Politica

Opinião: Velhos amigos, novos inimigos

Diante da polarização política brasileira, o tempo está fechando e uma ventania vem por aí

Anderson Costolli
postado em 27/10/2018 20:18

Diante da polarização política brasileira, o tempo está fechando e uma ventania vem por aí

Amanhã é o dia D, em que 147,3 milhões de eleitores vão às urnas. Sabe-se lá o resultado, apesar de as pesquisas apontarem para o favoritismo do candidato do PSL, Jair Bolsonaro. E nas ruas, qual será o resultado? A vontade, hoje, era de evitar o assunto. Não escrever sobre o tema. Não ler sobre isso. Tentar um ;sábado detox;. Utopia! Diante da polarização em que nos encontramos, pedir por calmaria, às vésperas de um furacão, é sim pedir demais. O tempo está fechando e uma ventania vem por aí.

Apesar dos desafetos, construídos lentamente ao longo dos 72 dias de campanha eleitoral, seria demais pedir que a paz vencesse, pelo menos nos círculos mais íntimos de convívio? Ao que tudo indica, sim, seria. Vai além do possível. Ninguém conversa como antes. Amigos de longa data preferem se afastar. Optam impreterivelmente pela frieza e pelo silêncio, em vez de darem-se as mãos e argumentarem inteligentemente a favor do seu candidato ao Planalto.

O domingo me preocupa, é verdade. A fúria dos perdedores, sem dúvida, vai às ruas. Vai às redes sociais, onde todos são corajosos e cheios de marra. A violência física, lamentavelmente, pode dar as caras. E, perceba: não estou falando aqui de candidato A ou B. Ambas as torcidas, quando fanáticas e cegas, são capazes de apodrecer um discurso e evoluir para o corpo a corpo.

Uma possível onda de violência não sai da minha cabeça. E, apesar de o dia das eleições ser preocupante, meu medo maior começa na segunda-feira. Que, no dia seguinte aos resultados, o sol não volte a brilhar. Na segunda, na terça, na quarta-feira... Na ceia de Natal, nas festas de ano-novo. Em 2019, 2020... O temor é que a raiva faça morada sem data para acabar. Sem hora para partir. E que velhos amigos se tornem inimigos mortais.

As ofensas não poderão ser retiradas. O discurso de ódio proferido contra o outro jamais será esquecido. E é possível que nos vejamos sozinhos, justamente quando mais precisaríamos da segurança de um ombro amigo.

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