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Por apoio, Haddad vai a católicos e até mesmo ao algoz do PT no mensalão

Por apoio, Haddad vai a católicos e até mesmo ao algoz do PT no mensalão

Rodolfo Costa
postado em 12/10/2018 06:00

Candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad (PT)

Atrás na corrida eleitoral, Fernando Haddad (PT) vê na fé religiosa do povo brasileiro a esperança para ultrapassar o adversário, Jair Bolsonaro (PSL). Ontem, o petista se reuniu com o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, para pedir o apoio da principal entidade católica do país. A última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira, aponta que o petista tem 47% dos votos válidos entre católicos, uma diferença de apenas seis pontos percentuais em relação ao rival. Faltando 16 dias para a eleição, a tática da campanha é mirar os grupos em que ainda pode abocanhar votos para diminuir a distância que o separa do capitão reformado do Exército.

Os católicos no Brasil são 173,6 milhões, segundo o Anuário Pontifício 2018 e o Annuarium Statisticum Ecclesiae 2016, redigidos pelo Departamento Central de Estatísticas da Igreja. Espaço para a aproximação entre PT e a Igreja Católica não falta. No primeiro turno, o presidente da CNBB e arcebispo metropolitano de Brasília, cardeal Sérgio da Rocha, disse que a Igreja não apoiaria candidatos que promovessem a violência. Na segunda-feira, após o primeiro resultado das urnas, dom Steiner sugeriu que os fiéis elejam um candidato favorável à democracia.

Os discursos dos líderes religiosos foram interpretados como acenos para a candidatura de Haddad. Na última quarta-feira, nas redes sociais, Bolsonaro adotou um tom comedido. Disse que dispensa o voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam nele. ;A este tipo de gente, peço que vote nulo ou na oposição, por coerência;, declarou, em referência ao atentado que sofreu em setembro, em Juiz de Fora (MG).

Acompanhado do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), e de Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência no primeiro governo de Dilma Rousseff, o candidato do PT pediu que a Igreja recomende aos fiéis que tenham cuidado com as fake news. ;As pessoas estão sendo bombardeadas com informações falsas na internet. Pedi que a Igreja recomende às pessoas para checar o que é verdade ou não. Se for verdade, as pessoas têm de saber. Se não for, têm de ter compromisso de barrar a mentira e a propagação;, declarou.

Em resposta, dom Steiner pediu, em caso de vitória do petista, combate rigoroso à corrupção, defesa da democracia, proteção do meio ambiente, atenção especial à questão indígena e quilombola, e que o aborto não seja legalizado. Haddad afirmou que as preocupações da igreja estão contempladas no plano de governo e que tais compromissos serão reforçados. Em nota, o secretário-geral da CNBB frisou que o candidato não foi pedir apoio e a entidade não tem ;partido nem candidato.;

O pedido feito ao secretário-geral da CNBB, segundo Haddad, tem por intuito combater os ataques que ele tem sofrido da militância de Bolsonaro, sobretudo nas redes sociais. O petista disse que são inverdades as alegações a respeito da distribuição de materiais impróprios para crianças de seis anos. ;Isso nunca aconteceu e é um desrespeito aos professores do Brasil. Veja se os professores vão receber material impróprio sobre sexualidade e usá-lo sem questionar. Isso é completamente impossível de acontecer. Mesmo que alguém tenha em isso em mente, nós temos uma rede de proteção que são as próprias escolas, diretoras, professoras;, disse.

Evangélicos

A disputa pelo público católico é uma missão mais acessível ao PT. Entre os evangélicos, a disputa é mais difícil. Na média, entre as diferentes correntes evangélicas, Haddad tem apenas 30% dos votos válidos, segundo o Datafolha. Ciente disso, Bolsonaro orientou seus interlocutores a articularem o apoio de pastores e bispos. A tendência, agora, é de que o trabalho seja reforçado, informou Coronel Tadeu (PSL-SP), um dos coordenadores da campanha do presidenciável do PSL em São Paulo.

