Politica

Especialistas avaliam as opções para marcha da insensatez definida por FHC

Segundo especialistas, o antipetismo e o desgaste do partido do ex-presidente e das candidaturas de centro complicaram o cenário

Simone Kafruni
postado em 22/09/2018 07:00
A carta escrita por FHC deixa claro que a vitória de Haddad ou de Bolsonaro seria o triunfo do radicalismo

Com as pesquisas de intenção de votos antecipando um cenário de polarização que deveria ocorrer apenas no segundo turno, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou uma carta aos eleitores, na qual alerta para a necessidade de os candidatos que não se aliam às visões radicais de esquerda e direita ; representadas por Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) ; juntarem forças a fim de deter o que chamou de ;marcha da insensatez;. Para os especialistas, a radicalização, alimentada pela recessão econômica e pela crise institucional, é reflexo do desgaste do PSDB, partido do ex-presidente, da fragmentação das candidaturas de centro e do antipetismo.

Uma saída, na opinião dos analistas, seria aglutinar forças em uma terceira via: um postulante menos indigesto do que os dois extremos. Mas a avaliação é de que dificilmente algum candidato desistirá de concorrer para apoiar outro. Para o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, a repercussão negativa do apoio do centrão ao PSDB e o desgaste da legenda, após o envolvimento de Aécio Neves com a JBS, a prisão de Beto Richa, ex-governador do Paraná, e busca e apreensão contra o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, desidrataram a candidatura tucana. ;A declaração de FHC sobre uma aliança com o PT também criou dificuldade;.

Marcus Vinícius Macedo Pessanha, especialista em direito constitucional e cientista político, pontuou que o antipetismo é maciço e fortaleceu a candidatura de Bolsonaro. ;Depois que Lula se retirou formalmente da disputa, o crescimento do Haddad fez os candidatos de centro perderem votos. Eleitores de centro-direita começaram a correr para Bolsonaro;, analisou. O medo do adversário antecipou o segundo turno, segundo ele. ;O voto ideológico é no primeiro turno. Mas, com a polarização alimentada pelas crises econômica e institucional, o eleitor pulou de fase e partiu para o voto útil;, disse.

Na percepção do professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu Monteiro, os dois extremos se alimentam. ;A candidatura de Bolsonaro vinha estagnada. Com o atentado, criou uma pequena bolha e subiu dois pontos. Depois que o PT definiu Haddad e a primeira pesquisa mostrou o crescimento vertiginoso do petista, como reação, o representante da extrema direita também subiu. Há um efeito de retroalimentação que esvaziou o centro;, assinalou.

O especialista lembrou, no entanto, que os extremos têm, em média, 30% das intenções de voto, segundo as pesquisas mais recentes. À direita, com Bolsonaro, e à esquerda, com a soma de Haddad e de Ciro Gomes (PDT). O quadro mostra ainda entre 21% e 22% de nulos, brancos e indecisos, avaliou. ;Os 20% de centro, que tradicionalmente definem uma eleição, estão órfãos de uma candidatura. Mas a soma deles com os indecisos, nulos e brancos poderia tornar um terceiro caminho viável;.


Fragmentação


Monteiro destacou que o dilema do eleitor de centro é que, como estão pulverizados em candidaturas fragmentadas, a migração teria que ser praticamente integral. ;Chegamos a um impasse. Esse é o sentido da mensagem de FHC. Se nada for feito agora, ficaremos prisioneiros de um dos extremos;, disse. Nenhum dos especialistas acredita na desistência de candidaturas de centro para formação de uma coalizão contra os extremos. ;O apelo de FHC é muito rarefeito. A força da intenção de voto está refratária à razão. Os eleitores votam com raiva e com medo dos opositores. O que o ex-presidente fez foi mostrar sua posição contrária à extrema direita;, avaliou Pessanha. ;Acho pouco provável que os atores políticos tenham esse desprendimento, porque um rearranjo é complicado neste momento da eleição. O que precisa ocorrer é um movimento dos eleitores;, sentenciou Monteiro.


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