Plácido Fernandes
postado em 29/10/2018 20:00
O Brasil chega ao fim de um processo eleitoral em que, mostraram pesquisas, a maioria dos eleitores foi às urnas votar contra: contra Jair Bolsonaro (PSL), contra o PT de Fernando Haddad ou contra ambos. Agora, que a eleição chegou ao fim, é hora de deixar o ódio de lado, respirar fundo, pensar duas vezes e tentar conter espíritos mais exaltados. Apesar de discursos beligerantes tanto do lado de Bolsonaro quanto do de Haddad, com ataques ao STF e ameaças de golpe, não parece existir, pelo menos à primeira vista, risco real à democracia. Um exemplo disso é o comportamento das Forças Armadas, que se esforçaram para manter distância da corrida eleitoral. De forma geral, as instituições no país permanecem sólidas.
Vitorioso nas urnas, Bolsonaro tem o dever de desarmar ânimos inflamados de partidários e acenar à conciliação. Do lado da oposição, depois das cobranças feitas por Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes e Marina Silva, fica a expectativa de que o PT, enfim, faça uma autocrítica e peça sinceras desculpas ao país. Sem a política do ;nós contra eles;, gestada por Lula desde o primeiro governo, possivelmente Bolsonaro hoje nem existiria como essa força política que ressuscitou a direita no país.
Como pedem FHC, Ciro e Marina, cabe, sim, à esquerda do ;nós contra eles; fazer uma autocrítica e uma reciclagem, rever conceitos e substituir, pelo diálogo, o porrete da demonização da pessoa que pensa diferente. É urgente e necessário buscar a construção de pontos de vista comuns pela pluralidade do pensamento, pela política da inclusão, uma palavra tão cara e urgente nos dias atuais.
Caso se desarme e faça isso, muito militante de esquerda vai descobrir que solidariedade, respeito à diversidade de gênero e políticas inclusivas não são monopólio de partidos ditos progressistas. Há ;monstros; de direita que, além de trabalhar para sustentar a família, ainda encontram tempo para se engajar em projetos sociais, como o que tira gente da rua e banca, para esse indivíduo desconhecido, desde casa, comida e educação profissional até a inserção no mercado de trabalho. E essas pessoas fazem tudo isso sem alarde e sem nenhum centavo do Estado. Apenas pela consciência cidadã de ajudar a construir um mundo mais justo e fraterno.
É honesto tachar de ;fascista; quem estende a mão ao próximo sem nada exigir em troca? Ainda mais quando, na prática, o partido da ;revolução; se empenhou em evitar a emancipação dos que recebem bolsa família para não perder 40 milhões de votos? Lembram de que esse foi um dos motivos que levaram o jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, a romper com o partido?
Sem educação de qualidade, o Brasil está condenado ao atraso. É urgente a reforma do ensino. Enquanto o mundo inteiro se esforça para pôr à disposição da criança as ferramentas do conhecimento, o aprender a aprender, sobretudo na prática e de forma lúdica, aqui ainda nos empenhamos em massacrá-la com um conteudismo enciclopédico e, na maioria das vezes, inútil. Além do fiasco na educação, o país regrediu na saúde, com a volta de doenças já erradicadas, como o sarampo, a poliomelite, a rubéola... Na segurança pública, então, nem se fala. Aqui mata-se mais que em muitos países em guerra. Resta rezar para que mudanças na política do desarmamento defendida por Bolsonaro não agravem essa situação de guerra civil no país, como muitos temem. Desarme-se, capitão!