Lucas Valença - Especial para o Correio, Bernardo Bittar
postado em 29/10/2018 06:00
A candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) parecia reunir todas as características de um nome radical demais para ser levado a sério. Além da aparente fragilidade causada pela falta de dinheiro, alianças e tempo de tevê, o presidente eleito enfrentou descompassos causados pelo próprio discurso. Chancelado pela classe média, amealhou mais de 56 milhões de votos no segundo turno. Em seu nome, o nanico PSL ; que elegeu um único parlamentar em 2014 ;, alçou novos voos. Finalizou 2018 com 52 deputados e quatro senadores eleitos. Nomes fortes começam a ser divulgados às vésperas do início de nova legislatura.
Aliados apontam Joice Hasselmann (PSL-SP) como a provável líder do partido na Câmara e Major Olímpio (PSL-SP), no Senado. Ambos cotados, talvez, para disputar até a Presidência das casas legislativas. Os mais próximos veem com desconfiança os movimentos do Centrão ; bloco formado pelo PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade ;, que busca manter Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Presidência da Câmara. ;Inicialmente, o Centrão não fechou conosco porque queria negociar o cargo. Observando nosso desempenho, querem vir para o nosso lado. Mas aí fica complicado, queremos alguém alinhado nas nossas ideias;, disse um dos conselheiros de Bolsonaro no Parlamento.
Flávio e Eduardo Bolsonaro, senador e deputado eleitos ; respectivamente ; pelo PSL no Rio de Janeiro, também devem ter papel importante na gestão do pai. ;Bolsonaro confia muito na família e nas pessoas que sempre estiveram próximas durante a trajetória dele;, confirma uma aliada. Um desses nomes é o do Major Olímpio (PSL-SP). O senador eleito deixou o Solidariedade ; e, portanto, deu as costas ao Centrão ; quando Bolsonaro saiu do PSC rumo ao PSL e à candidatura ao Planalto.
Para Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice Consultoria, a base inicial de Bolsonaro terá 300 parlamentares. ;Uns 260 deputados e 20 senadores.; A aposta do especialista faz com que o novo presidente conte com a ;boa vontade; de metade do Congresso na largada. ;Será difícil aprovar medidas mais complexas, como as PECs (Propostas de Emendas à Constituição). Ainda assim, não vejo esse ;toma lá dá cá de atualmente;, explica o cientista político.
Governabilidade
Nos corredores do Congresso, o PSL é hoje comparado com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 ; o auge da sigla em questão de governabilidade e capital político, segundo especialistas. Professores explicam que, por regra, o Legislativo não costuma fazer oposição ao Executivo nos primeiros seis meses de governo. Isso sinaliza a expectativa de uma pauta minimamente única entre os Poderes. ;O presidente eleito precisa ter uma eficiente negociação com o Congresso para enfrentar essa divisão do país;, detalha o professor Geraldo Tadeu, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).Bolsonaro terá que tomar decisões difíceis e pressionar o Congresso a colaborar. Um desses desafios é ;passar; a reforma da Previdência, escanteada desde o ano passado. Impopular principalmente entre os servidores públicos, a medida poderá causar insatisfação de parte significativa do eleitorado do capitão reformado. ;Falamos disso. A ideia é fazer o melhor para o país. Todas essas questões estão sendo pensadas com muita cautela;, revela um dos assessores do presidente eleito.
Além de ter a segunda maior bancada da Câmara, o PSL terá, ainda, a maior fatia do Fundo Partidário entre todas as siglas em 2019. Cerca de R$ 110 milhões ; levando em conta o montante de R$ 888,4 milhões estipulado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor representa um aumento de 17 vezes mais do que o recebido pelo partido em 2017: R$ 6,2 milhões.
"O presidente eleito precisa ter uma eficiente negociação com o Congresso para enfrentar essa divisão do país;
Geraldo Tadeu, professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro