Agência Estado
postado em 23/09/2018 08:00
O presidente do DEM, ACM Neto, disse que o Centrão não jogou a toalha. Coordenador da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, ele afirma que o atual quadro de dificuldades para o candidato tucano é fruto de uma "comoção" causada pelo atentado sofrido por Jair Bolsonaro (PSL), além da novela em torno da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de quem seria o herdeiro do espólio petista. "Nós sabíamos que apoiar Geraldo não era o caminho mais fácil", afirmou ACM Neto, que é prefeito de Salvador. "Agora, a eleição não pode ficar entre uma prisão e uma facada. Depois, não adianta chorar sobre o leite derramado."
Por que a campanha de Geraldo Alckmin chegou a essa situação dramática?
Não estamos vivendo nenhum drama. Até agora, a campanha acabou sendo dominada por dois fatos de caráter muito emocional. De um lado, a prisão de Lula e todo o debate sobre ele poder ou não ser candidato. De outro, a lamentável facada tomada pelo candidato Bolsonaro, que gerou uma comoção. Essa campanha ainda não teve espaço para o debate de propostas para o País.
E não houve erros?
Não adianta agora tratar sobre os erros. Isso não ajuda em nada. O que adianta é ajustar os ponteiros para a arrancada rumo ao segundo turno.
Em uma carta a eleitores, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um apelo pela união do centro para deter o que ele chamou de "marcha da insensatez". O sr. acha isso possível?
Com todo respeito à história do presidente Fernando Henrique, não adianta apenas esse apelo. É preciso que isso venha acompanhado de um movimento de líderes da sociedade, que possam ajudar a construir um ambiente favorável a essa conciliação do centro.
Mas o eleitor antipetista está indo para Bolsonaro, e não para Alckmin.
O que os antipetistas não estão enxergando é que, no segundo turno, dificilmente Bolsonaro reúne condições de derrotar o PT. Se as pessoas que não querem o PT de volta votarem em Bolsonaro, poderão eleger o Haddad (Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo).
O ex-governador está pagando o preço do escândalo envolvendo o senador Aécio Neves na Operação Lava Jato?
Geraldo tem uma das menores rejeições, apesar do desgaste do PSDB. Na hora em que nós o apoiamos, já sabíamos que o PSDB estava desgastado.
O Centrão quase apoiou Ciro Gomes (PDT), mas, na última hora, decidiu por Alckmin. O sr. se arrepende dessa aliança?
Não me arrependo de jeito nenhum. Nós sabíamos que não era o caminho mais fácil, mas era o melhor caminho para o País. E continuamos acreditando nisso. Quando digo que a gente tem que fugir desse conteúdo emocional é porque a eleição não pode ser decidida entre uma prisão e uma facada. Não há espaço para aventura nem para testes.
Mas muitos aliados do Centrão já estão abandonando Alckmin. Como conter a debandada?
Não há debandada. O deputado Onyx Lorenzoni, por exemplo, já estava com Bolsonaro antes de o DEM apoiar Geraldo. Caiado (senador Ronaldo Caiado, candidato do DEM ao governo de Goiás) não está fazendo campanha para presidente. No dia em que fechamos a aliança, Ciro Nogueira (senador e presidente do PP) deixou claro que não teria como fazer a campanha no Piauí. Nós vamos com Geraldo até o fim. Acreditamos na virada.
E se o segundo turno da eleição ficar entre Bolsonaro e Haddad ou até entre Bolsonaro e Ciro? O bloco vai se dividir?
Não cogito essa hipótese nesse momento. Eu só tenho um foco: levar Geraldo ao segundo turno. Espero que nós não estejamos condenados a viver um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Depois, não adianta chorar sobre o leite derramado.
O sr. chegou a dizer, a portas fechadas, que viajaria para o exterior, para não votar, se o segundo turno ficasse entre Bolsonaro e um candidato do PT. A promessa poderá ser cumprida?
Eu não quero avaliar o que será do Brasil nessa hipótese.
O economista Paulo Guedes, guru de Bolsonaro, propôs a criação de um novo imposto, nos moldes da CPMF, para financiar a Previdência. O sr. afirmou que esta é uma pauta do PT, mas no governo FHC o então PFL, hoje DEM, apoiou esse tributo.
Naquele momento, a CPMF era em caráter transitório, para financiar a saúde. A essa altura do campeonato, o Brasil não pode penalizar a classe média e os mais pobres para sair da crise. Vamos ter de discutir tributação sobre herança e dividendos, mas não CPMF. Bolsonaro vinha pregando a redução de impostos. A declaração do Paulo Guedes desmascara isso. O Brasil não pode eleger alguém sem saber o que ele vai fazer. Já vivemos isso com Collor (Fernando Collor, hoje senador), em 1989, e deu no que deu.
O Centrão é conhecido por ter apreço aos cargos. O bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e SD participará de qualquer governo?
Eu não incluo o DEM nessa qualificação de Centrão que você faz. O DEM só estará no governo se concordar com suas propostas. Nós resistimos na oposição nos dois mandatos de Lula e em um e meio de Dilma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.