Agência Estado
postado em 17/10/2018 07:55
O ex-prefeito João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, dobrou a aposta no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e vai explorar ainda mais a imagem do candidato para tentar vencer a disputa no segundo turno. A estratégia dividiu o partido do capitão reformado.
O entorno do tucano ficou apreensivo após Doria viajar ao Rio na semana passada e tentar sem sucesso um encontro com Bolsonaro, que alegou mal-estar. A campanha do governador Márcio França (PSB), que disputa a reeleição, explorou o episódio nas redes sociais.
Segundo um dos estrategistas do ex-prefeito, o planejamento no segundo turno é "surfar o tsunami do capitão" e ao mesmo tempo jogar "baldes de tinta vermelha" em França, que é apresentado como esquerdista e aliado do PT.
Essa tática foi colocada em xeque após o senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo, declarar voto em França no mesmo dia que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, candidato derrotado do MDB ao governo, anunciou apoio ao atual governador.
Aliada de Doria, a jornalista Joice Hasselmann, deputada eleita pelo PSL, convenceu Bolsonaro a gravar um vídeo com uma breve declaração na qual ele deseja "sorte" ao tucano e crítica França. "No tocante ao Doria, quero agradecer o apoio dele. Eu sei que ele é oposição ao PT. Somos oposição ao PT. Eu sei que o outro, o França, tem o apoio do PT", disse o presidenciável.
O material rapidamente foi transformado em um comercial da campanha tucana, que também usou "depoimentos" de eleitores defendendo a chapa "Bolsodoria". A ideia, segundo um interlocutor do ex-prefeito, é usar esse material exaustivamente até o fim da campanha. A avaliação no entorno de Doria é que a declaração "salvou" a campanha.
A estratégia, porém, abriu um racha no PSL paulista. "Achei imoral e antiético o Doria usar esse vídeo, que só foi feito porque o Bolsonaro foi educado e elegante. O ex-prefeito fez disso uma tábua de salvação", afirmou Major Olímpio. Segundo o dirigente do PSL, Bolsonaro está neutro em São Paulo, mas a maioria dos dez deputados federais e 15 estaduais eleitos pela sigla apoiam França.
"O João (Doria) é um pouco mais à direita, enquanto o França representa que há de pior na esquerda e tem o PT atrás dele", disse Joice. Segundo a deputada eleita, o responsável pelo desgaste de Bolsonaro com o PSDB foi Geraldo Alckmin, que o atacou no primeiro turno.
Colaboração
Para rebater a ofensiva de Doria, França divulgou nas redes sociais postagens nas quais lembra que o tucano já elogiou e doou para políticos que hoje chama de "esquerdistas", como o ex-ministro José Eduardo Martins Cardozo (PT) e a atual candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, Manuela d'Ávila (PCdoB).
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo em 2016 confirmam a "colaboração" de Doria. Cardoso e Manuela receberam R$ 10 mil de Doria em 2006 e 2010, respectivamente. Neste ano, com o embate direto com França, tanto o PSB como o próprio Skaf, que declarou apoio à reeleição do atual governador, viraram "esquerdistas", segundo o tucano.
O candidato João Doria confirmou as doações e disse que, como empresário, doou também para partidos como DEM, PSDB, PP e PSD. "Como se observa, nenhuma tendência ideológica ou viés partidário. As doações são compatíveis com o comportamento de um líder empresarial, como era o caso a época", ressaltou em nota.
Ex-aliado
Gravações que registram Doria elogiando a liderança de Márcio França e declarando apoio irrestrito a ele também passaram a ser veiculadas nos programas eleitorais do PSB - em 2016, o partido de França chegou a doar R$ 25 mil à campanha do tucano. Dois anos depois, ele agora é classificado como "lobo em pele de cordeiro".
Na pré-campanha de Doria à Prefeitura em 2016, França foi escalado pelo então governador Geraldo Alckmin para comandar a articulação da formação da coligação do tucano, que conquistou o maior tempo de TV e rádio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.