O governo ainda não começou, mas o trabalho já. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, se encontrou ontem com os parlamentares eleitos pelo PSL com o objetivo de acalmar os ânimos. Alguns integrantes da legenda haviam mostrado descontentamento depois que um terceiro ministro do DEM foi escalado para a Esplanada. Na reunião, ele explicou ser coincidência que parte da equipe ministerial seja do Democratas e pediu paciência, garantindo que o governo ouvirá a todos. Mesmo assim, uma ala do partido saiu decidida a indicar um candidato próprio para a presidência da Câmara, algo que não estava nos planos do futuro chefe do Palácio do Planalto.
O deputado eleito Bibo Nunes (PSL-RS) sacramentou que o grupo lançará a pré-candidatura do presidente nacional do partido, Luciano Bivar (PE), à Presidência da Câmara. ;Temos que ter candidato. Somos a maior bancada. O (deputado e senador eleito) Major Olimpio (SP) disse e eu aplaudi, confirmando. Luciano ficou emocionado pela deferência e disse que ia estudar. Não mostrou resistência e eu o apoio;, afirmou.
A escolha por Bivar foi encampada por Olimpio e respaldada por uma ala do PSL, mas o martelo não está batido. A decisão em lançar o presidente do partido é de alguns integrantes, não do colegiado. Uma parte defende o apoio ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e outra sustenta fazer uma costura para achar o melhor nome para a disputa. Há até quem cogite lançar a própria pré-candidatura, como o deputado delegado Waldir (PSL-GO). ;Sou candidato. Somos um partido grande agora e temos que nos preparar para este novo momento, ou então, acabamos ;tratorados;;, declarou.
O momento mais acalorado da reunião ocorreu quando Waldir e Olimpio criticaram abertamente o avanço do DEM na Esplanada dos Ministérios e a falta de comunicação entre o governo de transição de Bolsonaro e os correligionários. Olimpio declarou ter tentado, sem sucesso, contato algumas dezenas de vezes com o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). A falta de diálogo foi uma das queixas principais. Olimpio afirmou que a senadora eleita Soraya Thronicke (PSL-MS) soube da indicação da conterrânea deputada Tereza Cristina (DEM) pela imprensa.
Além de Lorenzoni e Tereza, fecha o trio de indicados do DEM o deputado Luiz Henrique Mandetta, confirmado no Ministério da Saúde. Ontem, Onyx se defendeu e disse ser uma ;coincidência; ter três ministros do partido na equipe de Bolsonaro. ;Eu rompi com meu partido em termos de direção há quase dois anos para apoiar Bolsonaro, quando ninguém acreditava na vitória dele;, afirmou. O presidente nacional do DEM, ACM Neto, nega que os nomes indiquem apoio formal da sigla ao governo. ;São parlamentares que reúnem todas as condições de ocupar os cargos;, avaliou, após reunião com Bolsonaro. ;Foi uma primeira conversa institucional e, a partir daí, teremos uma série de desdobramentos;, completou.
;Bombeira;
A participação de Bolsonaro na reunião não estava prevista. A agenda encaminhada à imprensa contemplava outros encontros ao longo do dia, mas sem menções à bancada do PSL. Mas foi recomendado a marcar presença por correligionários da ala mais fiel a ele, capitaneada pela deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP). Bolsonaro foi alertado para os riscos de não apaziguar os ânimos, sob pretexto de comprometer até a governabilidade no Congresso.
Com os articuladores políticos, os futuros ministros-chefes da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno (Leia matéria abaixo), Bolsonaro mantém conversas com Maia. A ideia, diz uma ala favorável ao apoio a Maia, é dar suporte à recondução do democrata à Presidência da Câmara, sob a condição de que ele siga com o encaminhamento de reformas e projetos de interesse do governo eleito. Por ser alguém que transita bem entre o centro e até a esquerda, poderia ter a Câmara nas rédeas e abrir o caminho para a aprovação de matérias.
Bolsonaro deve ter que repensar a condução da política adotada até o momento, sob risco de perder apoio de Maia e de integrantes do Centrão, que cogitam lançar candidaturas próprias. Quem está se prontificando a ser uma ;bombeira; para apagar o incêndio interno da legenda e ajudar o presidente eleito é Hasselmann. A deputada está em conversas com líderes de outros partidos para construir um bloco suprapartidário para definir a adesão a um único pré-candidato à Presidência da Câmara e a definição de espaços na Casa.
* Estagiário sob a supervisão de Leonardo Meireles
Conselhão dará sugestões
O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, vai apresentar na próxima quarta-feira às equipes econômicas do presidente Michel Temer (MDB) e do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), sugestões sobre reforma tributária. A meta é reforçar propostas que já vêm sendo discutidas por técnicos do pesselista. Ontem, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, externou a empresários o desejo de reduzir a carga tributária de 36% para 25% em 10 anos. A reforma tributária está sendo discutida com vários especialistas da área, incluindo o consultor jurídico Everardo Maciel e o economista Bernard Appy. O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), relator da atual reforma na Câmara, participa das negociações.
;Temos que ter candidato. Somos a maior bancada. O (deputado e senador eleito) Major Olimpio (SP) disse e eu aplaudi, confirmando;
Bibo Nunes (PSL-RS), deputado federal eleito