Rodolfo Costa , Bernardo Bittar
postado em 11/09/2018 06:00
O ataque a Jair Bolsonaro (PSL) e a saída de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embaralharam ainda mais as eleições de outubro. A quatro semanas do pleito, adversários do capitão tiveram que afrouxar o discurso após a facada que ele levou em Minas Gerais. Candidatos deverão promover seus vices, alguns ainda buscam aderência em determinadas camadas sociais, e os coordenadores de campanha foram avisados sobre o cuidado para que informações não sejam vazadas. Os planos dos petistas são os mesmos: fortalecer Fernando Haddad (PT), que será anunciado hoje presidenciável se as ações de Lula não prosperarem.A tendência é de que as campanhas se tornem mais amenas depois do ocorrido com Bolsonaro. O trunfo dos adversários era facilidade em criticar o capitão do Exército, que despontou nas pesquisas. Articuladores da campanha dizem que Jair Bolsonaro terá que ter cuidado em seu retorno aos palanques. Não pode exagerar no tema da segurança pública, uma de suas maiores bandeiras, correndo o risco de cair na cilada envolvendo o desarmamento.
Enquanto o capitão se recupera no hospital e tenta traçar novas estratégias, quem perdeu fôlego nas últimas semanas tenta colocar o vice em evidência. É o que devem fazer Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). ;A estratégia do Alckmin nitidamente é tentar buscar o voto do conservador moderado. Nas últimas semanas, ele fez visitas a católicos, por exemplo. Foi a um hospital de freiras. Está focando nesse eleitor mais tradicional. Deixou de lado os ataques, fortaleceu a vice na propaganda eleitoral e está descansando a imagem após o bate-boca com Michel Temer na internet;, explica o cientista político Ivan Ervolino, criador da start-up de monitoramento de contas públicas Siga Lei.
Para Gabriel Henrique de Antônio, professor de sociologia e pesquisador do laboratório de política na Universidade Estadual Paulista (UNESP), ;os candidatos continuam estacionados;. Com menos de um mês de campanha, eles precisam apresentar mudanças para serem levados mais a sério. ;Enquanto Marina se prende às mesmas ideias, Ciro insiste no discurso que repete as mesmas coisas, mas consolida opiniões. O eleitor acaba se reconhecendo, mesmo sem conseguir fazer o julgamento sobre a viabilidade dos planos.;
Pesquisas
O ataque aumentou as intenções de voto em Bolsonaro, segundo pesquisas divulgadas ontem. O índice de rejeição em torno do capitão também cresceu, subindo de 39% para 43%, segundo o Datafolha. A quatro semanas do pleito, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) se mantém tecnicamente empatados em segundo lugar, junto com Fernando Haddad (PT).Um compilado dos principais levantamentos (Ibope, DataFolha e BTG/FSB) mostram que Bolsonaro terá apoio de até 26% dos eleitores no primeiro turno. ;O teto do candidato acabou de subir com o incidente em Juiz de Fora (MG). Estimava-se que ele não chegaria aos 30%. Agora vemos que isso pode acontecer. Houve, também, aumento nos índices de rejeição. E esse é ingrediente que falta para um melhor desempenho no segundo turno. Ele precisa ser mais bem-aceito;, disse o professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Felippo Cerqueira. O especialista garantiu que é hora de escolher entre a conciliação ou a radicalização.
Contagem regressiva
Veja os pontos que os nove principais candidatos à Presidência (listados em ordem alfabética) devem explorar daqui para frente nas campanhas; Álvaro Dias (Podemos)
Tentará se consolidar no centrodireita, rivalizando com Alckmin. A ideia é que ele consiga ocupar o espaço que os tucanos estão perdendo. Escora-se muito na questão da corrupção, dizendo que indicaria o Sérgio Moro para a Justiça. Acenos nessa direção podem melhorar o empenho do candidato.
; Ciro Gomes (PDT)
Ciro busca fazer com que a candidatura represente a aliança de classes. Fortalecendo esse perfil, mostra que a candidata a vice, Kátia Abreu (PDT), antiga emedebista, vai equilibrar o discurso de Ciro. As declarações intempestivas que servem de munição para adversários precisam ser controladas.
; Geraldo Alckmin (PSDB)
A aliança com a senadora Ana Amélia (PP) será mais explorada. Colocar Ana Amélia para contar sua trajetória de menina pobre que alcançou o sucesso na política é um dos planos para conversar com a classe C. Após o atentado a Bolsonaro, ele suspendeu os ataques ao capitão na propaganda.
; Guilherme Boulos (PSol)
Precisa controlar a combatividade excedente, focando mais em ideias que no corporativismo da esquerda. Embora tenha um discurso muito bem amarrado, abusa dos ;frasismos, tornando-se cansativo;. Costuma mostrar para onde quer ir, mas não explica o caminho a ser seguido. A falta de direção assusta o eleitorado.
; Fernando Haddad (PT)
Se for ao segundo turno, precisa tomar as rédeas da candidatura. Caso contrário, vai ser o ;poste; iluminado por Lula. É necessário que Haddad se posicione. Hoje, pode sair o anúncio oficial de seu nome como cabeça de chapa, caso Lula sofra novo revés no STF.
; Henrique Meirelles (MDB)
A estratégia do ex-ministro de se colocar como alguém que atravessa governos (ele foi ministro da Fazenda do MDB e presidente do Banco Central durante o primeiro governo do PT) foi eficaz para estimular o eleitorado. Faltando menos de um mês para as eleições de outubro, é necessário que comece a investir em novas ideias.
; Jair Bolsonaro (PSL)
O ataque ao candidato em Juiz de Fora (MG) aumentou pouco o número de intenções de votos. Mas, é favorito para chegar ao segundo turno. Aproveitar o atentado para fortalecer a bandeira da segurança pública é tarefa a ser feita com cuidado. Caso contrário, esbarra no projeto de autorizar as armas de fogo.
; João Amoêdo (Novo)
Estender o discurso para os mais pobres é a maneira mais eficaz de aumentar as chances nas urnas. Precisa alcançar a população que vê o Estado como um fardo, ;ganhando; os eleitores indecisos com a saída de Lula. Amoêdo precisa encontrar uma maneira de fugir do estigma de candidato rico, sem experiência na política.
; Marina Silva (Rede)
Continua fazendo uma campanha orgânica, sem rompantes necessários para aflorar a campanha. Posicionou-se muito pouco, fechando as janelas de oportunidades que teve nos debates. Poderia ter ganhado protagonismo na televisão para complementar ideias nas redes durante a campanha de fato. Agora, precisa se fortalecer na internet.
Levantamento
Os dados da pesquisa Datafolha com os cinco primeiros colocadosBolsonaro 24%
Ciro 13%
Marina 11%
Alckmin 10%
Haddad 9%