Politica

Só erro de Bolsonaro pode dar chance a Haddad, avaliam especialistas

Para especialistas, antipetismo impede mudança no quadro. Eles veem acerto na estratégia do PSL de evitar debates

Lucas Valença - Especial para o Correio, Jorge Vasconcelos
postado em 21/10/2018 08:00
O capitão reformado do Exército está entrincheirado. Ataca e se defende pelas redes sociais

Na reta final da eleição, a cautela nas campanhas de Fernando Haddad, do PT, e de Jair Bolsonaro, do PSL, se intensificará. Especialistas explicam, no entanto, que o cuidado deve ser maior por parte do capitão reformado, já que lidera as pesquisas. Só que o antipetismo se mantém forte e o pouco tempo de campanha que resta tende a ser insuficiente para o petista reverter o quadro.

Na avaliação do professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Victor Trujillo, a estratégia de Bolsonaro, para esta reta final, deve continuar a mesma até o resultado do pleito. Ele explica que a decisão do presidenciável de deixar de ir aos debates é o correto a se fazer, do ponto de vista da campanha. ;Há pouco tempo e a ausência dos debates criou uma trincheira para o Bolsonaro;, diz.

Essa barreira se formou a partir do fortalecimento da militância e do isolamento do candidato na dianteira das pesquisas. É por meio das redes sociais que Bolsonaro se comunica com o público. Desfere ataques em uma live, com ambiente controlado e sem contraditório, esclarece o professor. ;No momento em que ele vai ao debate, se torna apenas um candidato, menor do que uma parcela dos eleitores o idealizaram;, acredita.
Fernando Haddad corre o risco de perder mais eleitores caso se distancie do ex-presidente Lula

Segundo o pesquisador, o Bolsonaro em que parcela do eleitorado está votando é um candidato ;idealizado;, fortalecido pelo imaginário da população. Não ir aos debates se torna importante nesse aspecto, já que, ao comparecer, se tornaria de ;carne e osso;.

É no debate que o eleitor vai ver o presidenciável cometer erros e se mostrar mais humano. Por enquanto, o professor avalia que ele tem sido visto como um ;super-homem;. ;Ele se entrincheirou, está no buraco, e como é que o Haddad vai fazer para tirar ele de lá? Está cada vez mais difícil trazer esse ;mito; para a realidade;, avalia.


Fato novo

Esperar um fato novo que prejudique o capitão reformado é a única chance de Haddad na disputa, defende o acadêmico. Para ele, Bolsonaro está em uma situação de conforto, acomodado e com quase 60% dos votos. Mas, para virar o jogo, não bastará uma estratégia ;milagrosa; do petista. ;Depende mais de um erro do Bolsonaro do que de uma estratégia mirabolante do PT;.

Victor Trujillo ressalta que a estratégia petista foi eficiente até certo ponto, mas chegou ao teto. Segundo ele, Haddad tem hoje nas pesquisas ; em torno de 41% das intenções de voto ;, pouco mais do que o ex-presidente Lula apresentava antes de ser retirado da disputa ; 39%. ;O risco de Haddad se distanciar de Lula e do PT é justamente perder o que ele já tem. Quando se muda muito a campanha, você muda com o objetivo de conquistar os eleitores que ainda não votam em você. Mas há o risco de perder o eleitorado já obtido;, lembra.

Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB) lembra que o ex-militar possui um ;grande percentual; do eleitorado comprometido com ele. Assim, o número de eleitores que possam vir a mudar de voto talvez não seja expressivo ao ponto de mudar o rumo da eleição. ;O antipetismo é um fenômeno com múltiplas causas;, enfatiza.

Várias são as razões dessa rejeição ao PT, conta o professor. A primeira se deu pelos erros políticos cometidos pela legenda. Outro fator importante é o marketing político digital, impulsionado pelas novas tecnologias, e que ajudaram a ;demonizar; o partido.

A desilusão popular com o sistema político, que reforçou o desejo de mudança e criou um ambiente contra Haddad, também é uma causa ressaltada pelo pesquisador. ;O Estado passou a ser percebido como um inimigo do povo, e não um agente que promove o bem-estar e o desenvolvimento. Isso privilegia quem promete mudanças e assume posturas mais populistas;, acredita.

;O Estado passou a ser percebido como um inimigo do povo, e não um agente que promove o bem-estar e o desenvolvimento. Isso privilegia quem promete mudanças e assume posturas mais populistas;
Paulo Calmon, cientista político da UnB

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