Paloma Oliveto
postado em 18/10/2018 18:52
Os resultados das pesquisas eleitorais que apontam a provável vitória de Jair Bolsonaro (PSL) em 28 de outubro assustam intelectuais estrangeiros, que veem no capitão da reserva uma ameça à democracia e mesmo uma possibilidade real da volta da ditadura militar. Dois textos divulgados por pesquisadores e professores de instituições como as universidades de Harvard, Yale, Brown e Oxford repudiam a ascensão da extrema-direita e do conservadorismo no Brasil e manifestam preocupação com retrocessos de direitos conquistados das últimas décadas. Uma das publicações, assinada por 21 acadêmicos e pela Associação Norte-Americana de História, dirige-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pede que ele "assuma uma posição pública forte e explícita contra as aspirações presidenciais de Jair Bolsonaro".
A outra declaração leva a assinatura de mais de 1 mil acadêmicos de 200 universidades em 38 estados norte-americanos. "Bolsonaro representa o retrocesso total em todas as conquistas pela luta contra a ditadura. Nós, que estudamos o Brasil nos Estados Unidos e amamos o país, estamos muito preocupados. Não conheço um acadêmico que não esteja assustado", conta o historiador James N. Green, professor da Universidade de Brown, especialista em estudos da América Latina. "Baseados no conhecimento que temos da história do país, acreditamos que ele representa um grande perigo", afirma. Segundo Green, caso Bolsonaro vença as eleições, intelectuais e ativistas se reunirão em Nova York em 1; de dezembro para traçar estratégias de apoio às forças democráticas brasileiras.
O professor diz que a mídia e os cidadãos norte-americanos estão perplexos com a onda de conservadorismo no país. "Isso representa uma imagem muito negativa do Brasil e, certamente, vai afetar várias áreas, como o comércio", aposta. O temor de Green é que o país passe por um momento de perda de conquistas democráticas e pelo aumento da violência política. "Surgirá uma resistência que poderá ser reprimida brutalmente. Diante de uma polarização dessas, os militares poderão assumir o poder pelo Estado de Sítio, o que é previsto pela Constituição de 1988", diz. Na declaração, os acadêmicos dos EUA dizem que "Bolsonaro defende explicitamente a ditadura militar brasileira que governou o país de 1964-85 e elogia a tortura e os torturadores. Ele mancha os esforços pelos direitos humanos".
A carta dos cientistas sociais e historiadores internacionais a FHC também cita o candidato do PSL. "Não precisamos exagerar as intenções de Bolsonaro, pois ele mesmo as tornou absolutamente claras. Seu mandato como presidente representaria um perigo mortal para a reputação do Brasil como uma sociedade aberta e como um lugar que acolhe novas pesquisas e ideias críticas", escreveram. Em entrevistas recentes, o ex-presidente diz que não apoiará o PT no segundo turno, ao mesmo tempo em que se manifesta contrário ao capitão. "Do meu ponto de vista pessoal, o Bolsonaro representa tudo o que não gosto", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo.
;Não precisamos exagerar as intenções de Bolsonaro, pois ele mesmo as tornou absolutamente claras. Seu mandato como presidente representaria um perigo mortal para a reputação do Brasil;
Carta de cientistas e historiadores dirigida a Fernando Henrique Cardoso
FHC pouco contundente
Pelo Twitter, Fernando Henrique Cardoso escreveu, na quarta-feira, que "há ferrugem nas dobradiças da porta de apoio ao PT. Disse também que me juntarei a quem se opuser a arbitrariedades do futuro governo, se tentar praticá-las. Sem eleitoralismo, com coerência, sou pela Constituição, por maior igualdade". Para o historiador James N. Green, professor da Universidade de Brown, FHC deveria ser mais contundente. "Não há espaço para neutralidade nessa eleição. A história vai julgar as pessoas que não se posicionarem. Espero que o professor e colega FHC tome a decisão de apoiar o candidato que está em segundo lugar nas pesquisas."
Moradora de Nova Jérsei, a professora Ana Cláudia Siqueira Dias, 30 anos, diz que as manifestações de intelectuais e acadêmicos reforça movimentos da sociedade civil contra o candidato do PSL. "Isso dá credibilidade ao movimento #elenão, quebra a ideia que alguns querem espalhar de que não temos embasamento nem fundamento", diz ela, uma das organizadoras do Mulheres no Exterior Contra Bolsonaro. No sábado, várias cidades norte-americanas, incluindo Nova York, protagonizarão atos públicos. Também haverá manifestações entre até domingo em cidades da Alemanha, Argentina, Bolívia, Colômbia, Dinamarca, Escócia, Espanha, França, Holanda, República Tcheca, Inglaterra, Itália, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e em Israel.