O correligionário é braço direito do deputado Major Olimpio (PSL-SP), que foi eleito senador. Ambos estão entre os principais responsáveis pelas articulações com apoiadores civis, políticos e religiosos em São Paulo. As conversas com líderes evangélicos estão avançadas e a expectativa é de garantir votos de eleitores e suporte de legendas ligadas a religiosos, como PRB e PSC. ;As principais lideranças estão declarando apoio e mais manifestações vão surgir;, destacou. Pastores e bispos pedem voto para Bolsonaro nas redes sociais e em aplicativos de mensagens.

Aceno até ao algoz

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, esteve na quarta-feira com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, algoz de petistas envolvidos no escândalo do mensalão. O encontro ocorreu no apartamento do ex-ministro, em Brasília. Haddad estava sozinho. Segundo fontes do PT, o presidenciável convidou Barbosa para participar da campanha, apresentando propostas na área de organização do Estado, mas não se falou em participação em um eventual governo petista.

A visita gerou uma onda de especulações sobre a possibilidade de Barbosa ser convidado para assumir o Ministério da Justiça. Horas antes da visita, o senador eleito pela Bahia Jaques Wagner, recém-integrado ao núcleo duro da coordenação da campanha de Haddad, disse que o PT pode anunciar nomes de um eventual ministério para acalmar o eleitorado, entre eles o da Justiça. ;Pode ser que ele anuncie um, dois, três nomes, na Educação, Fazenda, Justiça. (...) Na Educação, pode ser que anuncie uma sumidade da Educação;, afirmou Wagner.

Relator no STF do processo do mensalão, Barbosa, que chegou a ensaiar uma candidatura presidencial pelo PSB, foi algoz de petistas, como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que cumpriram pena de prisão por envolvimento no esquema. Integrantes da cúpula petistas avaliam que a presença de Barbosa na campanha poderia reduzir o impacto do antipetismo sobre a candidatura de Haddad e sinalizar para uma parcela importante do eleitorado que a Lava-Jato e a autonomia dos órgãos de combate à corrupção estariam garantidos sob o comando do ex-ministro do STF.

Ciro Gomes

Ciro viaja e frustra o PT

Derrotado nas urnas, Ciro Gomes (PDT) embarcou ontem para o exterior com a família, e deve ficar fora do país por até duas semanas. Os planos de Ciro frustram as investidas do PT, que faz acenos ao candidato derrotado no intuito de trazê-lo para dentro da campanha petista no segundo turno das eleições.

Ao contrário do que esperava a campanha de Fernando Haddad (PT), Ciro não vai chefiar a equipe do programa econômico do petista. A ideia é que o pedetista não suba no palanque com Haddad, muito menos faça fotos para indicar o ;apoio crítico;, aprovado em reunião da Executiva nacional do PDT na última quarta-feira.

O PT pretendia insistir com Ciro para que ele integrasse a coordenação da campanha de Haddad. Nos bastidores, o convite era tratado como um primeiro passo para Ciro assumir um ministério em um eventual governo Haddad. Na campanha petista, o nome dele é citado para comandar o Planejamento ou a Fazenda.

Para se distanciar do PT, o presidente do PDT, Carlos Lupi, se antecipou e disse, na quarta-feira, que o partido vai lançar Ciro Gomes como candidato para 2022, já após o fim do segundo turno. ;Não faremos nenhuma reivindicação (ao PT). Será um voto claro, sem participação na campanha e com a certeza de que não participaremos de nenhum governo, mesmo se Haddad ganhar a eleição. Vamos começar a construir 2022 agora, já estamos decididos a lançar a candidatura de Ciro Gomes;, afirmou.

Outra forma de mandar sinais negativos ao PT foi anunciar que o PDT, independentemente de quem vença o segundo turno, estará na oposição em 2019. O motivo da resistência do PDT em se aproximar da campanha de Haddad foram os ataques que os petistas fizeram à candidatura de Ciro Gomes, durante o processo eleitoral.

Orquestrada com aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT fez uma manobra, ainda no primeiro turno, que atrapalhou as negociações de apoio do PSB à candidatura de Ciro. O caso foi encarado como uma rasteira do PT no partido. Na ocasião, os petistas retiraram candidaturas a governos estaduais para não atrapalhar nomes do PSB que disputavam os mesmos cargos. Em troca, os socialistas se comprometeram a ficarem neutros no primeiro turno, em vez de apoiarem o presidenciável do PDT.

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