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Saiba como será o futuro do PT após a derrota nas urnas

Partido, que ocupou a Presidência da República por mais de 13 anos, viu sua forte militância e sua força social, comandadas por Lula, sofrerem desgastes com os escândalos de corrupção

Rosana Hessel, Camilla Venosa - Especial para o Correio
postado em 29/10/2018 06:00
Decepção entre simpatizantes petistas com a derrota na eleição presidencial: partido busca novas lideranças para o caminho até 2022
Após se confirmar nas urnas, a derrota de Fernando Haddad (PT) aponta um novo cenário para o futuro do Partido dos Trabalhadores, que alcançou 44,7% dos votos válidos, contra 55,3% de Jair Bolsonaro (PSL). O PT, que ocupou a Presidência da República por mais de 13 anos, viu sua forte militância e sua força social, comandadas por Lula, sofrerem desgastes com os escândalos de corrupção envolvendo políticos e empresários ligados à legenda. Analistas acreditam que o partido deverá passar por uma reformulação, aprofundando mudanças iniciadas após o impeachment de Dilma Rousseff, como o afastamento de filiados investigados na Operação Lava-Jato e o investimento em lideranças que tenham bom diálogo com a sociedade.

Fernando Haddad, por exemplo, é cotado para assumir um cargo de relevância na sigla e ficará como reserva técnica para 2022. Caso não surja no PT um candidato com perfil mais adequado para lutar pelo Planalto, daqui a quatro anos, o professor universitário poderá tentar uma nova campanha. Para um especialista que acompanha de perto os bastidores petistas, só depois das próximas disputas municipais será definido o perfil do presidenciável de 2022. ;O partido só terá condições objetivas de saber suas chances de vencer as próximas eleições para presidente depois das municipais de 2020;, afirmou o especialista, que não quis se identificar.

A partir de hoje, o PT começa o processo de construção da oposição ao governo Bolsonaro. Por ter recebido mais de 47 milhões de votos, a sigla sai das urnas com força para liderar o bloco, mesmo tendo sido derrotada. Mas, para garantir a hegemonia no campo oposicionista, será necessário sair do isolamento criado no primeiro turno em relação a outros partidos, como o PDT, de Ciro Gomes. Para Leandro Consentino, cientista político do Insper, o partido terá de reconquistar aliados, se quiser comandar a frente contra o novo presidente. ;O PT tem a pretensão de liderar a oposição, mas acabou desagradando muitos partidos da esquerda ao defender mais uma vitória do próprio PT do que uma vitória da esquerda;, explica o professor.

A Câmara dos Deputados é outra questão relevante para as alianças do partido, que ficou apenas com o PCdoB. O aliado de esquerda elegeu nove parlamentares, mas não atingiu o percentual de votos exigido pela cláusula de desempenho e poderá ficar limitado em sua atuação no Congresso. Por isso, é essencial para o PT restabelecer articulações com as forças ideologicamente próximas. De acordo com a professora titular do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas Rachel Meneguello, caberá à legenda de Haddad negociar acordos para fortalecer suas posições. ;Se o PT será a ponta da articulação da esquerda, terá de falar com todos os partidos. Dá para saber que haverá uma maioria de centro e de direita. Então, o partido terá de fortalecer alianças;, comenta Meneguello.

Volta às origens

Na avaliação do economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), o PT, que elegeu a maior bancada na Câmara, com 56 integrantes, voltará às origens, o que pode ajudar a pôr freio a possíveis medidas autoritárias que possam vir da maioria governista. ;O PT se mostrou um mau gestor, pois a crise fiscal é resultado da má administração de seus governos. Mas ele sempre foi um bom partido na oposição, pois fiscalizava quem estava na situação;, comparou.

Especialistas acreditam que, dependendo da matéria em tramitação no Congresso, o partido pode até buscar alianças informais com antigos adversários. O PT procurará assumir o papel de oposição consistente, mas poderá encontrar reforços condicionados ao tema em votação ; por exemplo, com o PSDB, que tem parlamentares das alas democrática e conservadora. A professora Rachel Meneguello acredita que assuntos que remetem a grandes conquistas nacionais devem ser pauta comum entre antigos rivais. ;Para algumas questões que fazem parte da história do PT e do PSDB, como a Constituição e a democracia, eles podem criar alianças, mas tudo vai depender de quem vai fazer essa articulação e da importância da matéria;, diz. Mesmo com a derrota na disputa presidencial, o PT saiu melhor das eleições do que os rivais tucanos, considerados entre os maiores perdedores, mesmo com a vitória de João Dória (PSDB) no governo de São Paulo.

Alguns integrantes da legenda acreditam que, para caminhar para o futuro, o Partido dos Trabalhadores deverá assumir mudanças significativas. Segundo eles, a primeira medida seria demonstrar que mudou os paradigmas éticos e morais, ao não colocar no governo pessoas associadas à corrupção, inclusive o ex-presidente Lula, sua maior liderança. Outro ponto citado por círculos do partido é assumir a necessidade de reformas sem afetar os mais vulneráveis.

;O PT tem a pretensão de liderar a oposição, mas acabou desagradando muitos partidos da esquerda;
Leandro Consentino, cientista político do Insper

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