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Ex-braço-direito de Palocci afirma que nunca retirou valores na Odebrecht

Brani, como é conhecido, disse que "jamais, em tempo algum", retirou valores na empreiteira

Agência Estado
postado em 09/10/2018 14:17

Fachada sede administrativa Odebrecht

Branislav Kontic, antigo aliado do ex-ministro Antônio Palocci (governos Lula e Dilma), reagiu enfaticamente às suspeitas de investigadores da Operação Lava Jato que lhe atribuem o papel de sacador de propinas em espécie na sede da Odebrecht, em São Paulo. Brani, como é conhecido, disse que "jamais, em tempo algum", retirou valores na empreiteira.

"Posso ter ido (à empreiteira) em uma ou outra ocasião em visita de consultas do sr. Alexandrino (Alencar, diretor de Relações Institucionais) sobre outros problemas, de ordem tributária envolvendo esse negócio, mas o assunto principal foi esse", afirmou Brani, referindo-se uma demanda da Projeto Ltda, de Palocci.

"Recordo de uma razão relevante que me levou algumas vezes à Odebrecht no ano de 2014", relatou Brani. "Nesse período, a Projeto Ltda. foi contratada por uma determinada empresa da área de distribuição e armazenagem de óleo para dirimir um contencioso com uma das empresas integrantes do Grupo Odebrecht no Espírito Santo."

Os investigadores da Lava Jato alegam que já têm os registros oficiais das "visitas" que Brani fez à Odebrecht, naquele ano. São seis registros de entrada e saída de Brani na empresa no mesmo ano em que a Lava Jato foi deflagrada, em 2014. Só os dois primeiros, em 8 de janeiro, são anteriores à deflagração das investigações, em 17 de março.

No dia 8, Branislav entrou com um crachá de "visitante" às 11h50 e saiu às 12h08. No mesmo dia, ele entrou às 14h50 e saiu às 15h08, desta vez com um crachá de "parceiro". As outras visitas teriam ocorrido nos dias 24 de abril, 12 de maio e 27 de agosto.

Nesta última data, constam dois registros de entrada e saída - a primeira com crachá de "visitante" às 11h20 e saída às 12h02 e depois como "parceiro" às 14h21 e saída às 15h02.

Os documentos foram solicitados à Odebrecht pela Polícia Federal, que fechou acordo de delação premiada com Palocci em junho passado.

Palocci e Brani foram alvos da Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato, em setembro de 2016. O juiz Sérgio Moro condenou o ex-ministro a 12 anos e dois meses de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Brani foi absolvido.

O caso está agora sob análise do Tribunal Regional Federal da 4; Região (TRF-4, o Tribunal da Lava Jato), que julga os recursos contra as decisões de Moro.

O antigo colaborador de Palocci relata que dois dos sócios do ex-ministro na Projeto Ltda, "ambos profissionais egressos do mercado financeiro (André Palocci e Adrian Ortega), foram contatados pela empresa da área de distribuição e armazenagem de óleo e desenvolveram a solução para o problema que acabou por implicar a venda de certos ativos deste cliente para a Odebrecht".

"Foi um trabalho profissional longo e complexo em que surgiram dúvidas e momentos de impasse", aponta Branislav Kontic. "Nesses momentos a Projeto Ltda me solicitou que fosse dialogar com o sr. Alexandrino Alencar (então dirigente da empreiteira) para que ele os ajudasse a solucionar entraves postos pelas áreas técnica e jurídica da Odebrecht, de que era diretor."

"Quanto a ter ido duas vezes num mesmo dia (à sede da empreiteira), embora não me recorde do fato, é provável que por razões de reunião que se alongou, não pude ser atendido na hora combinada", argumentou Brani.

Ele é taxativo ao dizer que "jamais, em tempo algum, tenha retirado valores (na Odebrecht)". Segundo Brani, a Planilha "Italiano" - documento da empreiteira com registros de supostos repasses a políticos e ao PT - "não reporta movimentação alguma no ano de 2014".

"Não recordo de detalhes da questão, pois o problema estava em geral explicitado em textos e recomendações dos dois sócios que atuavam na transação", segue Brani. "Apenas fui encarregado de transmiti-los. Resultou disso que a operação foi bem sucedida e tomou boa parte daquele ano de 2014."

Brani diz que "não se lembra" da razão social da empresa capixaba, mas diz que "foi um trabalho ao qual se dedicaram com diligência os dois referidos sócios da Projeto Ltda". "Portanto, não há dificuldade em se obter nome e contrato na documentação do processo."

Ele disse estranhar que um documento de inquérito sigiloso e anexo a uma delação (de Palocci) "que aguarda a definição de benefícios, também sigiloso, vaze agora, pouco antes do seu julgamento marcado pelo TRF-4".

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