Agência Estado
postado em 29/09/2018 20:24
Cerca de 30 mulheres trabalharam por cerca de duas semanas para organizar o ato de protesto contra o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. O grupo se formou espontaneamente, em duas reuniões plenárias com cerca de 100 mulheres, a partir de contatos feitos nas redes sociais. Todo o dinheiro para alugar um carro de som, montar um palco e contratar seguranças foi levantado por doações mobilizadas pelas organizadoras, informou Natália Trindade, integrante do grupo e militante da União Brasileira de Mulheres.
Os manifestantes contrários a Bolsonaro lotaram a praça da Cinelândia e marcharam até a Praça XV, no Centro do Rio, na tarde deste sábado. Os manifestantes se reuniram em torno do palco na Praça XV por volta das 18 horas. O ato carioca também teve militantes de partidos políticos. Segundo Natália, a organização do ato foi suprapartidária - militantes de partidos e bandeiras partidárias não foram excluídas, mas o que uniu o movimento foi a oposição a Bolsonaro.
"Estamos aqui para apresentar resistência, dizer que o País que queremos é sem fascismo", disse Natália, no backstage do palco montado na Praça XV. Natália citou as declarações do candidato a vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, sobre o fato de famílias chefiadas por mães e avós criarem filhos degenerados, e do próprio candidato do PSL, sobre o fato de ter tido uma filha quando deu uma "fraquejada" como exemplos do fascismo representado pela candidatura.
A militante disse ainda que a mobilização deve continuar. Embora espere que Bolsonaro não chegue nem no segundo turno, Natália afirmou que um segundo ato de mulheres contra o candidato pode ser convocado antes do pleito decisivo de 28 de outubro.
Os protestos contra a candidatura de Bolsonaro foram convocados de forma espontânea, em várias cidades do País e também no exterior, a partir da criação do grupo "Mulheres Unidas contra Bolsonaro" no Facebook, no último dia 30. No Rio, o principal palco de manifestação é a Cinelândia, no Centro.
A mobilização por meio das redes sociais começou a chamar a atenção na segunda-feira, dia 10, ao agregar mais de 300 mil mulheres em um único dia. Neste sábado, o grupo, fechado, contabilizava 3,9 milhões de participantes. A adesão é um reflexo da rejeição à Bolsonaro entre as eleitoras - o porcentual de mulheres que, nas pesquisas de intenção de voto, dizem que jamais votariam no deputado fluminense é maior do que o de homens.
O crescimento do grupo provocou reação em meados deste mês. No fim de semana dos dias 15 e 16, quando tinha em torno de 2,5 milhões de participantes, o grupo chegou a ficar fora do ar após ser hackeado e ter seu nome mudado, com alusão favorável a Bolsonaro. Várias mulheres do grupo foram agredidas verbalmente e receberam ameaças via internet. Paralelamente, naquele fim de semana, a hashtag #EleNão foi utilizada 193,4 mil vezes e a #EleNunca outras 152 mil vezes em todo o País.
A reação ao movimento incluiu suspeitas de violência física no Rio. Uma das administradoras do grupo na cidade registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil afirmando que foi agredida na noite da última segunda-feira, quando chegava em casa, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio, por dois homens ainda não identificados. A ativista afirmou que vinha sendo ameaçada nas redes por causa da militância política, mas disse que não podia afirmar quem eram os agressores. Os homens levaram apenas o celular da vítima, deixando os demais pertences.