Leonardo Cavalcanti, Lucas Valença - Especial para o Correio
postado em 04/10/2018 06:00
A velha divisão das tendências do PT voltou na reta final de campanha à Presidência da República, depois do crescimento do deputado Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas de opinião. Nos debates internos da legenda, as discussões vão desde a exposição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até os movimentos do candidato Fernando Haddad em busca de alianças para o segundo turno. Publicamente, ninguém do partido diz trabalhar com a hipótese de vitória imediata do capitão reformado, liquidando a eleição no próximo domingo, 7. Os petistas acreditam que para que isso ocorresse seria preciso um avanço de quase 12 pontos percentuais do adversário, algo pouco provável nos dias finais de campanha.
A principal divergência é sobre a exposição de Lula nos próximos dias. Parte dos petistas acredita que a capacidade de transferência de votos do padrinho político para o afilhado já bateu no teto, o que significa que Haddad precisa andar com as próprias pernas, evitando assim absorver mais a rejeição do ex-presidente. O índice de desaprovação ao ex-prefeito de São Paulo cresceu mais do que o de apoios nos últimos dias. Outro grupo defende uma aproximação ainda maior com o ex-presidente, pois a capacidade de movimentação de correligionários de Lula em direção a Haddad não chegou ao fim. A dificuldade aqui é, mesmo colados até agora, o ex-prefeito não alterou os percentuais para além da margem de erro nos últimos cinco dias.
O discurso único é que a dificuldade atual de Haddad viria de ataques de aliados de Bolsonaro nas redes sociais abertas e fechadas. O ex-prefeito chegou a reclamar da ação durante entrevistas ao longo do dia. ;Os movimentos estão, principalmente, em grupos conservadores e religiosos;, disse um integrante da campanha petista, que identificou os ataques mais fortes nas últimas 48h. Outra explicação estaria nos ataques do tucano Geraldo Alckmin e do pedetista Ciro Gomes. ;A campanha de Haddad valoriza os ganhos do governo Lula e deve permanecer nesse tom até o final;, afirma o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Segundo ele, a militância tradicional petista na reta final deve levar o ex-prefeito a sair das urnas com índices maiores do que os indicados na pesquisa.
Um segundo motivo de divergência está na composição de segundo turno. Enquanto um grupo avalia que Haddad deve procurar apoios, inclusive em setores do PSDB, outro bloco defende alianças com partidos de esquerda. ;No segundo turno, o PT precisa esquecer o velho partido, reforçando posições a favor de ajuste fiscal e contrário à corrupção. Para isso, é preciso buscar apoio na sociedade, no mercado e no Parlamento;, afirma Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Personagens como José Dirceu, por exemplo, estariam distantes do centro da campanha.
No entanto, mesmo após sofrer ataques de candidatos adversários, integrantes do PT na Câmara acreditam que, em um eventual segundo turno, alguns postulantes ao Palácio do Planalto devem anunciar apoio à campanha petista. Entre eles, está Ciro Gomes que tem feito discursos considerados fortes contra os líderes das pesquisas. ;Se o Ciro for para o segundo turno, nós vamos apoiá-lo. Então, se Haddad for, acreditamos que o pedetista vai nos apoiar;, afirmou a deputada federal Maria do Rosário, sabendo que as pesquisas têm demonstrado um provável segundo turno entre PT e PSL.
A crença é de que Jair Bolsonaro não chegue a liquidar a eleição no domingo. Integrantes do PT defendem que a rejeição do capitão reformado é maior do que a de Haddad, o que impediria um crescimento tão próximo do pleito. Assim também acredita a deputada federal Erika Kokay, que afirma não possuir dúvidas de que o petista estará no segundo turno. Para a parlamentar, o discurso de que a eleição vai ser encerrada domingo, é ;fruto de uma vontade de parte da elite; do país.