Politica

Votação da reforma da Previdência no Congresso vai ficar para 2019

Votação da reforma da Previdência deve ficar mesmo para 2019, depois que a equipe de Jair Bolsonaro decidiu priorizar relacionamento com deputados e senadores eleitos. Ao mesmo tempo, futuro governo se distancia do presidente Michel Temer

Hamilton Ferrari, Rodolfo Costa , Lucas Valença - Especial para o Correio
postado em 13/11/2018 06:00
Bolsonaro voltará a circular por Brasília nos próximos dias, quando diversas decisões devem ser tomadas, além de conversas com autoridades da capitalO governo de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), adotou uma postura de distanciamento protocolar do governo do presidente Michel Temer (MDB). Por outro lado, a prioridade da futura gestão é priorizar desde já um bom relacionamento com os parlamentares que conquistaram a reeleição. As conversas com os atuais responsáveis pela articulação política do Palácio do Planalto estão arrefecendo, e o efeito prático disso pode ser o adiamento da votação da reforma da Previdência, que deve ficar para 2019. Mesmo a votação de medidas infraconstitucionais, ou seja, que não alteram a Constituição, podem ser preteridas.

A sinalização atual da equipe política de Bolsonaro é bem diferente da postura na semana passada. Na última quarta-feira, quando ele se reuniu com Temer no Planalto, havia um entendimento de articular medidas prioritárias para o futuro governo. O diálogo, no entanto, se apresenta meramente técnico. Ontem, o secretário de Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, se encontrou com a equipe de transição e afirmou que debateram apenas ;metodologia de projeções; com a área técnica. Disse também não ter sido convidado para assumir um cargo no próximo governo. ;Esse assunto não foi discutido durante a reunião e nenhuma proposição de alternativa à reforma foi discutida comigo;, garantiu.

Detalhes

O distanciamento de Temer se dá nos detalhes. O ministro extraordinário, Onyx Lorenzoni, coordenador do governo de transição, declarou que a futura gestão começa apenas no próximo ano, ao justificar os motivos de não levar as prioridades que considera relevantes a Temer. ;O nosso governo começa no dia 1; de janeiro. Qualquer outra atitude poderia ser lida como uma prepotência do futuro governo e jamais queremos isso;, disse. O emedebista foi lembrado com frieza. ;O atual presidente do país, vocês sabem quem é, tem que cumprir sua missão até 31 de dezembro;, acrescentou.

A postura de Lorenzoni sinaliza a intenção do governo eleito em trabalhar a articulação com deputados e senadores que se reelegeram almejando o próximo ano. E isso inclui, sobretudo, a reforma da Previdência. Há um temor dentro da equipe de transição de derrota em levar adiante a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que está na Câmara, ou mesmo medidas infraconstitucionais. Um cenário que os mais próximos de Bolsonaro querem evitar a todo custo.

O coordenador do governo de transição foi advertido por parlamentares reeleitos do atual centrão e por Maia. Ontem, Lorenzoni se encontrou com o presidente da Câmara, que fez o alerta. ;O que conversamos é no sentido de podermos estreitar nosso diálogo e assegurar que a relação do futuro governo com o Parlamento foi de que, no fim de 2019, reconhecerão nosso governo como o que melhor trata deputados e senadores;, declarou.

Cenário

A ideia de adiar a reforma é uma vitória para Lorenzoni. O coordenador econômico do governo de transição, Paulo Guedes, sonha com a aprovação de ao menos parte da reforma ainda em 2018. Desde o início, Lorenzoni foi um dos mais comedidos em relação ao tema por entender que não há ambiente político para avançar em algo tão impopular como atualização das regras para aposentadoria. O martelo, no entanto, ainda não foi batido.

A palavra final sobre a reforma da Previdência será dada por Bolsonaro, que chega hoje a Brasília (Leia ao lado). ;A decisão é dele. Quase 250 deputados não tiveram reeleição. Temos um cenário complexo e sabemos que a sociedade espera uma proposta que seja duradoura, com respeito às pessoas e seja feita com calma e tranquilidade;, disse Lorenzoni.

O apreço por um bom diálogo com o Parlamento deve, igualmente, levar a equipe de transição a abrir mão de encaminhar medidas infraconstitucionais. Lorenzoni recebeu, ontem, sugestões do deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) de medidas que podem ser feitas sem alterar a Constituição. Todas serão apresentadas hoje a Bolsonaro. A tendência, no entanto, é que o encaminhamento dessas propostas sejam adiadas. A sugestão de elevar a alíquota previdenciária para servidores públicos federais de 11% para 22% não está contemplada.

Reclamação sobre a burocracia

A equipe de transição se mostrou insatisfeita com a burocracia nos trabalhos do governo de transição.
Sem citar integrantes do atual governo, Lorenzoni disse que a burocracia é ;muito grande; e se comprometeu a mudar isso. Disse que sugestões de novos integrantes precisam ser publicadas no Diário Oficial da União e, depois, a posse se dá por um documento físico, que é sucedido pelo registro do documento. ;Aí tem que vir treinar a pessoa para poder ter acesso
ao eGoverna para ter as informações. Imagina como são os procedimentos dentro dos ministérios, a comunicação? O governo tem que ser digital 100%. É uma meta que vamos perseguir;, declarou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação