima "ficar legal" com "Cabral", como se cantava num jingle antigo, na campanha do pai à prefeitura carioca em 1996.
No Facebook, inclui os políticos do lado materno, Tancredo, seu tio-bisavô, e Aécio Neves (PSDB).
A estreante Danielle Cunha (MDB) disputa uma vaga na Câmara com "a missão de carregar o legado político" do pai, Eduardo Cunha, que está preso há 22 meses. Mirando o eleitorado evangélico dele, ela adotou o discurso em defesa "da vida, da família e do Rio".
Seguindo orientação de Cunha, ela pediu na semana passada à Justiça Eleitoral mineira que barre a candidatura da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) ao Senado. Nem Marco Antonio nem Danielle deram entrevista.
Na família dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho (PRP), a novidade é a candidatura do filho Wladimir à Câmara federal. Ele vai dividir voto com a irmã, Clarissa, que tenta a reeleição enquanto o patriarca mais uma vez busca voltar ao Palácio Guanabara. Garotinho está com a candidatura impugnada por causa de acusação de improbidade administrativa.
Em 2017, ele e Rosinha foram presos, suspeitos de crime eleitoral. "É um desejo do Wladimir, e evidentemente não repetirei os 335 mil votos que tive", acredita Clarissa.
Entre os Piccianis houve uma baixa. Com o pai e irmão caçula, Felipe, o único que não é político, respondendo à Justiça, Rafael Picciani, deputado estadual, decidiu não concorrer.
O nome forte em 2018 é Leonardo Picciani, deputado federal e ex-ministro do Esporte de Michel Temer (MDB). No lançamento de sua candidatura à reeleição, no reduto eleitoral de Anchieta, zona norte do Rio, semana passada Leonardo mencionou o pai e Rafael brevemente, mandando-lhes "uma saudação especial, por tudo o que fizeram pelo Estado".
Picciani não acha que a Lava Jato irá lhe tirar chances. "Estou disputando minha quinta eleição. O eleitor tem um histórico meu, independentemente do meu pai, irmão e outros companheiros do partido. Os principais partidos brasileiros tiveram quadros com problemas", afirmou.
Para Cesar Maia - que pleiteia vaga no Senado pela terceira vez enquanto o filho, Rodrigo, tentará a reeleição à presidência da Câmara - a Lava Jato pode afetar o número de votos dos filhos de investigados, mas não necessariamente irá sepultá-los politicamente. "A tradição sempre foi uma marca na política. Isso é geral, em todos os países", disse.
No caso de Bolsonaro, a grande exposição com sua candidatura à Presidência vem inflando as chances dos filhos Flávio, um dos líderes das pesquisas para o Senado, e Eduardo, deputado federal por São Paulo tentando a reeleição.
O cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, acha pouco provável que os "filhos de" com "heranças malditas" tenham sucesso garantido neste pleito, como Danielle Cunha e Marco Antonio Cabral. "Já os que têm a visibilidade do pai, como os filhos do Bolsonaro, ou parte da máquina, como o do Picciani, têm as candidaturas priorizadas pelos partidos", avalia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.