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Diplomata "trumpista" é cotado para chefiar MRE caso Bolsonaro seja eleito

Ernesto Fraga Araújo enviou à cúpula da campanha do presidenciável o artigo "Trump e o Ocidente", de sua autoria, que deixou os responsáveis pelo programa de governo e análises bem impressionados

Silvio Queiroz, Leonardo Cavalcanti, Paulo Silva Pinto
postado em 03/10/2018 14:50
O diplomata Ernesto Fraga Araújo

O diplomata Ernesto Fraga Araújo é cotado no círculo mais próximo de Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o Ministério das Relações Exteriores, em caso de vitória do candidato. Diretor do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty, ele enviou à cúpula da campanha do presidenciável o artigo Trump e o Ocidente, de sua autoria, que deixou os responsáveis pelo programa de governo e análises bem impressionados.

;O presidente Donald Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais;, afirma o texto. Bolsonaro é admirador confesso do presidente norte-americano.

Procurado, Araújo disse que mandou o artigo não apenas para a campanha do PSL. ;Enviei para várias pessoas com interesse em política internacional;, sustentou. Ele negou que tenha mantido comunicação profunda com a equipe do presidenciável. ;Não conversei com ninguém lá sobre isso;, ressaltou. Ele também afirmou não ter recebido nenhuma sinalização de que seria convidado para o cargo máximo do Itamaraty.

Há várias razões para que o nome do provável comandante do Itaramaty seja anunciado antes do resultado final das urnas. Uma delas é que a campanha está preocupada em mostrar densidade ao possível futuro governo. A escolha do economista Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda é considerada um acerto, ao mostrar que essa área ficará a cargo de alguém de renome e alinhado com o mercado. Guedes é doutor em economia pela Universidade de Chicago, de grande reputação e considerada o templo das ideias de livre mercado.

Blog


Um outro motivo é que Jair Bolsonaro gosta de pessoas de destaque que demonstram simpatia por ele. Araújo tem um blog pessoal em que declara apoio ao canditado e critica o PT, partido de Fernando Haddad, que está em segundo lugar nas pesquisas. Em sua página eletrônica, ele afirma que ;o PT (partido terrorista) está se preparando para tomar o poder no Brasil;.

Na apresentação, o diplomata declara: ;Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertar da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. É um sistema anti-humano e anticristão;. Ele também relata ter participado das manifestações a favor do candidato em Brasília, no domingo: ;O movimento popular por Bolsonaro não se nutre de ódio, mas de amor e esperança...; Há também uma foto na qual o diplomata, diferentemente de suas imagens nos últimos anos, não usa mais barba.

Reservas


Entre diplomatas, a possível escolha é vista com ressalvas. Embora Araújo tenha tido uma trajetória consistente no Itamaraty, chegando em 2016 a ministro de primeira classe, o topo da carreira, ele ainda não assumiu representações de peso no exterior. A escolha poderia causar ;desconforto;, na avaliação de um funcionário de alto escalão do Itamaraty. É mais fácil para os diplomatas aceitarem que seja nomeado um político no cargo de chanceler do que alguém da própria estrutura que não tenha passado por todas as etapas consideradas necessárias para a função.

Acima de Araújo estão hoje, além do ministro, o secretário-geral e nove subsecretários-gerais. No Exército, por exemplo, esse tipo de escolha, passando por cima de nomes mais experientes, não seria jamais cogitada. Mas, embora militar reformado, Bolsonaro não demonstra ter a mesma preocupação com órgãos civis, como o Itamaraty.

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