O presidente nacional do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto, afirmou nesta quarta-feira, 10, que apoiará e votará no candidato do PSL à Presidência da República nas eleições 2018, Jair Bolsonaro, no segundo turno. Pela manhã, o Democratas divulgou carta na qual libera os diretórios, líderes e militantes para "apresentarem sua manifestação de voto neste segundo turno seguindo suas convicções."
O texto institucional assinado pelo líder do DEM e coordenador da campanha do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin já indicava, pelo tom duro das críticas contra o PT, que ele apoiaria o capitão da reserva. A confirmação da sua posição individual foi anunciada na tarde desta quarta-feira, 10, em coletiva de imprensa na capital baiana, e já havia sido antecipada nos bastidores por assessores próximos.
O anúncio de apoio também foi a primeira aparição pública de Neto ao lado do candidato do DEM ao governo da Bahia, José Ronaldo, após os dois brigarem. Ainda no primeiro turno, à revelia de Neto, Ronaldo declarou voto em Jair Bolsonaro, mesmo tendo compromisso de fazer campanha para Alckmin no Estado.
"Dadas as circunstância desse segundo turno, eu irei votar em Jair Bolsonaro", afirmou ACM Neto, após um longo prólogo de justificativas, críticas ao PT e diferenciações entre ele e o capitão da reserva. Entre elas, fez questão de defender a legitimidade das urnas e afirmou que tanto Bolsonaro quanto Fernando Haddad "foram levados ao segundo turno pelo voto soberano, democrático e livre da população". Disse ainda que "aqueles que foram vencidos devem reconhecer que foram vencidos."
Crítico a algumas posições de Bolsonaro, como no debate sobre a população LGBTQI, de qual é próximo, ele aproveitou a ocasião para se diferenciar do radicalismo do candidato do PSL, deixando claro que sua posição será uma espécie de "apoio crítico". Não deixou, contudo, de reafirmar declarações antipetistas que já havia dado ao longo da campanha, ao dizer que discorda "100% do retorno do PT ao governo do Brasil."
"Eu não concordo 100% com os pensamentos, com as bandeiras e com as pregações de Bolsonaro. Eu não preciso concordar 100% com alguém para achar que essa pessoa merece meu voto no segundo turno, quando temos apenas duas alternativas", justificou, dizendo que o momento atual é "o mais importante desde a redemocratização."
"Se nós estamos há quatro anos vivendo uma gravíssima crise econômica, social, moral e política, é graças ao PT, é graças ao que Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores fizeram no nosso País, sobretudo ao estelionato eleitoral cometido em 2014. Hoje nós temos 13 milhões de desempregados no Brasil. Hoje nós temos as pessoas mais próximas como vítimas dessa crise", disse o prefeito de Salvador.
Na carta que assinou enquanto presidente do DEM para liberar os diretórios, ACM Neto afirma que seguirá "conectado com a vontade de mudança do povo brasileiro" e diz, sinalizando para a onda antipetista que tomou conta do País, que o DEM "assume o compromisso de contribuir com a construção de um novo Brasil, um País completamente diferente daquele que nos foi legado pelo PT nos últimos anos."
União
Ele defende "uma nação pacificada" e apela aos eleitores para que "os valores nacionais prevaleçam sobre interesses não republicanos que conduziram o Brasil à pior crise econômica, política, social e moral de sua história."
"Neste novo tempo que se anuncia, não cabem invasão e destruição de propriedades, e muito menos mensalão e petrolão", afirma ACM Neto no texto, pregando o fim do "toma lá, dá cá" fruto da velha política e um governo com mais responsabilidade fiscal. "É hora de enfrentar, com determinação e coragem, o desafio de soerguer o Brasil."
O apelo de unificação nacional também foi feito pelo prefeito na entrevista coletiva que concedeu. "Espero que ele possa, uma vez eleito presidente da República, trabalhar para unificar o País, trabalhar para superar esse quadro que se instalou de polarização de extremos e de posturas radicais", defendeu o presidente do DEM.
"Espero que ele tenha esse compromisso, essa responsabilidade, essa visão, para, depois de eleito, deixar para trás tudo isso. Independentemente do partido A, B ou C, que ele tenha compromisso de construir uma nova agenda política para o Brasil."
Ele ainda minimizou declarações do capitão da reserva, que afirmou que não aceitaria uma eventual derrota. "Para mim, a coisa mais importante são os fundamentos com o compromisso democrático. As palavras do candidato Jair Bolsonaro foram claras nesse sentido, do respeito à constituição federal, do respeito à democracia. Apesar de tudo que o Brasil viveu nos últimos anos, mostramos que as instituições brasileiras são firmes."
Ele insistiu em deixar claro, várias vezes durante a coletiva, que "existem divergências ideológicas e de pensamento" entre ele e Bolsonaro. O prefeito soteropolitano garantiu que não houve negociações com a candidatura do PSL sobre o apoio anunciado por ele.
O desempenho do Democratas nas eleições 2018 também foi comemorado, apesar da derrota sofrida pelo seu presidenciável, Geraldo Alckmin, nem ter chegado a disputar uma vaga no segundo turno. Na carta e na coletiva, ACM Neto limitou-se a listar que a legenda elegeu 29 deputados federais, quatro senadores e dois governadores no primeiro turno do pleito.
Segundo ele, a sigla "alcançou um expressivo crescimento, consequência de uma história de coerência e compromisso com nossos princípios e ideais", fruto que ele considera "significativos". Nas palavras do próprio ACM Neto, tais frutos surgem do "esforço que vem sendo feito desde a última convenção de refundação do partido."
Em 2014, o DEM teve o pior desempenho da sua história, não elegendo nenhum governador sequer, mas, após articulações lideradas por Neto e pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia, conseguiram reorganizar o partido internamente. Na época, chegou-se a especular a mudança do nome para Centro Democrático, o que acabou sendo descartado.
"Nós poderíamos ter procurado a sombra do poder, mas mantivemos a coerência", afirmou ACM Neto. Ele ainda justificou o porquê de não ter se pronunciado ainda no domingo, após a confirmação da derrota do seu candidato ao governo da Bahia e de Geraldo Alckmin. Disse que queria falar já com o posicionamento sobre o segundo turno presidencial tomado.
O prefeito afirmou que respeita o resultado das urnas e parabenizou "os vencedores", sem citar o nome do governador Rui Costa (PT), reeleito, do ex-ministro Jaques Wagner (PT) e do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia Ângelo Coronel (PSD), ambos senadores eleitos nas eleições 2018. "Foi o desejo do povo baiano."