Politica

Artigo: o lado mais covarde

Anderson Costolli
postado em 20/10/2018 07:00
Gustavo me mandou mensagem cedo, na última quinta-feira. Estava com taquicardia, nervoso, trêmulo. Ouvira dizer que o casamento entre pessoas de mesmo sexo, direito conquistado a duras penas por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), seria banida. Anne publicou nas redes sociais um vídeo, onde aparece chorando, em um nítido ataque de pânico. Passou a temer pela própria vida mais do que nunca. Não anda mais sozinha ; nem de dia. Seu maior medo é ser estuprada a caminho de casa, no Entorno do DF, para onde volta todo dia, tarde da noite, após um dia de trabalho, no Plano Piloto. No WhatsApp, diversos grupos foram criados para denúncias de violência física e psicológica contra pessoas da comunidade LGBTIs. Ali, o medo é o sentimento que une essas pessoas. A rotina tem sido essa, para milhares de brasileiros.

O LGBT brasileiro está careca de saber dos perigos que corre, simplesmente por existir. Não é de hoje. Segundo o último levantamento divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos, o número de denúncias relacionadas à comunidade gay é maior nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2017, o primeiro contabilizou 260 casos, seguidos pelas 181 ocorrências registradas no estado fluminense. O Distrito Federal também aparece na pesquisa. Para fins comparativos, em uma taxa de denúncias por 100 mil habitantes, nota-se que o DF é a unidade da federação com o maior quantitativo de denúncias de violência de gênero, uma taxa de 2,02 no ano de 2017. A incidência predominante é de violência psicológica, seguida de discriminação e, depois, agressões física.

Fato que, quando o assunto é violência, nenhuma é bem-vinda. Nunca. Contra ninguém. Diversas pessoas acreditam que o termo homofobia se resume e mimimi, coitadismo, etc. Mas, alguma vez na vida você já tentou se colocar no lugar de alguém que consegue irritar por, simplesmente, estar de mãos dadas com outra pessoa? Já cogitou a possibilidade de receber olhares raivosos, ouvir piadas (nada engraçadas), e se sentir ameaçado diariamente? Diante dessas reações, o medo é inevitável.

Independe de eleições. Independe de quem vai ganhar nas urnas no próximo dia 28. A verdade é que o respeito passou da hora de ser obrigação na rotina do brasileiro. A tolerância, o diálogo. Aceitar que há pessoas diferentes no mundo e que, nem por isso, elas merecem apanhar ou morrer, por não serem como você é. Você pode até não concordar com nada do que o seu vizinho gay faz da vida dele. Mas partir para a violência (seja ela qual for) não te faz melhor do que ele. Muito pelo contrário: expõe o seu lado mais covarde.

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