Politica

Número de eleitores com 'voto envergonhado' pode decidir eleição

Analistas divergem sobre possibilidade de novos eleitores do candidato Jair Bolsonaro estarem 'saindo do armário' e se manifestando depois do atentado da semana passada

Lucas Valença - Especial para o Correio, Gabriela Vinhal
postado em 12/09/2018 06:00
Manifestação pró-Bolsonaro na Avenida Paulista: ataque em Juiz de Fora não afetou tanto os números do candidato
O número de eleitores que, por algum motivo, não divulgam com antecedência a escolha na urna, pode decidir as eleições presidenciais no país. O voto ;envergonhado; passou a ser tratado com maior destaque após a vitória de Donald Trump à presidência dos EUA e, agora, no Brasil, tem potencial para fazer a diferença para o candidato Jair Bolsonaro (PSL). Especialistas divergem, principalmente porque é difícil mensurar o impacto do fenômeno na eleição brasileira.

É o que explica o professor e cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Monteiro. Para ele, que também é coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad), o voto envergonhado é um fenômeno que se apresenta colado aos candidatos com expressão eleitoral e mais alinhados a pensamentos e propostas consideradas radicais. ;Quando ele ganha algum volume, o candidato começa a se deparar com outros públicos, além dos que são fiéis. A vergonha aparece quando, em algumas circunstâncias, o eleitor de centro decide votar em determinado candidato, mas não confessa;, explica. No entanto, o acadêmico acredita que o capitão reformado do Exército está no ;patamar esperado;: ;Não acredito que as pesquisas surpreendam tanto;, defende.

O professor de ciência política e pesquisador da UnB David Fleischer discorda, e considera que Bolsonaro pode apresentar uma percentagem razoável de votos envergonhados. Ele diz que o presidenciável do PSL está mais para Donald Trump do que para Marine Le Pen, da direita radical francesa. Diferentemente do candidato norte-americano que ganhou as eleições, a candidata à presidência da França não logrou vitória e também não obteve um número expressivo de votos não contabilizados pelas pesquisas eleitorais. ;Ele (Bolsonaro) deve ter alguns, temos de esperar pra ver. Mas deve ter mais votos envergonhados do que (Marine) Le Pen;, afirma.

Conforme antecipou o Correio, os votos de quem não se assume eleitor de Bolsonaro e dos indecisos são cobiçados pela alta cúpula da campanha do candidato ; estratégia que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do candidato, deixou claro. Para conseguir ganhar o máximo possível desses votos, pessoas ligadas ao presidenciável sondaram o marqueteiro político norte-americano Arick Wierson, que trabalhou na campanha do ex-prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg, para traçar novas estratégias e tentar uma vitória no primeiro turno.

;Uma pesquisa feita internamente por mim e por pessoas da minha equipe, desde o dia do ataque, mostram que há entre 8% e 10% do eleitorado que votaria no Bolsonaro, mas não têm coragem de declarar isso;, explica Wierson. O estrategista político destaca ainda que, para agradar a esse eleitorado, a imagem do postulante ao Planalto deverá ser mais ;branda e democrática;. O interesse pela mudança, que parte de Eduardo e do irmão Flávio, deixou a equipe achada. Segundo fontes ligadas à campanha, porém, os filhos do militar decidirão a estratégia.

Escolha útil


Segundo Paulo Calmon, professor de ciência política da Universidade de Brasília, o ;voto útil ou estratégico; também é um fator que precisa ser avaliado. Esse tipo de voto se dá quando o cidadão decide escolher um representante que acredita ter chance maior de vencer o candidato que ele mais rejeita. Porém, isso só se manifesta mais perto da eleição. ;Se o eleitor sentir que Bolsonaro tem mais chance de ganhar do candidato que ele não gosta, ele vai votar no Bolsonaro, por exemplo;, adverte.

A expectativa de que o candidato do PSL conseguisse captar votos a partir da comoção popular, como ocorreu em 2014 após a morte do presidenciável Eduardo Campos, frustrou a previsão de analistas políticos, defende David Fleischer. ;Ele não subiu tanto por causa da rejeição;, avalia. No levantamento divulgado pelo Ibope ontem, porém, os números apontam para uma tendência de crescimento do deputado federal.

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