Politica

Caciques da velha política ensaiam aproximação com Bolsonaro

Políticos habituados a frequentar os círculos mais altos do governo há muitos anos já estão se articulando para se aproximar do candidato que, segundo as últimas pesquisas, é favorito para assumir a Presidência

Rodolfo Costa , Alessandra Azevedo, Bernardo Bittar
postado em 19/10/2018 06:00

Gilberto Kassab, ministro da Ciência e Tecnologia, teria procurado pessoalmente a equipe de Bolsonaro para apoiar o candidato
Em busca de sobrevivência, os caciques que não se reelegeram começam a se articular rumo ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). O capitão da reserva é apontado nas pesquisas como o favorito no segundo turno ; no levantamento do Datafolha, ontem, alcançou 59%, contra 41% do petista Fernando Haddad (Leia matéria abaixo). Durante a campanha, Bolsonaro disse que não distribuiria cargos aos velhos políticos. Ainda assim, pode acabar se rendendo ao habitual ;toma lá, dá cá;, em busca de governabilidade.

Um dos interessados em ajudar nessa tarefa é o ministro Gilberto Kassab, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, do PSD. Embora oficialmente o partido, que apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno, tenha liberado os diretórios, Kassab foi pessoalmente atrás da equipe de Bolsonaro para avisar que está com ele. Dois dias após o resultado do primeiro turno, o ministro jantou com o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para tratar do assunto. Lorenzoni é braço direito e principal articulador de Bolsonaro, já praticamente garantido como ministro da Casa Civil em um eventual governo do capitão.

A liberação do PSD é explicada pelo mesmo sentimento que leva alguns políticos a procurar Bolsonaro no segundo turno: em alguns estados, eles se aliam ao PT, que tem mais votos. Esse é o motivo pelo qual o PR também liberou a bancada, mesmo sabendo que caciques da sigla, como Valdemar Costa Neto, torcem pela vitória do capitão. ;Na Bahia, por exemplo, o partido não vai apoiar o Bolsonaro por uma razão singela: o PR da Bahia é PT, porque é o mais forte de lá;, disse uma pessoa próxima a Valdemar. O ex-deputado e comandante do PR, condenado no Mensalão, acena para o PSL com promessa de fidelidade em troca de apoio para a candidatura de Capitão Augusto (PR-SP) à Presidência da Câmara dos Deputados.

O mesmo ocorre com o PTB, do deputado cassado Roberto Jefferson, que foi rápido ao garantir apoio ao presidenciável no segundo turno. As negociações com o atual governo quase renderam à filha dele, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), o Ministério do Trabalho. Agora, ele faz intensas campanhas pró-Bolsonaro nas redes sociais.

Também entra na lista dos articuladores o presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR). Todo-poderoso em todos os governos durante décadas ; de Fernando Henrique Cardoso, passando por Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer ; e sem ter conquistado a reeleição, Jucá tem marcado encontros em Brasília a fim de se manter no próximo governo. ;Ele quer sobreviver. Entende muito de política e de regimento, sabe articular e consegue fazer as coisas acontecerem com um raro perfil conciliador que é eficaz;, explicam aliados. Não há indícios de que o senador tenha procurado a equipe de Bolsonaro, mas, para os conselheiros mais próximos, pode acontecer. ;Ele vai encontrar uma saída.;

O pastor Everaldo, presidente do PSC, é outro que se aproximou do capitão reformado no segundo turno. As legendas negam condicionar apoio a Bolsonaro em troca de cargos. O suporte está em linha com os pensamentos defendidos pelo candidato, diz um interlocutor do PSC. ;Temos princípios que se assimilam às ideias dele, e não de Haddad. Da nossa parte, não houve negociações de cargos. Se algum de nossos filiados for escolhido para ocupar um cargo, será por competência e profissionalismo;, ponderou.

Romero Jucá habita as esferas do poder nas últimas décadas e, segundo os bastidores, quer se manter próximo ao governo

Políticos profissionais

Para o professor de ciência política da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Guilherme Silva Prado, ;essa movimentação é latente entre os políticos profissionais, cuja ideologia se alinha com qualquer governo, desde que haja um cargo à sua espera;. O especialista acredita que ex-parlamentares, ex-governadores e presidentes de partidos terão chance de colher os frutos de acordos bem fechados. ;O governo precisa de aliados. Isso é aliança, articulação de bastidor;, detalhou.

Um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, Coronel Tadeu (PSL-SP) admite que o partido busca apoio de outras bancadas. Mas assegura que as conversas se dão no campo de propostas e ideias em comum. ;O apoio é bem-vindo. Não ficaremos sozinhos nunca. Mas as conversas vão se dar em alto nível, não no ;toma lá, dá cá;;, declarou. Ciente do interesse de mandachuvas de outras legendas, o PSL traça uma estratégia para evitar passar uma imagem que desagrade aos eleitores. A tática é articular apoio com a base das legendas e evitar o contato com caciques, como Valdemar e Jucá. ;Há políticos honestos que se identificam conosco, e iremos dialogar. Vamos deixar muito líder batendo cabeça e falando com as paredes. O fisiologismo não terá vez;, garantiu Tadeu.

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