Um deles nunca esteve tanto nas ruas, nem o outro jamais esteve tão próximo da internet ; seja na campanha, seja nas denúncias de fake news. Os dois presidenciáveis que disputam no domingo o segundo turno, Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), começaram o 9 de outubro com mudanças nas propostas e acenos ao centro, para angariar o máximo possível de apoio na reta final. Certo da vitória, o capitão reformado do Exército, que se recupera de um atentado à faca, adotou a estratégia de não participar de debates e preferiu se comunicar com os eleitores pelas redes sociais. Já o petista partiu para o ataque: chamou o oponente de covarde e fez questão de ir às ruas promover atos e de participar de entrevistas.
No programa de governo, Haddad tirou do papel a ideia de convocar uma Assembleia Constituinte. Bolsonaro sinalizou que não vai tocar nos servidores públicos, em uma eventual reforma da Previdência, e fez recuos em relação à composição da Esplanada: disse que manterá o Ministério da Indústria e Comércio, atendendo a pedidos de representantes do setor industrial, e admitiu que há ;um certo atrito; sobre a fusão entre as pastas da Agricultura e do Meio Ambiente.
Apesar das mudanças, especialistas destacam dois pontos que efetivamente repercutiram na disputa, nos últimos dias. Um foi a denúncia de que empresários simpáticos a Bolsonaro pagaram pelo impulsionamento de mensagens contra PT. Outro foi uma fala do deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato, sobre a suposta facilidade de fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). Bastaria ;mandar um soldado e um cabo;, disse o parlamentar, em palestra gravada há quatro meses e exibida nas redes no último domingo. As palavras foram rechaçadas por ministros do STF.
No mesmo dia, em discurso que fez pela internet para os simpatizantes que se manifestavam em São Paulo, o próprio presidenciável proclamou que os ;marginais vermelhos serão banidos do país;. Até então, Bolsonaro mantinha trajetória de alta nas intenções de voto. As últimas pesquisas Datafolha e Ibope ; divulgadas, respectivamente, ontem e terça-feira ; mostraram crescimento da rejeição ao candidato. Em movimento complementar, o apoio eleitoral ao petista subiu, derrubando a distância entre os dois.
Sem aliados
Fernando Haddad também sofreu fortes baques no segundo turno, apesar da ligeira recuperação. Um deles foi o fato de que, mesmo com as mudanças no plano de governo, o PT não conseguiu atrair na medida em que gostaria eleitores e lideranças políticas do centro. ;Houve dificuldade em angariar um leque maior de apoios. No fundo, a diferença em relação ao primeiro turno foi quase zero;, explicou o analista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva. Pouco adiantou, inclusive, o candidato se afastar da figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Ciro Gomes (PDT), terceiro colado no primeiro turno e cotado para ser o aliado mais importante do petista no duelo com Bolsonaro, protagonizou um dos momentos mais simbólicos das últimas semanas, quando anunciou o apoio crítico ao petista e viajou para a Europa, na quinta-feira seguinte à votação, sem dizer mais nada. ;A expectativa do PT era de que ele se envolvesse na campanha, que militasse pelo Haddad. Mas ele não fez isso, e não faria, depois de o PT ter atrapalhado a candidatura dele;, avalia o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Marina Silva (Rede) só declarou o voto em Haddad nesta semana.
Embora Bolsonaro tenha se saído melhor na largada, o petista conseguiu mais apoio de intelectuais e artistas, como Caetano Veloso e Chico Buarque. Mas quem chamou a atenção, nos atos da campanha petista, foram o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) e o rap-per Mano Brown. A frase que mais viralizou, nas últimas semanas, foi ;o Lula está preso, babaca;, dita pelo irmão de Ciro Gomes a militantes petistas. Na última terça-feira, no ato pró-Haddad no Rio de Janeiro, Mano Brown disse que ;a comunicação é alma, e, se não está falando a língua do povo, vai perder mesmo;.
Apesar das decepções, o PT teve boas surpresas. Embora timidamente, alguns tucanos ficaram preocupados com a ascensão de Bolsonaro. Após as falas polêmicas do candidato do PSL sobre ;banir; a oposição, o ex-presidente do PSDB Alberto Goldman disse que não quer ;pagar para ver; e anunciou que votará em Haddad, ;contra os meus princípios e contra todos esses anos de luta contra o PT;.