Há quatro anos, na última eleição presidencial, o país começava a entrar na pior recessão de sua história, da qual ainda não se recuperou completamente ; uma demonstração disso é o número recorde de 13 milhões de desempregados. O temor de que venha a cair em um novo ciclo negativo por imperícia do governante tem grande peso na decisão dos eleitores. Não é à toa que os candidatos a presidente tentam acenar com nomes e propostas de credibilidade. Nos casos dos dois líderes nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), analistas de mercado veem motivos para desconfiança, ainda que também haja expectativa de que possam tomar decisões acertadas.
Bolsonaro fez o movimento pró-mercado faz tempo, ao escolher o economista Paulo Guedes, doutor em economia pela Universidade de Chicago, o templo do liberalismo econômico. O problema é que o candidato sempre defendeu ideias antiliberais. Como deputado, votou contra o Plano Real. E acaba de desautorizar Guedes, que falou no início desta semana a uma plateia restrita sobre a possibilidade de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) para equilibrar as contas públicas. Bolsonaro diz que não quer saber de novos impostos.
Haddad tenta se aproximar de ideias de mercado agora, mas enfrenta a descrença pelos acenos que já fez às alas mais à esquerda de seu partido e também pelos erros do governo da correlegionária Dilma Rousseff, a qual ele tem criticado em tom moderado. O ex-prefeito de São Paulo já disse que busca alguém parecido com ele mesmo para chefiar a equipe econômica, e fez questão de dizer que Lula cogitou nomeá-lo ministro da Fazenda ; acabou ficando na pasta da Educação.
Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, os sinais de Haddad são esperados. ;A esquerda não é uma coisa só, nem o PT, e Haddad é dos mais moderados. Ele não é Dilma. E nem Dilma seria o que foi, hoje, porque o momento é diferente;, diz. No caso de o petista ser eleito, ela espera um governo com idas e vindas. ;Ele vai tentar algumas coisas, não vai conseguir todas. Haverá volatilidade nos mercados. Será algo entre o que se viu no primeiro mandato do governo Lula e no segundo;, avisa.
Na eventualidade de Bolsonaro ser escolhido, a situação é mais incerta. ;Nós já sabemos o que é o populismo de esquerda. Uma coisa é o palanque, outra quando realmente decidem fazer as coisas. O populismo de direita é uma incógnita;, avalia. Não é possível dar como certo, na visão de Zeina, nem mesmo que Guedes será escolhido ministro da Fazenda e, caso seja, que terá respaldo e permanecerá no cargo. O fato de a Bolsa subir e o dólar cair quando Bolsonaro avança nas pesquisas não pode ser tomado como sinal inequívoco de otimismo. ;O mercado vira muito rapidamente;, afirma. Ela lembra que houve ampla aprovação quando Joaquim Levy foi escolhido ministro da Fazenda de Dilma, mas, diante da resistência que ele enfrentou no governo e no Congresso, isso mudou.
Insegurança
Amaury Fonseca Junior, sócio da gestora de recursos Vision, afirma que o investidor estrangeiro ainda não tem clareza sobre os planos dos candidatos para a economia. ;É natural que isso só seja conhecido de fato com a proximidade da eleição, a uma semana de o eleitor ir para a urna;, afirma.Ele diz que os governos petistas foram, no geral, positivos, mas tiveram um aspecto muito ruim: as mudanças de regras nas áreas de petróleo e energia elétrica. ;Isso não foi ruim só para essas áreas. Conheço muitos investidores de outros setores que desistiram de entrar no país por verem insegurança generalizada a partir dessas decisões;, explica. ;No caso de Bolsonaro, há incerteza. A revista britânica The Economist afirma que será um governo catastrófico. Mas acho exagero. Vai depender do que ele apresentar. O que é necessário é que qualquer candidato tenha noção do quanto o país depende de capital estrangeiro para crescer. E, sem confiança, ele não virá;, alerta.
Nas discussões sobre a escolha para ministro da Fazenda, quatro nomes rondam a cúpula petista. Do mundo empresarial, as possibilidades seriam Luiz Carlos Trabuco, ex-presidente do Bradesco, e Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas. Do lado acadêmico, o diretor do Insper, Marcos Lisboa, é um nome citado. Há boas razões para isso. Ele integrou a equipe econômica no primeiro mandato do governo Lula. E é próximo de Haddad, que é professor do Insper. Lisboa nega que tenha sido procurado, mas também não diz que recusaria um convite. Ressalta, porém, que já fez críticas a propostas petistas, como aumentar a taxação de bancos que não reduzirem juros.
Outro nome citado entre economistas ortodoxos é o de Samuel Pessoa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que também nega qualquer sondagem. Ele foi colega de Haddad no curso de mestrado em economia na Universidade de São Paulo (USP). A economista Zeina Latif, da XP Investimentos afirma que não será tão fácil atrair pessoas com esse perfil para o governo. ;A experiência negativa que o Joaquim Levy teve vai atrapalhar. Uma pessoa que vai para o governo empresta sua reputação;, destaca.
O ex-coordenador de política fiscal da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda Geraldo Biazoto aposta em alguém do mundo empresarial. ;Seria muito arriscado, do ponto de vista do ânimo da economia, entrar com uma pessoa de perfil menos pró-mercado. O Trabuco não seria uma opção real se a gente analisasse assim. O Josué Gomes é perfeito, indica ideia de produção, fala com o setor privado, não deixa a hegemonia para o mundo financeiro;, avalia Biazoto, que é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).