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Filho de ditador flagrado com US$ 1,5 milhão pretendia vir a Brasília

Segundo diplomata da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Mangue trataria de problemas de saúde na capital. Vice-presidente de país africano já deixou o Brasil

Agência Estado
postado em 16/09/2018 16:41

Teodorin é filho do ditador Teodoro Obiang Nguema e vice-presidente da Guiné Equatorial

O vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Mangue, deixou o Brasil na madrugada deste domingo (16/9), depois de a Polícia Federal ter apreendido cerca de US$ 1,5 milhão em espécie e uma grande quantidade de relógios de luxo no Aeroporto de Viracopos, na sexta-feira. Teodorín, como é conhecido, é filho de Teodoro Obiang Nguema, ditador da Guiné Equatorial, no poder há 39 anos.

Segundo seu secretário particular, Lemenio Akuben, Teodorin retornou ao país natal sem maiores problemas, mas os bens seguem apreendidos. O diplomata pediu a devolução do dinheiro e das joias e disse que o vice-presidente estava sob proteção da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e não poderia ter sido alvo de inspeções alfandegárias comuns.

Em entrevista à Agência Estado, o diplomata disse que parte do dinheiro apreendido seria usado em despesas médicas em Brasília. "O vice-presidente se encontra mal de saúde e necessita de tratamento médico. Ele viria a Brasília para um atendimento médico e depois iria para Cingapura em missão oficial", disse o secretário, sem especificar qual enfermidade afeta o filho do ditador. "O dinheiro apreendido pertence ao Tesouro nacional e seria usado em outras viagens que o vice-presidente faria depois de passar pelo Brasil. Já o relógios são todos usados", afirmou (leia entrevista abaixo).

Mala apreendida pela Receita Federal em Viracopos: cerca de US$ 1,5 milhãoAkuben afirmou ainda que as visitas de Teodorin ao Brasil são frequentes. "O vice-presidente ama o Brasil e vem para cá com frequência para reforçar laços que nos unem. Quero pedir ao governo brasileiro que respeite as regras internacionais da Convenção de Viena para que essas coisas sejam devolvidas."

Segundo relato do governo brasileiro, o avião de Teodorín aterrissou em Campinas por volta de 9h45. Por causa das prerrogativas do cargo, o vice-presidente não foi submetido a vistoria. No entanto, sua equipe foi fiscalizada, o que levou à apreensão dos bens.

Pelas normas da Receita, só é permitido entrar com até R$ 10 mil em espécie no País. E, ainda assim, se a origem do dinheiro não for justificada, ele pode ser apreendido. No caso dos relógios e joias, a quantidade levantou suspeitas de que pudessem ser destinados à comercialização. Nesse caso, não poderiam ingressar como bagagem.

Na entrevista, o diplomata disse que houve suspeita de que drogas estariam no avião. Pensavam que havia droga no avião. Mas não havia sequer indícios. Graças a Deus, porque o vice-presidente não usa droga. São informações falsas que o Ocidente fala, mas ele não usa nada disso.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

É verdade que a Receita apreendeu US$ 1,5 milhão em dinheiro e uma grande quantidade de relógios trazidos pelo vice-presidente?

Efetivamente, sucedeu isso. Tínhamos autorização diplomática, avisamos que o vice-presidente chegaria. Há um artigo da Convenção de Viena que diz que sempre que viaja um dignitário, sua bagagem pessoal não é verificada.

O que deu errado?

Chegamos ao aeroporto, a Polícia Federal nos acompanhou para receber o vice-presidente, o que fizemos com toda tranquilidade. Nos conduziram para a porta doméstica, onde o vice-presidente ia pegar um helicóptero para São Paulo. Naquele momento, fomos agredidos. Disseram que a maleta do vice-presidente teria de voltar para passar por uma inspeção aduaneira. Ficamos confusos, porque nunca foi assim. O vice-presidente ficou no carro e nós voltamos para a aduana.

Chegando lá, o que aconteceu?

Falei para eles que o vice-presidente tem isenção de abrir as malas e passar por inspeção. Liguei para o Itamaraty, e o Itamaraty enviou um documento urgentíssimo para que a Receita pudesse liberar o vice-presidente (essa informação é desmentida por fontes do ministério). Mas o documento foi prontamente denegado pelas autoridades aeroportuárias. Disseram que teríamos de abrir a mala.

Qual foi sua reação?

Pedi para não abrirem com força. Então me deram um minuto para abri-la, do contrário iriam pegá-la e rompê-la à força. Fiquei com muito medo. Eles estavam armados. Fui correndo rapidinho até o vice-presidente, acompanhado por dois policiais, quase como um preso. Pedi um minuto para explicar a situação ao vice-presidente. Ele ficou muito nervoso e me entregou a chave.

E encontraram o dinheiro e os relógios. Por que trazer essa quantidade em espécie?

O vice-presidente viria a Brasília para um atendimento médico e depois iria para Cingapura em missão oficial. Os relógios são todos usados. Todos têm as iniciais T.N.O, Teodoro Nguema Obiang. Eles prenderam tudo e me deram recibos. Depois disso, me deram um tratamento normal. Acalmaram-se.

E o vice-presidente?

Ficou no aeroporto até as 17 horas, depois foi liberado. Nós, da comitiva, fomos conduzidos a outra parte do aeroporto para sermos interrogados um a um pela Polícia Federal. Saímos de lá às quatro da manhã.

É verdade que eles ficaram perguntando sobre droga?

Pensavam que havia droga no avião. Mas não havia sequer indícios. Graças a Deus, porque o vice-presidente não usa droga. São informações falsas que o Ocidente fala, mas ele não usa nada disso.

O que aconteceu após os interrogatórios?

Nos deram R$ 10 mil, que é o único valor que o vice-presidente poderia trazer ao Brasil. Mas, por exemplo: onde moramos, R$ 10 mil não dá para pagar nem um minuto. Tentei explicar que ele mora em um hotel de luxo porque é um vice-presidente.

E agora?

Estamos numa situação muito difícil, porque não temos nem como fazer depósito no hotel. Se não fôssemos bons clientes, estaríamos morando na rua. Com R$ 10 mil, você sabe São Paulo é uma cidade imensa. Uma comitiva não pode viver com R$ 10 mil.

O dinheiro era para ele e para a comitiva.

Sim. Propus que liberassem o dinheiro, porque é do Estado. E tem pessoas a quem o dinheiro lhes corresponde. Não é todo do vice-presidente. É um dinheiro de Estado para os serviços que vai fazer depois do Brasil.

Vocês não usam cartão de crédito?

Tenho meu cartão de crédito. Não sei explicar se o vice-presidente tem ou não.

Do ponto de vista formal, existe alguma providência que a embaixada vá tomar, por causa da revista das malas?

Vamos reiterar que devolvam as coisas ao vice-presidente. E, como diplomatas, vamos tomar providências junto ao Ministério das Relações Exteriores.

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