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Politica

Incertezas da disputa eleitoral podem provocar surpresas nas pesquisas

Crise política e econômica, com campanhas de forte cunho emocional, sugere instabilidade nas preferências dos eleitores, incluindo chances de mudança nas últimas semanas, a exemplo do que houve em 2014

Quem acha que o quadro eleitoral está consolidado é melhor apertar os cintos e se preparar para as turbulências. Vários fatores sugerem possibilidade de mudança no quadro de intenções de votos revelados pelas pesquisas até o primeiro turno, em 7 de outubro.

;Quando olharmos para esta eleição daqui a muitos anos, a principal marca será a incerteza;, afirma Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB). O cientista Bruno Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vai na mesma linha: ;É uma eleição atípica, que ocorre sob o signo da revolta, devido à crise econômica e à Lava-Jato;.

A mudança esteve presente em 2014, apesar de a disputa da época ter menos candidatos de peso e uma polarização mais clara. Há quatro anos, a candidata Marina Silva, então no PSB, seguia confortavelmente em direção ao segundo turno. Tinha 29% da preferência do eleitor na pesquisa do Ibope que saiu a campo entre 20 e 22 de setembro. Inicialmente na vaga de vice, ela foi alçada à cabeça da chapa após a morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), apresentava 38%. Aécio Neves (PSDB) estava em terceiro lugar, bem abaixo de Marina, com 19% (Leia quadro). No levantamento do Datafolha realizado próximo à data, os números eram próximos: Dilma tinha 37%; Marina, 30%; e Aécio, 17%.

Aécio subiu progressivamente nos levantamentos seguintes. Só apareceu à frente de Marina na véspera do pleito, mas com apenas entre dois a três pontos percentuais à frente dela, dependendo da pesquisa. Nas urnas, ficou com mais de 12 pontos de vantagem. É verdade que a queda de Marina havia se configurado alguns dias antes. Ela chegou a empatar com Dilma na virada de agosto para setembro. A partir de então, caiu progressivamente. Aécio conquistou esses eleitores, mas não de imediato.

Para Calmon, do Ipol/UnB, nem mesmo os votos consolidados são garantia de que a pessoa ficará com o candidato até a urna. A pergunta feita pelos institutos é se a pessoa tem certeza da escolha ou se pode alterá-la. ;O problema é que isso é subjetivo. O eleitor tem aquela opinião de acordo com as informações de que dispõe, mas isso pode mudar;, assinala. Os votos consolidados são mais fortes nos casos de Jair Bolsonaro (PSL), com 75% entre os que o apoiam, e Fernando Haddad (PT), com 72%. Ciro Gomes (PSB) tem 45%; Alckmin, 39%; e Marina, 38%.

Prazo

Analistas chamam a atenção para o fato de que muitas pessoas tomam a decisão de voto nos últimos dias da campanha, mas a mudança começa a despontar com alguma antecedência. Portanto, qualquer virada precisa se configurar nos próximos dias.

Quem tem mais chances de crescer é Alckmin, por toda a estrutura de campanha, incluindo tempo de tevê, partidos políticos que o apoiam e dinheiro do fundo partidário. ;Esse movimento, porém, já deveria ter se iniciado para que tivesse força;, diz o cientista político Murilo Aragão, da consultoria Arko Advice. Ele limita as possibilidades de mudanças no quadro eleitoral a algum grande erro que venha a ser cometido por um candidato ou à revelação de algum grande escândalo sobre um deles. Estima em 80% as chances de Bolsonaro estar no segundo turno. Para Haddad, são 60%. Restam chances para os outros, portanto, ainda que baixas.

Para Reis, da UFMG, é preciso que a reação da campanha tucana dê sinais de vida nos próximos dias. ;O espaço vai se fechando;, diz. ;Uma virada a favor de Alckmin é uma possibilidade teórica. Seria viável, caso os partidos do Centrão se empenhassem na campanha em favor dele, mas não é o que está se desenhando;.

Marina tem poucas chances de crescer, segundo os analistas. As possibilidades para Ciro são um pouco maiores, mas também vistas com cautela. ;Caso Haddad tivesse demorado a crescer, ele poderia ter ocupado o espaço do PT, mas não é o que aconteceu;, destaca Aragão, da Arko Advice. Calmon vê limitação de crescimento forte entre os candidatos que têm hoje 3% das intenções, como Alvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB). ;Nesses casos, teria de haver um movimento tectônico muito forte para que fossem alçados ao primeiro pelotão a esta altura;.

Ciro contesta números

Ciro Gomes, que segundo o Ibope tem 11% das intenções de voto, publicou no Twitter um vídeo contestando o resultado da pesquisa. Segundo o candidato, levantamentos internos do PDT, que não podem ser divulgadas, ;dão números completamente diferentes;. ;Eu quero lembrar o que aconteceu na reta final das últimas eleições, as de 2014, quando as pesquisas davam um quadro completamente diferente do resultado verdadeiro que saiu depois;, argumentou o candidato.