Leonardo Cavalcanti
postado em 29/09/2018 08:00
Internado há 24 dias, desde que sofreu um atentado a faca durante campanha nas ruas de Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro (PSL) percebeu o mal do isolamento na própria campanha, que sofre com a descentralização de comando nas principais decisões. A oito dias do primeiro turno, o militar reformado tenta retomar a função de principal orientador do grupo. Parte das decisões foi tomada sem a presença do presidenciável e, não à toa, a semana termina como a pior deste período eleitoral. A sequência de reportagens sobre relatos da ex-mulher do capitão envolvendo ;ameaças de morte; ; e até furto de banco ; e as declarações do general Hamilton Mourão, vice na chapa do PSL, geraram tensão a ponto de a equipe mais próxima do deputado torcer para o fim do primeiro turno, dada a estagnação nas pesquisas eleitorais e o aumento da rejeição.
Como revelou com exclusividade o Blog da Denise, do Correio, Mourão estressou o núcleo da campanha ao afirmar que o 13; salário e o adicional de férias são ;jabuticabas brasileiras; e ;uma mochila nas costas do empresário ; declaração imediatamente aproveitada pelos adversários.
No Twitter, o próprio Bolsonaro respondeu de imediato às declarações do vice Mourão. ;O 13; salário do trabalhador está previsto no art. 7 da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por Proposta de Emenda à Constituição). Criticá-lo, além de ser uma ofensa a quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição.; Ainda na noite de quinta-feira, Mourão foi vetado de participar de debates e passou a ter os passos monitorados. ;É preciso colocar uma focinheira na boca dele, se transformou em um cara imprevisível. Mas ficou acertado que vai permanecer calado;, disse um dos assessores. Mourão já havia se pronunciado sobre pelo menos dois assuntos bombas ; o risco maior de filhos criados por avós e mães entrarem para o tráfico e a possibilidade de uma Constituição sem participação popular.
;O general é aquele que vê uma casca de banana do outro lado da rua e decide atravessá-la só pelo prazer de escorregar;, disse um integrante da equipe de assessores de Bolsonaro. O general é, hoje, o maior problema do candidato do PSL, mas também não deixa de ser o reflexo de uma equipe de campanha sem hierarquização. ;A descentralização é algo muito bem-vindo nas estratégias modernas de uma eleição, mas o que está ocorrendo é uma guerra de vaidades e desorganização;, definiu o assessor. A expectativa é de que, com a saída de Bolsonaro do hospital, prevista para hoje, o rumo da corrida seja retomado a uma semana da eleição.
Núcleos
Hoje, a campanha de Bolsonaro tem três núcleos. O primeiro é formado pelos filhos do capitão reformado, que estavam mais próximos dele durante o período de internação pós-atentado. O segundo agrupa os políticos propriamente, entre eles, os deputados Major Olímpio (PSL-SP) e Onix Lorenzoni (DEM-RS), além do presidente do partido, Gustavo Bebianno. O terceiro, com sede em Brasília, é chefiado pelo general Augusto Heleno. ;Nunca, em momento algum, a história do 13; salário foi discutida na campanha. Não faz parte do plano de governo e das ideias de Bolsonaro;, afirmou Heleno, em entrevista exclusiva ao Correio. ;O problema do nosso país é a desigualdade, e os benefícios do salário extra abrangem 99% da população. Nada justifica acabar com ele, por mais que possa ter algum custo para o uma pequena parcela do empresariado. Bolsonaro não adotará tal medida nunca.;Outro integrante do núcleo colocado de molho na última semana foi o economista Paulo Guedes, depois de sugerir o retorno da CPMF, o imposto sobre movimentações financeiras, e a redução da alíquota de imposto de renda para 20%, o que favorecia os mais ricos. Nos bastidores, a história do fim do 13; salário é colocada como tema de uma conversa entre Guedes e Mourão antes das declarações do general no Rio Grande do Sul, na quarta-feira.
A figura do vice-presidente é uma referência para o eleitor, principalmente depois do impeachment de Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer. A hipótese de bate-cabeça entre Bolsonaro e Mourão, mesmo que pontual, é um risco, principalmente diante do fato de que a chapa segue uma disposição diferente da hierarquia militar, em que o general manda no capitão em qualquer circunstância. Por ora, a campanha deve pagar para ver o tamanho do desgaste, apostando na rápida resposta de Bolsonaro para debelar o fogo.