Politica

Estrangeiros avaliam que novo presidente terá dificuldades em governar

Acadêmicos norte-americanos avaliam polarização acirrada entre petistas e bolsonaristas e afirmam que, dificilmente, o vencedor do pleito conseguirá levar adiante as reformas de que o país precisa por conta da divisão no Congresso

Jorge Vasconcelos
postado em 06/10/2018 07:00
Manifestantes fazem protesto por Lula Livre em Curitiba.
A corrida ao Palácio do Planalto é acompanhada de longe pela lupa privilegiada de estrangeiros há anos dedicados a pesquisar o Brasil. Ouvidos pelo Correio, três brasilianistas americanos falaram sobre os fatores que consideram os mais surpreendentes da disputa: o avanço da extrema direita e o alto poder de transferência de votos do ex-presidente Lula, mesmo condenado e preso por corrupção. Eles também avaliaram que os elevados índices de rejeição de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), respectivamente, 1; e 2; colocados nas pesquisas de intenção de voto, trarão dificuldades tanto na busca de alianças para um eventual segundo turno como para colocar a economia nos trilhos, em caso de vitória de qualquer um dos dois candidatos.

;À primeira vista, o problema da rejeição é mais sério para o Bolsonaro, mas a conjuntura brasileira é tão imprevisível quanto à dos Estados Unidos em 2016, quando Donald Trump venceu as eleições;, disse Kenneth P. Serbin, professor de história da Universidade de San Diego, na Califórnia, e vice-presidente da Associação de Estudos Brasileiros (Brasa, na sigla em inglês).

;Mas a necessidade de alianças no sistema brasileiro é tão forte que os dois candidatos podem acabar sendo obrigados a engolir alianças inimagináveis. Vale lembrar as alianças do Fernando Henrique Cardoso com o PFL e do Lula com o PL e o PMDB;, observou Serbin, que também é escritor e vai lançar, em 2019, o livro From Revolution to Power in Brazil: How Radical Leftists Embraced Capitalism and Struggled with Leadership (Da revolução ao poder no Brasil: como esquerdistas radicais abraçaram o capitalismo e lutaram com liderança).
Ao falar de Bolsonaro, ele se disse impressionado com o crescimento da extrema direita no Brasil. ;É preocupante o nível de popularidade de um Bolsonaro, que parece não aceitar as regras democráticas de tolerância e negociação. A direita está tendo um crescimento que era imprevisível há dez anos;, afirmou.

Por outro lado, para o brasilianista, o expressivo crescimento de Fernando Haddad nas pesquisas de opinião de voto pode ser atribuído à memória que grande parte do eleitorado tem do governo do ex-presidente Lula. ;Creio que nesta eleição o PT ainda vai ter um papel importante, pela popularidade de Lula e pelas lembranças que o povo tem do crescimento econômico durante a gestão dele;, disse Serbin. ;Claro, no entanto, que muitos eleitores se decepcionaram com os escândalos de corrupção durante os governos petistas e, dificilmente, votam novamente no partido;.


Alianças

Também o estudioso Peter Hakim, presidente emérito da ONG Inter-American Dialogue (Diálogo Inter-Americano), avalia que Bolsonaro poderá ter mais dificuldades que Haddad para estabelecer alianças para o segundo turno.

;Bolsonaro é um candidato incomum, especialmente extremo, até mesmo fanático, que rejeita e continuamente viola as normas extremamente frouxas e as restrições limitadas da política brasileira;, criticou.

Ele ponderou que, apesar disso, tudo é possível de acontecer na política brasileira. ;No Brasil, as alianças não são construídas com base em ideologias ou posições políticas. Elas são formadas, principalmente, para garantir empregos públicos em todos os níveis, fundos e outros benefícios para as cidades e estados, e, muitas vezes, compensações ilegais para os partidos aliados e suas lideranças;, afirmou Hakim.

Ainda sobre o candidato do PSL, o brasilianista disse ser ;muito difícil de analisar ou entender; o avanço da extrema direita no país. ;Fiquei sempre impressionado com a falta de qualquer partido ou movimento político de extrema direita no Brasil, quando comparado ao resto da América Latina ou à Europa;, observou.

;O surgimento da direita no Brasil é compreensível, considerando os prolongados problemas econômicos do país, a exposição de sua corrupção generalizada na política e nos negócios, o descrédito, até mesmo a deslegitimação de seus líderes, partidos políticos e instituições democráticas;, analisou o brasilianista. ;Mas a direita surgiu e se espalhou como um incêndio ou uma praga, não como resultado de um processo constante de construção ao longo do tempo. Talvez, termine nesta eleição, ou simplesmente continue ganhando força;.

Sobre o avanço de Haddad na reta final da campanha, ele disse que isso se deve ao fato de ;Lula da Silva ocupar um lugar especial na história do Brasil;. Segundo ele, ;se Haddad vencer a eleição, será mais uma vitória de Lula, não do PT. O papel do PT nas próximas semanas é garantir que todos os brasileiros saibam que votar em Haddad é um voto para Lula e sua marca de política e liderança;.

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