Politica

Fora da disputa do 2º turno, um PSDB abatido tenta seguir de cabeça erguida

PSDB vai dividido ao segundo turno nos estados e terá de contar com novas lideranças para recuperar o eleitorado cativo de perfil centrista, perdido para o furacão Bolsonaro

Lucas Valença - Especial para o Correio
postado em 16/10/2018 05:00
Alckmin
Uma possível saída para a crise do PSDB é tema que ainda desafia os analistas do cenário eleitoral: para eles, mesmo que a política seja dinâmica e imprevisível, as dificuldades estão postas. Assim, a maneira de entender o discurso do eleitor cativo precisa ser repensada, sob pena de o partido acabar ou se tornar irrelevante. Novos quadros expressivos, como João Doria e Antônio Anastasia, que disputam o governo em São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, ainda são uma incógnita para o futuro da legenda.

Para a cientista política Rachel Meneguello, da Universidade de Campinas (Unicamp), vários pontos explicam o enfraquecimento do PSDB. A falta de renovação das lideranças não é exclusiva à legenda, analisa, mas o resultado eleitoral demonstrou um ;efeito crítico; no ninho tucano. A falta de percepção sobre a mudança do eleitorado que se localizava no centro do espectro político, mas que passou a ocupar espaço nos polos, também causou o encolhimento do partido. ;O PSDB não soube manter a força de atração centrípeta que exerceu nos últimos 25 anos;, esclarece a professora.

Rachel Meneguello ressalta também as constantes brigas internas por espaço, que acarretaram o ;definhamento; de uma das ;mais importantes forças políticas; do país. A isso se somam os casos de corrupção que atingiram integrantes da legenda. ;O partido não soube dar conta, em sua estrutura interna, de escândalos e denúncias como os de Aécio Neves;, exemplifica.

A acadêmica da Unicamp compreende que uma discussão sobre o futuro dos tucanos ;deve estar na agenda;, mas não sob liderança de João Doria, que tem se envolvido em discussões com Geraldo Alckmin, atual presidente da legenda. ;Não parece plausível que uma liderança que se coloca à margem das deliberações do partido seja aquela que vai encabeçar a sua reformulação. Se assim for, não será uma reformulação, mas a formatação de um novo partido;, afirma.

O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), entende que a estratégia ;defeituosa; do PSDB nos últimos anos se intensificou pela falta de interesse e pela dificuldade de interpretar os movimentos de rua de 2013 em diante. Com isso, o partido perdeu votos para um candidato mais radical. ;O PSDB tinha um eleitorado cativo, de classe média, com maior nível de escolaridade. Mas esse eleitor está radicalizado. Recuperá-lo vai depender muito do desempenho do governo Bolsonaro;, entende.

Para o professor da Uerj, o enfraquecimento dos tucanos tradicionais permite a consolidação de políticos ;emergentes;, como Doria e Anastasia. ;Caso sejam eleitos, eles podem ser figuras ainda mais influentes no PSDB.;

A divisão tucana é nítida em diversos estados, explica o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Homero de Oliveira. Segundo ele, São Paulo é o expoente desse racha. O apoio de Doria a Jair Bolsonaro, já no primeiro turno da corrida presidencial, levou setores do partido a apoiar a candidatura de Márcio França (PSB) ao governo do estado. ;Doria não foi o único a expressar essa divisão. No Rio Grande do Norte e na Paraíba, tivemos candidatos que já apoiavam Bolsonaro no primeiro turno;, lembra o especialista. "O problema se deu quando Alckmin não decolou. Se o partido tem possibilidades reais de vencer, os fisiológicos continuam apoiando."

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