Agência Estado
postado em 17/10/2018 16:28
Em ato com mais de 200 lideranças evangélicas na manhã desta quarta-feira, 17, em São Paulo, o candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, e líderes religiosos aliados ao petista tentaram desmentir as fake news difundidas nas eleições 2018. "Muitos de nossos irmãos estão sendo enganados por pastores mal intencionados ou mal informados", disse o pastor Ariovaldo Ramos, líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.
Ele abriu o evento com um trecho do evangelho que diz "nada podemos contra a verdade senão a verdade" e encerrou o ato com uma oração rogando "pelo triunfo da verdade contra a mentira". Em praticamente todas as falas, lideranças religiosas condenaram as mentiras espalhadas nas redes sociais contra o candidato do PT que tinham como público alvo o eleitorado evangélico.
Haddad distribuiu uma Carta Aberta ao Povo de Deus na qual relata sua formação religiosa - seu avô era sacerdote da Igreja Católica Ortodoxa - e também tenta esclarecer as mentiras espalhadas via WhatsApp voltadas ao público evangélico.
"Nenhum de nossos governos encaminhou ao Congresso leis inexistentes pelas quais nos atacam: legalização do aborto, kit gay, taxação de templos, proibição de culto público, escolha de sexo pelas crianças", diz o documento.
O candidato lembrou que em sua passagem pela Prefeitura de São Paulo aprovou normas que flexibilizavam as exigências legais para cultos na periferia da cidade. "Não é uma carta de conveniência", disse o petista. "Além de ter sido educado no cristianismo, escolhi abraçar o cristianismo", completou.
"Estamos tentando acordar os evangélicos para essa realidade do 'fake news', eles estão sendo enganados", disse ao Estadão/Broadcast o pastor Ariovaldo Ramos, da Comunidade Cristã Reformada, que articulou o apoio de evangélicos a Haddad. Ele aponta, no entanto, dificuldades para a campanha do petista. "Não sei se dá para reverter", comentou, ao citar o apoio articulado de grandes igrejas a Bolsonaro e o cuidado que pastores e fiéis estão tendo em se contrapor a essas lideranças.
O pastor Ariovaldo engrossou o coro dos que pedem uma autocrítica do PT após as eleições. "Eles precisam fazer uma revisão da história recente e dizer a todos os eleitores e brasileiros o que aconteceu. Mas agora não dá para fazer isso, agora é hora do embate entre a civilização e a barbárie", disse. Um dos erros de Haddad, disse o pastor, foi ter chamado o bispo Edir Macedo, da Universal do Reino de Deus, de "charlatão". "Ele não entendeu que os evangélicos se unem contra o inimigo comum. Faltou assessoria, isso não se fala nunca."
Em dois longos discursos, Haddad defendeu a separação entre Igreja e Estado, não falou especificamente sobre temas como aborto e acusou Bolsonaro de estar por trás das mentiras espalhadas contra eles, principalmente na última semana antes do primeiro turno.
"Esses dias ele soltou que eu era a favor do incesto. Ele não pensa que eu tenho uma filha de 18 anos que vai à faculdade, que tem a turma dela? Quantos votos ele ganhou com isso?", questionou. O ato reuniu mais de 200 lideranças evangélicas, principalmente de igrejas históricas como Luterana, Metodista, Batista e Presbiteriana mas também neopentecostais, sobretudo da Assembleia de Deus.
O evento teve hinos religiosos, orações, pregações e discursos de diversas lideranças, várias vezes iniciados com expressões como "salve o povo de Deus" e "na paz do senhor". No andar de baixo, uma equipe do PT gravava depoimentos das lideranças.
Haddad admitiu que o objetivo do ato, que inicialmente seria para angariar apoios no meio evangélico, acabou sendo desmentir as fake news. "Não adianta ganhar no tribunal se as pessoas que foram expostas às mentiras não ficarem sabendo da verdade", disse ele.
Segundo o ex-ministro Gilberto Carvalho, a ideia é repetir encontros semelhantes em vários Estados com a presença de lideranças petistas. "Em tese não deveria ser isso. Deveria ser para firmar parcerias, por uma agenda positiva. Mas, dada a conjuntura, não tinha como não darmos um destaque para isso", disse ele.
A campanha do PT avalia que as mentiras espalhadas pelas redes sociais quase levaram Bolsonaro a uma vitória no primeiro turno e são o principal adversário de Haddad na segunda etapa da campanha.